sexta-feira, 3 de junho de 2022

Eliane Cantanhêde: Meia-volta, volver

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro foca no Nordeste, mas seu desafio é manter o Sul, além do Sudeste

Pressionado pelas pesquisas e pela realidade, o presidente Jair Bolsonaro volta as atenções e despeja dinheiro no Nordeste, onde perde feio, feiíssimo, para o ex-presidente Lula. A melhor estratégia, porém, talvez não seja tentar ganhar o que não tem, mas manter o que já tem. O Sul, por exemplo, que tem em torno de 15% do eleitorado nacional e pode estar lhe escorrendo pelos dedos.

Em 2018, Bolsonaro ganhou do petista Fernando Haddad em todas as regiões, exceto no Nordeste. Massacrado em Pernambuco, Estado de Lula, foi campeão de votos em Santa Catarina.

Hoje, continua na liderança no Estado, mas começa a balançar no Paraná e no Rio Grande do Sul.

O governador Ratinho Jr. (PR), favorito na disputa, é próBolsonaro, mas sem implodir pontes com Lula. No RS, o presidente está entre Onyx Lorenzoni (PL), seu ex-ministro em três pastas, e o senador Luis Carlos Heinze (PP), ferrenho bolsonarista na CPI da Covid. Lorenzoni tem dois trunfos: está na frente nas pesquisas e apoiou Bolsonaro na primeira hora.

Lula também está espremido entre as candidaturas de Edegar Pretto (PT), filho do ex-deputado Adão Pretto, ligado ao MST, e de Beto Albuquerque (PSB), vice de Marina Silva na eleição presidencial de 2014. Lula foi ao Estado nesta semana, mas nenhum dos dois arreda pé.

Quem pode balançar ainda mais o coreto é o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que jurou que não disputaria a reeleição, saiu do governo sonhando com a Presidência e volta ao ponto inicial. Se concorrer, tende a despontar como favorito no Estado e pode selar a aliança formal entre o PSDB e o MDB do seu sucessor, Gabriel Souza, a favor de Simone Tebet (MDB).

Tebet conversou com Leite em Brasília anteontem e iria a Porto Alegre ontem. Cancelou a ida por causa da morte do sogro, não as articulações para ter o apoio do PSDB, o palanque de Leite no RS e o tucano do Ceará Tasso Jereissati na vice. Ele é um dos principais quadros tucanos.

Quem deu uma mãozinha foi Lula, ao dizer que “o PSDB acabou”. Não chega a ser mentira, mas é um erro evidente quando ele e Bolsonaro disputam os tucanos a tapa – inclusive no Sul. Mais um para a coleção de Lula e mais um motivo para os petistas e seus interlocutores tucanos arrancarem os cabelos.

Pelo agregador de pesquisas do Estadão, Lula tem vantagem em 16 Estados, Bolsonaro em oito e, dos três indecisos, dois ficam no Sul e o terceiro é o poderoso São Paulo. O Nordeste é e será pró-Lula e o Centrão vai para onde o vento levar. Para Bolsonaro, é melhor um pássaro na mão do que dois voando. Para Lula, o mais prudente é fechar a boca.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

O PSDB não acabou,continua bombando.
Sei.