No Brasil, optamos pelo presidencialismo. A maioria absoluta dos países desenvolvidos optou pelo parlamentarismo, que se mostra muito mais fluído e flexível para lidar com as inevitáveis crises e impasses. O presidencialismo americano só funciona bem por ser um sistema bipartidário, ancorado no voto distrital puro, onde a ligação entre representantes e representados é estreita.
Ainda assim, é possível aperfeiçoar o
presidencialismo brasileiro. A frouxidão e os equívocos de nossa legislação eleitoral
geraram um quadro partidário difuso, inconsistente e disperso e uma
representação parlamentar crescentemente fragmentada. Isso torna missão quase
impossível o Presidente da República formar maioria sólida e estável, e a
oposição ganhar nitidez. Paralelamente, o Congresso Nacional teve seu poder
extremamente dilatado, sem o crescimento proporcional de suas responsabilidades
com a governabilidade.
No parlamentarismo, o governo só assume se
tiver maioria parlamentar para governar conquistada nas urnas. E se perder a
maioria, caí, com a votação de uma moção de desconfiança e a convocação de
novas eleições para a redefinição dos caminhos futuros. Aqui, a maioria é
formada a posteriori. E algum malabarismo político se faz necessário. Ainda
agora, forças que apoiaram outra candidatura negociam com o presidente,
legitimamente dentro da lógica de funcionamento do sistema, a entrada no
governo e o apoio parlamentar. Aliás, o “Centrão”, tão criticado às vezes, tem
revelado uma funcionalidade essencial para a operação de um sistema
disfuncional. Como não tem rigidez ideológica, acaba fazendo um movimento
pendular e garantindo a governabilidade para todos os governos, independente de
o presidente ser Lula, Michel Temer ou Bolsonaro.
O
Congresso tem até produzido muito, apesar das mazelas de nosso sistema
político: reforma trabalhista, previdenciária, novos marcos do saneamento e das
ferrovias, entres outros temas, e agora, a reforma tributária e o arcabouço
fiscal. O problema é que a população não acompanha, fiscaliza, participa. Se
fosse feita uma pesquisa de opinião pública hoje, garanto com base na
experiência, que 70% das pessoas não saberia dizer sequer o nome do deputado em
quem votou em 2022. Isto nunca aconteceria nos EUA, na França ou na Inglaterra.
A cláusula de desempenho e a proibição das
coligações proporcionais vem desempenhando, ainda que lentamente, papel corretivo
na excessiva pulverização da representação parlamentar. A legislação sobre o
funcionamento dos partidos políticos pode ser aprimorada qualificando sua
governança, assegurando a transparência das ações e estimulando a democracia interna.
No entanto, o mais importante é envolver o
cidadão brasileiro com as decisões nacionais. E só há um caminho: a mudança de
nosso sistema eleitoral, assunto que ficará para a próxima semana.
*Economista
Nenhum comentário:
Postar um comentário