EDITORIAIS
Números da ômicron
Folha de S. Paulo
Recordes de casos com variante expõem falta
de testes e imperativo da vacinação
Faz mais de 50 dias, o Brasil confirmava
seus primeiros caso de Covid-19 causados pela variante ômicron. Por cerca de
metade desse tempo, o país não dispôs de dados bastantes para avaliar a
evolução da epidemia. Atacados por terroristas digitais e pela incapacidade do
governo, os sites do Ministério da Saúde ficaram fora do ar.
Mas a falta de informação não foi o motivo
do novo surto de inoperância oficial. Mesmo diante de recordes
diários de contaminações, do aumento do número de internações em
UTIs e de uma quantidade de mortes que não se via desde meados de novembro
(mais de 250 por dia), não houve mobilização nacional para conter a doença.
Ao contrário, ouviu-se mais propaganda
contra a vacinação, de crianças em particular. Jair Bolsonaro chegou a dizer
que a variante era "bem-vinda" —ideia sempre infundada, orientada
pela tese da "imunidade de rebanho".
Especialistas especulam que o pico dessa
nova onda de infecções poderia ocorrer em meados de fevereiro, baseados na
evolução da doença em outros países. Entretanto o ritmo da contaminação por
aqui é desconhecido, pois até o fim da primeira semana de janeiro não havia
números confiáveis.
A julgar pelas internações em UTIs, há
indícios de que o impacto mais intenso da ômicron começou depois das festas de
fim de ano.
Em São Paulo, mais de 3.000 pessoas estavam internadas nos leitos de cuidados intensivos na semana que passou. Na média móvel de 7 dias, era o maior número de internações desta natureza desde meados de setembro de 2021.
Com ou sem informação, a partir do exemplo
de outros países e da experiência própria, era necessário fazer mais do mesmo e
mais rápido: vacinação, máscaras e testes.
Pelas evidências de filas, queixas de
laboratórios, hospitais e profissionais de saúde, faltam testes. Sem eles, fica
ainda mais difícil isolar pessoas contaminadas e conter a propagação da doença.
O número de casos é recorde, perto de 120
mil por dia, ante os 9.000 de pouco antes da chegada da ômicron, e é certamente
subestimado.
Houve relaxamento, talvez motivado pela
noção de que os males causados pela variante são mais brandos, em particular
nos vacinados. No entanto os números crescentes de internados em UTIs e de
mortes evidenciam o risco.
Além do mais, infectados podem ter sequelas
e voltam a sobrecarregar hospitais, com o que se torna um problema cuidar de
modo adequado de vítimas de outros males.
A população, felizmente, mantém a adesão
elevada às vacinas, que agora chegam às crianças —a despeito da propagação de
falsos temores por parte de Bolsonaro e suas milícias ideológicas.
Menos chineses
Folha de S. Paulo
Queda da taxa de natalidade ameaça futuro
econômico do gigante emergente
A China já é a segunda maior economia do
planeta e ostenta, há décadas, taxas espantosas de crescimento. Melhor ainda,
aproveitou os ventos favoráveis para tirar milhões de pessoas da miséria. Não
obstante, sua riqueza, quando medida em termos de PIB per capita, ainda é uma
fração da observada em países desenvolvidos.
Parece intuitivo que mais alguns anos de
prosperidade venham a reduzir a diferença. Mas não é tão simples —e o principal
motivo para isso é a demografia.
Em 2021, pelo quinto ano consecutivo, a China
registrou queda da taxa de natalidade. Pior, os nascimentos já quase
empatam com os óbitos. No ano passado, foram 10,62 milhões de bebês (uma taxa
de 7,52 por mil) contra 10,14 milhões de mortos (7,18 por mil).
O gigante emergente vive seus últimos
momentos de expansão populacional. A partir de agora, a proporção de idosos na
sociedade aumentará rapidamente.
Se a economia era favorecida pelo
incremento populacional e do capital social (a educação chinesa é, pelo menos
nos grandes centros urbanos, de alta qualidade), a situação deverá agora se
inverter.
Envelhecimento e declínio do número de
habitantes dificultam o crescimento da atividade, já que significam menor
demanda, redução da poupança das famílias e do acúmulo de capital. Até a
inovação tende a sofrer, pois haverá menos jovens nas carreiras científicas.
A direção do Partido Comunista Chinês está
obviamente atenta ao problema. Em 2015, acabou com a política do filho único,
que vigorava desde os anos 1980. Hoje, incentiva os casais a terem até três
crianças. Não está funcionando. As taxas de fecundidade seguem bem abaixo dos
2,1 necessários para manter a população estável, o que pode levar a ações mais
específicas.
Pequim já fala em reduzir os abortos sem
motivos médicos. Também já proibiu as aulas particulares —é que uma das razões
para as pessoas não terem filhos, em especial nas cidades, é o alto custo de
mantê-los.
O sistema educacional chinês é tão
competitivo que, para disputar uma vaga nas melhores universidades, não basta
ser um excelente aluno; cumpre também submeter-se a tutorias privadas.
Há dúvidas sobre quais podem ser os
próximos passos do governo chinês. Dado seu histórico de autoritarismo, porém,
não se podem descartar intromissões que violem direitos humanos.
Desafio do próximo presidente é resgatar
credibilidade fiscal
O Globo
A implosão do teto de gastos pelo governo
Jair Bolsonaro impõe um desafio ao Brasil: recuperar a credibilidade fiscal.
Com a progressiva erosão da Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF) por União,
estados e municípios, com o descumprimento contumaz — desde 2017 — da Regra de
Ouro, que veda contrair dívidas para pagar despesas correntes, e com a ruptura
do teto, o país ficou sem regra confiável capaz de, no jargão dos economistas,
“ancorar as expectativas” do mercado sobre o gasto público. Isso significa
juros mais altos, menos crescimento e mais dificuldade no combate à inflação. Várias
ideias têm sido aventadas para reparar o dano.
Os economistas Bruno Funchal e Jeferson
Bittencourt, ex-secretários do ministro Paulo Guedes que abandonaram o governo
por discordar da ruptura do teto, sugeriram criar um novo objetivo: a meta de
endividamento. O governo teria de se comprometer em manter a dívida bruta
abaixo de 60% do PIB, patamar compatível com um país como o Brasil (hoje ela
está em 81%, depois de chegar a mais de 90%). A nova meta serviria de garantia
além das regras fiscais já existentes, disciplinando a gastança.
A ideia é engenhosa, mas padece de um
problema. A dívida equivale ao estoque acumulado de tudo o que o governo
precisa pagar no futuro. Varia de acordo com a percepção da capacidade de
pagamento. Quando a confiança cai, a dívida cresce mesmo que o governo nada
faça. O crítico, por isso, é manter a percepção de solvência do Estado — que
depende mais do fluxo de dinheiro ou, em termos práticos, de uma conta de
subtração: receitas menos despesas, o célebre resultado primário.
O problema dessa conta é que ela também é
influenciada por fatores externos, cíclicos ou não recorrentes, que aumentam ou
reduzem a arrecadação em momentos de maior ou menor crescimento. Vários
economistas sugerem fazer um ajuste no número, de modo a obter o que chamam de
“resultado primário estrutural”, que reflete de modo fiel quanto o governo
gasta e arrecada. É uma meta adotada em países como Chile, Colômbia e Peru.
A Instituição Fiscal Independente (IFI),
ligada ao Senado, propôs em estudo do ano passado um método de cálculo. Mostrou
que, apesar do déficit primário de 10% do PIB em 2020, o estrutural era de
2,7%. Em outubro de 2021, caíra para 0,8% e hoje gira em torno de 0,5%. Ao
mesmo tempo, embora o Brasil tenha apresentado déficit primário desde 2014, o
estrutural é mais antigo. Data de 2010 e foi mascarado anos a fio por fatores
cíclicos.
O debate sobre a melhor meta não é novo. No
primeiro governo Lula, estava adiantada a discussão de uma proposta do
ex-ministro Delfim Netto que trocaria o resultado primário pela meta zero no
resultado nominal (que leva em conta os pagamentos de juros da dívida pública).
Era outra tentativa de controlar o endividamento, como sugerem Funchal e
Bittencourt. Foi derrubada pela então ministra Dilma Rousseff. Desde então, o
Brasil não se recuperou do déficit estrutural.
Economistas calculam que seria necessário
um superávit estrutural de 2,5% do PIB para colocar a dívida pública em
trajetória sustentável. Qualquer que seja a nova regra fiscal adotada — é
melhor que seja a mais transparente e clara possível —, é esse o tamanho do
desafio econômico do próximo presidente. Tentar escondê-lo com demagogia ou
populismo sairá mais caro.
Desmatamento recorde na Amazônia expõe
fracasso de política ambiental
O Globo
Os dados sobre desmatamento divulgados pelo
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) são tão contundentes
quanto reveladores. Comprovam a incapacidade do governo Bolsonaro de frear a
devastação em três anos de mandato. Em 2021, a Amazônia Legal perdeu 10.362
quilômetros quadrados de floresta nativa, área correspondente à metade de
Sergipe. A destruição, a maior em dez anos, é 29% superior à verificada em
2020, ano que já havia batido recorde. Ainda que dezembro tenha registrado
redução significativa no desmatamento (49%), o recuo não foi suficiente para
salvar o acumulado anual.
Não é apenas o número geral que preocupa.
Segundo o Imazon, entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal, apenas o
Amapá não apresentou aumento na devastação. Mais uma vez, o Pará lidera o
ranking das motosserras, com 4.037 quilômetros quadrados de florestas
derrubadas, ou 40% do total. O Amazonas, segundo da lista, foi o que registrou
maior crescimento na área devastada.
Evidentemente, esses números revelam o
fracasso do governo Bolsonaro em conter a devastação, apesar dos compromissos
assumidos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26),
em Glasgow, no ano passado, e das cobranças cada vez mais veementes da
comunidade internacional. De nada adiantou mudar o ministro do Meio Ambiente. É
verdade que Joaquim Leite não encarna o modelo tóxico de Ricardo Salles, mas a
política ambiental — ou a falta dela — continua sob estrita responsabilidade de
Jair Bolsonaro.
E Bolsonaro não parece nem um pouco
preocupado com danos ao meio ambiente. Prova disso foi seu discurso durante a
abertura do Circuito Agro, na segunda-feira, em que comemorou a redução no
número de multas a propriedades rurais. “Paramos de ter grandes problemas com a
questão ambiental, especialmente no tocante à multa. Tem que existir? Tem. Mas
conversamos e nós reduzimos em mais de 80% as multagens (sic) no campo”, disse.
A declaração demonstra que Bolsonaro encara
a multa ambiental como “problema”, não como instrumento para desestimular a
destruição de florestas. A multa existe porque alguém desrespeitou a lei. Não é
por acaso que, ao longo de três anos, promoveu o desmonte do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do
Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), responsáveis por multar “a
torto e a direito”, como já disse. Tirou o poder de fiscais e incensou
garimpeiros, madeireiros ilegais e grileiros. A todo momento, o governo dá a
deixa: pode desmatar à vontade, que nada acontece.
O problema não é apenas a ausência de uma
política ambiental consistente para reduzir o desmatamento, ou até mesmo a
crônica escassez de recursos orçamentários para implementá-la. Falta mesmo é
disposição para mudar o quadro. O discurso de Bolsonaro no evento de crédito
agrícola não dá esperança de que em 2022, um ano eleitoral, as motosserras se
calarão.
O mal que Lula faz à democracia
O Estado de S. Paulo.
As sondagens de intenção de voto mostram que parte do eleitorado está se esquecendo de quem é Lula. Convém recordar o que o PT fez em sua passagem pelo poder
Considerando tudo o que o PT fez e deixou
de fazer ao longo de seus 40 anos de existência – muito especialmente, no
período em que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff estiveram no Palácio
do Planalto –, uma nova candidatura petista à Presidência da República não
deveria suscitar entusiasmo na população. A legenda que supostamente seria
progressista, ética e renovadora da política percorreu um caminho muito
diferente, colecionando casos de corrupção, aparelhamento do Estado,
apropriação do público para fins privados e políticas econômicas desastradas.
No entanto, apesar de todo esse passivo,
Luiz Inácio Lula da Silva tem aparecido em primeiro lugar nas sondagens de
intenção de voto para presidente da República. Às vezes, com margem de vantagem
suficiente para a vitória em primeiro turno. Sabe-se que as eleições ainda
estão distantes no tempo e na cabeça do eleitor. As pesquisas de agora não se
prestam a prever o que vai ocorrer em outubro nas urnas. Há tempo para muitas
mudanças. De toda forma, as sondagens revelam um dado importantíssimo: parte do
eleitorado está se esquecendo de quem é Lula. Convém, portanto, resgatar essa
memória.
Para começar, o líder petista não tem
nenhuma credencial para se apresentar como o salvador da democracia. Antes de
assumir o governo federal, o PT notabilizou-se por uma oposição absolutamente
irresponsável, numa lógica de quanto pior para o País, melhor para Lula. Sem
base jurídica, apenas para criar instabilidade, o partido apresentou pedidos de
impeachment contra Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Sabotou
sistematicamente os projetos apresentados pelo Executivo. Fechada ao diálogo, a
legenda de Lula tratava tudo o que viesse do governo federal – rigorosamente
tudo: Plano Real, modernização do sistema de telefonia, criação das agências
reguladoras ou mesmo propostas de melhoria para a educação pública – como
ocasião para criar desgaste.
Depois de chegar ao Palácio do Planalto, o
PT continuou sua tradição antidemocrática. Apenas mudou de lado na mesa. São
famosos e variados os escândalos de fisiologismo do partido de Lula. O mensalão
é caso paradigmático de perversão do regime democrático, com uso de dinheiro
público para manipular a representação política.
O petrolão foi ainda mais perverso, ao
colocar toda a estrutura do Estado, incluindo estatais e empresas de capital
misto, a serviço do interesse eleitoral do partido. Não foi apenas um conjunto
de ações para desviar uma enorme quantidade de dinheiro público e privado. Todo
o esquema estava orientado a alimentar a máquina eleitoral de Lula.
Também nas relações com os grupos políticos
divergentes, Lula manteve, uma vez no poder, a mesma trilha antidemocrática.
Passou a deslegitimar toda e qualquer oposição ao seu governo, criando uma das
mais infames campanhas de incivilidade, intolerância e autoritarismo da
história nacional: a do “nós” (os virtuosos petistas) contra “eles” (todos os que
não aceitam Lula como seu salvador). O País segue ainda padecendo diariamente
dessa irresponsável divisão social, da qual, não por acaso, Lula pretende
extrair os votos para voltar à Presidência.
A atuação antidemocrática de Lula continuou
após a saída do PT do governo federal. Nos últimos anos, o líder petista
dedicou-se a desmoralizar, perante o mundo, o Estado Democrático de Direito
brasileiro. Em vez de uma defesa técnica nas várias ações penais em que se viu
envolvido, Lula promoveu verdadeira campanha difamatória contra o Judiciário,
sugerindo que, por trás de cada condenação, mesmo colegiada e amplamente
baseada em provas, havia uma conspiração (internacional!) para prejudicá-lo. A
decisão do Supremo sobre a incompetência de determinado juízo, que libertou
Lula, não torna menos grave o comportamento do ex-presidente e do PT. Ao se
apresentar como perseguido político, Lula deixa claro que não acredita nas
instituições democráticas do País.
Depois do ambiente de ameaças e de ataques
à democracia criado pelo bolsonarismo – a exigir uma resposta responsável dos
partidos e dos eleitores –, parece piada de mau gosto com o País pensar no PT
como eventual solução. Lula nunca tratou bem a democracia brasileira.
A ineficiência pública no saneamento
O Estado de S. Paulo.
Ao menos sete empresas estaduais podem
perder contratos com municípios por incapacidade econômico-financeira para
realizar investimentos
Historicamente dominado por estatais, o
setor de saneamento tem passado por uma transformação sem precedentes nos
últimos meses. Impulsionados pelo novo marco legal, em vigor desde julho de
2020, leilões realizados ao longo dos últimos meses mostraram que é possível
atrair o setor privado para atuar em uma área que expõe o tamanho das mazelas
sociais do País. A consolidação das mudanças passa pela presença de companhias
sólidas e com capacidade de realizar investimentos vultosos para que o Brasil
possa recuperar o tempo perdido. O fato de que algumas empresas públicas não
tenham condições de fazer frente a esse desafio não surpreende.
O Estado revelou que ao menos sete estatais
estaduais de saneamento correm risco de perder os contratos de prestação de
serviços no Acre, Amazonas, Maranhão, Pará, Piauí, Roraima e Tocantins. Elas
não apresentaram, até 31 de dezembro, indicadores que comprovem capacidade
econômico-financeira para cumprir as metas de atendimento e universalização
impostas pela lei. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional,
caberá aos municípios, organizados na forma de blocos regionais, avaliarem
alternativas e providências adequadas, entre elas a estruturação de parcerias
com o setor privado para garantir os investimentos necessários e a continuidade
dos serviços. Outras 15 companhias entregaram a documentação, o que não quer dizer
que estejam aptas para manter os contratos, já que as informações ainda terão
de ser validadas.
O marco do saneamento tem como ambiciosa
meta assegurar, até 2033, água potável para 99% da população. Hoje, a cobertura
alcança 84,1%, o que significa que 35 milhões de pessoas não têm acesso à água
tratada. Já o objetivo fixado na lei para coleta e tratamento de esgoto é
alcançar 90% dos brasileiros. Atualmente, o índice de cobertura é de 55%, e dos
sistemas existentes, 51% não recebem o tratamento adequado. Os piores números
estão nas Regiões Norte e Nordeste, onde atuam as sete empresas que não
apresentaram a documentação exigida pela legislação.
Atingir os compromissos propostos pelo
marco legal passa por atrair investimentos. Segundo a consultoria KPMG, o País
precisaria de ao menos R$ 750 bilhões para atingir a universalização do
saneamento. Levantar esses valores é uma tarefa praticamente impossível para
autarquias e estatais, que quase sempre dependem de aporte financeiro dos
Estados e precisam seguir regras rígidas inerentes à administração pública para
contratação de empregados e serviços. Embora a inflação tenha contribuído para
aumentar a arrecadação de impostos, a melhora no caixa gerido pelos
governadores é pontual e insuficiente para alcançar esse volume de recursos.
Até agora, as iniciativas das estatais para
driblar o marco e manter contratos firmados sem licitação com municípios têm sido
corretamente contidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em paralelo, leilões
realizados recentemente para a concessão dos serviços em municípios de Alagoas,
Espírito Santo, Amapá e Rio de Janeiro foram marcados por forte concorrência e
ágios elevados. Novas disputas são esperadas no Rio Grande do Sul e no Ceará, e
o BNDES está envolvido na estruturação de projetos em Rondônia, Sergipe e
Paraíba.
A hostilidade do cenário de 2022, com juros, inflação e energia em alta, somada às eleições, pode afetar a rentabilidade dos projetos, alertou ao Estado o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini. Concorrentes tradicionais, que já arremataram muitos projetos nos últimos meses, podem ficar mais cautelosos. A continuidade de avanços no saneamento vai depender, portanto, da melhoria das condições fiscais e da recuperação da imagem do País. Uma oportunidade está nos fundos de pensão estrangeiros, que costumam alocar recursos em ativos de infraestrutura. Eles exigem, no entanto, que as nações detenham o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco, algo que o Brasil perdeu em 2015 e que está distante de reconquistar.
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