quinta-feira, 16 de junho de 2022

Míriam Leitão: A mensagem deixada por Bruno e Dom

O Globo

Obrigada Bruno Pereira, obrigada Dom Phillips. Porque existiram, porque escolheram viver em busca do que era certo, porque foram ao ponto do Brasil que precisava de um servidor público exemplar e de um jornalista apaixonado. Obrigada Bruno e Dom porque na morte vocês revelaram ao Brasil que temos tolerado o intolerável, que o crime avança sobre a nossa floresta de forma devastadora, ameaçando povos indígenas e ribeirinhos, destruindo a soberania nacional. É dramático o que nos revelaram nesse ato final. É dilacerante que tenhamos perdido pessoas tão preciosas.

Não podemos ignorar a mensagem que Bruno e Dom nos deixaram. Eles nos contariam que as quadrilhas de crime organizado controlam parte da Amazônia, por isso é urgente agir antes que seja tarde demais. Caça e pesca ilegais movimentam muito dinheiro e interesses. Esses crimes estão ligados ao tráfico de drogas, de armas e ao garimpo. Eles agem em rede. Uma mão criminosa lava a outra.

Em Brasília, o governo Bolsonaro continua na sua marcha insana e insensata para desmontar o órgão criado com a missão de defender os povos indígenas. Missão que Bruno Pereira cumpriu, com desvelo e tenacidade. Ele foi exonerado do cargo de diretor de Índios Isolados por ter participado de uma bem sucedida ação que desbaratou garimpo ilegal e destruiu balsas no Vale do Javari. Bruno continuou seguindo a missão da Funai fora da Funai. Lá dentro, os enviados de Bolsonaro fazem o trabalho de desmonte do órgão.

Esse caso revela a coragem dos povos indígenas do Vale do Javari. Desde o primeiro momento, eles puxaram o Estado para estar onde sempre deveria ter estado. Foram muitas as denúncias feitas aos órgãos de controle. Os indígenas do Vale não descansaram. Denunciaram antes. Depois, foram insistentes nas buscas. Sem eles, esse seria mais um crime perdido na Amazônia.

Agora é fundamental que as forças federais estejam presentes no Vale do Javari. Muita gente se expôs na luta dos últimos dias. Bases da Funai haviam sido atacadas na região. Lideranças indígenas me disseram que o Estado precisa estar em Jandiatuba, Curucá, Ituí, e em Jutaí onde garimpeiros ameaçam os indígenas isolados. Há riscos para servidores da Funai e para os Indígenas.

Bolsonaro culpou as vítimas, porque é sempre desprezível diante do sofrimento humano. Mas ao afirmar que “esse inglês era malvisto na região porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro e questão ambiental”, Bolsonaro está aviltando a presidência. Está confessando que aceita que criminosos dominem o território nacional.

Bruno e Dom, obrigada. A mensagem que vocês levavam no barco quando saíram para Atalaia do Norte naquele domingo era importante demais. O preço que pagaram foi excessivamente alto. O que nos cabe, nessa hora de dor, é honrarmos os dois, lutando para expulsar o crime do coração da preciosa Amazônia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Até quando vamos viver sob a égide da violência contra os povos indígenas, verdadeiros donos d Terra Brasilies! #ATÉQUANDO?

Anônimo disse...

Eu dou Madalena Alexandre Alcantara

ADEMAR AMANCIO disse...

O inglês era ''malvisto'' pelos criminosos,Bolsonaro é malvisto pelas pessoas do bem.