Blog do Noblat / Metrópoles, 26.2.2022
Foi este antismo que levou forças
democráticas a se recusarem a incluir Lula e o PT na composição de uma frente
nacional contra Bolsonaro
O setor de relações internacionais do PT
cometeu o erro de apoiar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Esta posição se
explica pelo antiamericanismo que caracteriza a visão do mundo dos petistas. Se
a Rússia enfrentava os Estados Unidos, então ela estava certa. Este é o perigo
do “antismo”: pensar contra sem levar em conta as especificidades que ocorrem
em cada momento, sem considerar que o mundo não é apenas branco e preto, nem
percebendo as mudanças que acontecem.
Da mesma forma que o antismo do PT leva a erros deste tipo, as forças democráticas têm errado, ao longo de meses, por verem a política Brasília sob o antipetismo. Sabem do risco da reeleição de Bolsonaro, mas se negam a barrar esta reeleição em aliança com o PT. Deixam também de perceber que o PT e Lula de hoje podem ser diferentes do que eram há alguns anos atrás.
Foi este antismo que levou forças
democráticas a se recusarem a incluir Lula e o PT na composição de uma frente
nacional contra Bolsonaro. A concepção da terceira via como uma alternativa
“nem nem” poderá levar à vitória do Bolsonaro, em função do voto nulo inspirado
pelo antipetismo.
Felizmente, o PT parece ter reconhecido o
erro de seu setor internacional e mudado de posição denunciando a invasão da
Ucrânia que agora só conta com o apoio de Bolsonaro. Felizmente também, PT e
Lula percebem que para derrotar Bolsonaro e depois governar precisam de aliança
com outras forças e outras visões do mundo. O PT começa a deixar de antismo
contra tudo que não é PT. Está em tempo das forças democráticas perceberem que
não foram capazes de construir uma alternativa eleitoralmente viável e que seu
divisionismo, movido pelo antipetismo, pode ser a causa da tragédia de mais
quatro anos do atual governo legitimado pelo apoio voto popular.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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