Revista Veja
O desafio de Simone Tebet é despertar no
eleitor a vontade de acertar, para além do medo de errar
Marqueteiros de variados costados, à
esquerda e à direita, têm sido unânimes nas análises aos respectivos
contratantes sobre o impacto da entrada de Simone Tebet em cena: é difícil,
mas não é impossível que a senadora do MDB escolhida para representar o chamado
campo democrático tenha sucesso na presente disputa pela Presidência da
República.
Hoje, o êxito é uma dúvida, mas para o
futuro, segundo essas avaliações, já se configura a certeza de que na próxima,
em 2026, haverá perspectivas inovadoras nas figuras de Simone Tebet e do
ex-governador Eduardo Leite. Se não for agora, dizem, será mais à frente.
Para o jogo em curso vale de pouco esse
tipo de avaliação, dada a urgência à espreita na esquina, mas ao menos cria uma
expectativa de que nem tudo está perdido na política tal como tradicionalmente
a conhecemos.
O desafio presente é monumental, embora a senadora detenha ativos promissores. Como mulher, pode atrair o eleitorado feminino, que, além de majoritário, apresenta grau elevado de indecisão entre a intenção do voto e o gesto efetivo a ser feito no momento de cravar a escolha na urna. Seria, de fato, a primeira a postular a Presidência, pois Dilma Rousseff não chegou lá por si. Foi levada por um homem, o poderoso Lula.
Simone Tebet conta ainda com o fato de ser
uma novidade na cartela de nomes à disposição para a empreitada. É desconhecida
pela maioria, rejeitada por uma minoria e por isso mesmo em tese teria uma
avenida à frente por onde transitar na conquista do eleitorado.
Na teoria dos marqueteiros e dos
especialistas em pesquisas é isso que se fala. Na prática da política, porém,
os quinhentos são outros. O desafio primordial da senadora não é atrair apoio
de partidos, e sim conseguir despertar no eleitor a vontade de votar nela. Há
um conceito de publicidade que se aplica à situação: mais vale despertar o
desejo do consumo no seu produto que apostar na rejeição ao concorrente.
Simone Tebet fala a respeito disso quando
diz que não pretende fazer a campanha referida em Lula e Bolsonaro, e sim nos problemas que
afligem o país. É acusada de não ter posições contundentes, de incluir muitos
“mas” ao externar opiniões, o que denotaria atitude dúbia, quando o correto
seria demonstrar assertividade ao eleitorado.
Mas, por falar em “mas”, quem disse que os
problemas requerem soluções simplistas na base do oito ou oitenta, no branco ou
preto? Questões atinentes à administração de um país são complexas e requerem
ponderação. O cenário atual está repleto de contundências. Não raro, ou melhor,
sistematicamente rasas e apenas midiáticas.
Os campeões de intenções de voto nas
pesquisas são sempre categóricos, a despeito da qualidade do conteúdo. Outra:
mais contundente que Ciro Gomes, impossível, mas nem por isso ele consegue se
posicionar melhor no ringue. Tem a terceira colocação há muito tempo, mas nem
por isso consegue ser visto como o que de fato é, a terceira via.
Apesar de estar naquele lugar, Ciro é visto
como carta fora do jogo, alguém que atrai 7% ou 8% das intenções apenas por ser
um nome conhecido. Se tivesse chegado agora à disputa, certamente não teria
aquele capital. Aqui chegamos ao principal obstáculo da senadora Simone Tebet,
o tempo.
Ela tem fogo nas ventas. É aguerrida,
preparada, interessada e, sobretudo, empenhada. Talvez não seja o suficiente
para prevalecer no cenário em que resta muito pouco tempo (quatro meses) para
preencher uma folha em branco.
A senadora faz, em tese, uma boa escolha quando
diz que pretende falar mais de Brasil e menos de Lula e Bolsonaro. Em termos
racionais está correta. No entanto sabemos que eleições são certames carregados
de emoção. Fossem pautadas apenas pela razão, um José Serra com seu currículo
de realizações jamais poderia ter perdido a Presidência para a novata e
explicitamente inepta já nos debates em 2010 Dilma Rousseff.
A difícil missão de Simone Tebet é
encontrar um jeito de fazer chegar ao eleitorado, em pouquíssimo tempo, a
compreensão de que comoções, ódios e amores não levam ninguém, muito menos um
país, a lugar algum. Se não conseguir, corre o risco de ser deixada ao largo,
falando sozinha para um Brasil de ouvidos moucos, olhares turvos, mentes
exacerbadas e corações infeccionados.
Publicado em VEJA de 8 de junho de 2022, edição nº 2792
Um comentário:
Lula já representa o ''campo-democrático'' muito bem.E também não acho que a Dilma era ''inepta'',a mulher é esperta que só.
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