Diante de tamanho dinamismo, há várias
opções: se trancar em casa dizendo “não tenho lugar neste mundo, me deixa no
meu canto”; tentar acompanhar as mudanças em curso; se cercar de jovens
inovadores e crescer no seu vácuo; ou, impor uma resistência conservadora (às
vezes com verniz “progressista”) ao novo que se anuncia. A “vanguarda do
atraso” não dá tréguas!
Esta percepção, renova a convicção de que o
polo democrático não deve se alinhar à uma esquerda retrograda e anacrônica,
que nada está entendendo sobre os desafios presentes e, diante de novos
problemas, responde com velhas e surradas teses.
Digo isto à propósito das declarações de
Lula sobre uma suposta “revogação” da reforma trabalhista. Para começo de
conversa não há revogação. O que é possível é um novo governo do PT propor uma contra
reforma.
O mundo do trabalho hoje exige flexibilidade, agilidade, descentralização, desburocratização, livre negociação. O marco regulatório das relações de trabalho, a CLT, datava de 1943. O mundo mudou, companheiros!
A reforma trabalhista que fizemos manteve
todos os direitos trabalhistas presentes na Constituição. Regulamentou o
teletrabalho, tão valorizado em tempos de pandemia. Estabeleceu que o negociado
prevalece sobre o legislado, valorizando a livre negociação. Permitiu que se o
trabalhador quisesse, pudesse partir suas férias em 3 períodos de dez dias.
Acabou com o caos jurídico em relação à
terceirização de atividades fins, reduzindo a judicialização e afirmando a
tendência moderna de arranjos produtivos flexíveis com foco na qualidade,
especialização, produtividade e eficiência. Deu ao trabalhador terceirizado o
direito à transporte, alimentação e assistência médica. Acabou com o Imposto
Sindical obrigatório e automático, que era descontado na folha de todos os
trabalhadores, alimentando a inércia de lideranças sindicais com seus
orçamentos milionários. Introduziu o trabalho intermitente com direitos sociais,
permitindo mais de um vínculo ao trabalhador. Clareou a paridade de salário por
sexo ou raça com maior proteção ao trabalhador em relação às discriminações.
A alegação de Lula é risível. Que a reforma
foi inócua para a geração de empregos. Reformas trabalhistas não criam empregos.
Melhoram o ambiente para investimentos. Mas não compensam desastres como a
política econômica do PT (2009-2016) e os efeitos da pandemia. Os números de
demandas na Justiça do Trabalho despencaram 27%, de 2017 para 2020. E os
números sobre desemprego não socorrem Lula.
Ao contrário da Espanha, que na crise
mundial de 2008 pulverizou as formas de contratação e aí sim precarizou as
relações de trabalho, não o fizemos. Não deve servir de modelo.
Quanto aos trabalhadores de aplicativos,
que trabalham sem nenhuma cobertura de direitos, temos um desafio de pensar
criativamente soluções, mas não como quer o PT, inspirado na velha CLT, mas de
olhos no mundo contemporâneo inovador, concebendo um novo modelo de seguridade
social.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho
Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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