Folha de S. Paulo
O campo do centro se acomodou sob o manto
quentinho das torcidas apaixonadas
O eleitorado brasileiro está com a
polarização e não abre. As pesquisas de opinião mostram isso, e a
atitude dos políticos comprova disposição de seguir a tendência de se abrigar
sob o manto dos torcedores obstinados. Sempre reclamando da divisão
radicalizada e maniqueísta, mas apelando a uma pacificação que mais parece da
boca para fora.
Não se vê ninguém realmente empenhado em abrir caminho para o trânsito numa avenida central. As tentativas frustradas de 2018 e 2022, tudo indica, levaram a um desânimo/conformismo paralisante. Contribuíram para isso as reiteradas previsões de que a construção de uma terceira via estaria fadada ao fracasso.
Aquele tipo de profecia que se cumpre em si.
Houve incompetência por parte dos artífices de possíveis alternativas e houve
também uma forte campanha contra. Os chamados "isentões" eram
alvos de chacotas, por vezes justificadas, erraram muito e acabaram se
perdendo. Levaram o centro ao vácuo em que se encontra. A saída talvez esteja
na fidelidade a convicções e firmeza na aplicação dos propósitos. Com isso,
voltamos às profecias autorrealizáveis. No caso, ao combate aos ataques
antidemocráticos por parte do Supremo Tribunal Federal.
Se o STF tivesse
se rendido às ironias e não atuasse com rigor na crença do seu efetivo
funcionamento, talvez tivéssemos a profecia da disfuncionalidade cumprindo a si
mesma.
Assim como o tribunal não se aliou às
previsões pessimistas e pretensamente engajadas de que o retrocesso era
inevitável, pois a crença na funcionalidade das instituições seria obra de
ingênuos, aos pretensos arquitetos da avenida central caberia, quem sabe, uma
sacudida de poeira rumo à volta por cima.
Isso, contudo, depende de vontade e empenho,
atributos a respeito dos quais não se vislumbram sinais. Parecem todos
acomodados aos ditames das paixões num ambiente quentinho, mas improdutivo às
necessidades de evolução da cena política nacional.
2 comentários:
Parece que as constituições estaduais têm dono...
Pois é.
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