O Globo
A história das crises fiscais brasileiras
mostra que estes funcionaram como uma das principais variáveis de ajuste fiscal
Este ano será extremamente difícil no campo
econômico. O PIB deve ficar próximo de zero, a taxa de desemprego deve se
manter em dois dígitos e os juros devem continuar a subir para conter a
inflação resiliente. Diante desse cenário, os investimentos públicos podem
desempenhar papel importante e trazer um alento para a atividade econômica.
A edição de outubro de 2020 do Monitor
Fiscal do FMI trouxe uma extensa análise sobre a importância dos investimentos
públicos neste contexto da pandemia. Para a instituição, “o aumento do
investimento público nas economias avançadas e de mercados emergentes poderia
ajudar a reanimar a atividade econômica após o mais agudo e profundo colapso da
economia mundial na história contemporânea.” Assim, analisar os investimentos
públicos é fundamental neste contexto de fragilidade.
O FMI também avaliou o caso especifico do
Brasil, mas em 2018. Nesse estudo, o FMI constatou que o Brasil continua a
enfrentar um enorme déficit de infraestruturas, apesar de décadas de
iniciativas de investimento lideradas pelo governo nas esferas federal,
regional e local. Mas eles também constataram que não basta aumentar o nível
dos investimentos públicos. Também é preciso torná-los mais eficientes.
O diagnóstico não é muito animador. Nosso investimento público é inferior ao de nossos pares tanto em nível quanto em termos de eficiência. De acordo com a análise do FMI, entre 1995 e 2015, a média dos investimentos públicos do governo geral foi de 2% do PIB, enquanto que os países emergentes tiveram média de 6,4% do PIB.
A história das crises fiscais brasileiras
também mostra que os investimentos públicos funcionaram como uma das principais
variáveis de ajuste fiscal. De acordo com dados divulgados pelo Observatório de
Política Fiscal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas,
os investimentos públicos do governo central atingiram o mínimo histórico em
2003 —lembrando que a série inicia em 1947 —, quando ficou em 0,20% do PIB.
Após um período de recuperação desses
investimentos, que durou até 2010, os volumes investidos voltaram a declinar e
apresentaram números cada vez menores, chegando a 0,23% do PIB em 2020. Para
2021, no período de janeiro a novembro, os investimentos do governo central
foram de 0,53% do PIB.
Os governos estaduais, por sua vez,
apresentaram o menor nível de investimento da série histórica em 2019 (0,37% do
PIB), com leve recuperação para 0,45% em 2020. Já os municípios têm aumentado o
volume de investimentos desde 2017, encerrando 2020 com 0,75% do PIB.
Em 2021, de janeiro a outubro, os
investimentos e as inversões financeiras empenhadas pelos estados somaram R$
55,4 bilhões. Esse volume de empenhos corresponde a 80% da dotação inicial
(previsão inicial na Lei Orçamentária Anual) e 42,5% da dotação atualizada
(referente aos relatórios do quinto bimestre de 2021).
Esses percentuais indicam que a dotação
atualizada aumentou significativamente, passando de R$ 69,2 bilhões para R$
130,2 bilhões. Esse aumento de dotação para investimentos e inversões
financeiras, de certa forma, reflete a conjuntura fiscal dos estados em 2021.
No ano passado, no período de janeiro a
novembro, a arrecadação tributária dos governos estaduais apresentou
crescimento real de 15,1%, em relação ao mesmo período de 2020, e o superávit
primário destes entes foi de 1,1% do PIB.
Assim, a recente melhora nos resultados
fiscais do governo geral, em especial dos governos estaduais, cria um ambiente
um pouco mais otimista no que diz respeito ao volume de investimentos públicos
realizados em 2021 e previstos para este ano.
Em que pesem as deficiências apontadas pelo
FMI no que diz respeito ao nível e eficiência dos investimentos públicos no
Brasil, aumentar o volume dos investimentos pode contribuir positivamente para
atividade econômica em 2022.
O desafio é, portanto, mensurar quanto
deverá ser o incremento de investimentos públicos em 2022 vis-à-vis 2021 e qual
o impacto na atividade econômica. Parte do desafio é também evitar que o
excesso de arrecadação se transforme em salários e gastos permanentes em geral.
Um caminho é avaliar as dotações para as variáveis de investimentos e inversão financeira dos estados e União, a partir dos orçamentos anuais. A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal deve divulgar estudo sobre o assunto nas próximas semanas.
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