Folha de S. Paulo
Pressão de religiosos é insuficiente quando
grupo se distancia dos interesses do centrão
Pastores fizeram uma operação para barrar a
liberação de cassinos, bingos e jogo do bicho no país. O esforço não deu
resultado: a
proposta avançou na Câmara e contou até com o apoio de parlamentares
que integram a bancada evangélica. Dos 180 deputados do grupo, só 83 votaram
contra a legalização da jogatina.
O placar mostra que, embora barulhenta e
numerosa, essa bancada enfrenta limitações de coordenação e mobilização. No
papel, um de cada três deputados faz parte da frente parlamentar evangélica,
mas são poucos os casos em que esses políticos agem unidos ou incluem a
religião no cálculo de suas votações.
Integram formalmente a bancada evangélica desde o ex-ator pornô Alexandre Frota (PSDB) até o deputado Altineu Côrtes, líder do PL de Jair Bolsonaro. Os dois votaram a favor da liberação dos jogos. Também é signatário da frente parlamentar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que comandou a aprovação do texto e disse que as críticas à proposta partiam de "grupos sectários".
A votação dos cassinos e do jogo do bicho
sugere que, em muitas situações, a capacidade de pressão dos evangélicos no
Congresso é superdimensionada, principalmente quando suas preferências estão
distantes dos interesses do centrão.
Maior realização dos líderes
evangélicos, a
aprovação de André Mendonça para o STF só saiu graças a um consórcio
dos religiosos com a turma que manda no Congresso. Além da agenda pró-igrejas,
o pastor também se comprometeu com uma plataforma de defesa da classe política.
Parlamentares evangélicos conseguem ter
mais sucesso em bolas divididas, como pautas relacionadas ao aborto. Com o
apoio de políticos conservadores do próprio centrão, eles conseguem interditar
qualquer flexibilização da lei –ainda que não acumulem força suficiente para
endurecer ainda mais as regras atuais.
A bancada da Bíblia gostaria de ter a
influência de seus colegas da bancada do boi. A frente agropecuária tem
dinheiro de sobra e sintonia perfeita com os políticos do centrão.
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