Folha de S. Paulo
Ministro empresta jaleco à causa antivacina
e acoberta comportamento criminoso de Bolsonaro
No ano passado, a CPI da Covid radiografou
a rede de médicos e palpiteiros que aconselhavam
Jair Bolsonaro na pandemia. Sem cargo oficial, o gabinete paralelo elaborou
um programa de propagação do coronavírus, distribuição de medicamentos
ineficazes e disseminação de suspeitas falsas sobre vacinas.
Esse método deixou de funcionar de maneira
informal e se instalou oficialmente na Esplanada dos Ministérios. O médico
Marcelo Queiroga passou a exercer com desenvoltura crescente o papel de
avalista e executor da disparatada política presidencial para a pandemia.
O ministro da Saúde assumiu um destacado protagonismo nos esforços do governo para desestimular a vacinação contra a Covid. Na última semana, Queiroga relatou a ocorrência de 4 mil mortes em que há "uma comprovação" de relação com os imunizantes. Era mentira: o ministério só reconheceu essa ligação em 13 casos dos mais de 162 milhões de brasileiros vacinados.
O doutor se recusa a informar com clareza à
população que os efeitos adversos das vacinas existem, mas
são raríssimos. Prefere usar números distorcidos, meias-palavras e um
comportamento ambíguo para endossar a plataforma do chefe.
Na quinta-feira (20), Queiroga fez uma
excursão ao interior paulista com a ministra Damares Alves. Segundo ela, os
dois visitaram a família de uma menina que teve uma parada cardíaca "no
mesmo dia em que recebeu a vacina contra a Covid". Pouco tempo depois, o
Ministério da Saúde descartou
qualquer conexão entre o caso e o imunizante, mas o estrago estava
feito.
Queiroga empresta o jaleco à campanha
antivacina porque precisa do cargo para turbinar seu projeto eleitoral. Quem
ganha mais nessa relação é seu chefe. O doutor cumpre duas funções: agita a
base ideológica de que o presidente precisa para sobreviver e dá um caráter
técnico aos desatinos oficiais. Para acobertar sua conduta criminosa na
pandemia, Bolsonaro precisa repetir até o fim que a vacina não presta.
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