segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Marco Antonio Carvalho Teixeira - Nunes desponta como favorito diante de Boulos

Folha de S. Paulo

Prefeito tem menos rejeição e tende a herdar a maioria dos votos de Marçal; esperança de psolista é que Lula possa trazer mais votos neste turno final

A cidade de São Paulo chegou ao final da primeira etapa de um processo eleitoral que se caracterizou por cenas de violência sem precedentes. A sucessão de insanidades perpetradas por Pablo Marçal (PRTB) contra seus adversários culminou em agressão física e representou um espetáculo deprimente. É preciso reafirmar o repúdio e haver punições exemplares para que fatos semelhantes não sejam normalizados nos próximos pleitos.

Dito isso, vamos aos possíveis desdobramentos da chegada de Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) ao turno final. O candidato oposicionista foi ao segundo turno mais pelo seu recall eleitoral em pleitos recentes na cidade —chegou ao segundo turno em 2020, derrotando o próprio PT, e foi o deputado federal mais votado em 2022— do que pelos votos que Lula possa ter transferido para ele.

Vejamos: no início de julho, pelo Datafolha, sem Lula ainda envolvido diretamente na campanha, Boulos já apresentava 23% de intenções de votos. Um dia antes das eleições (sábado, 5) pontuou 29%, número que se confirmou com o resultado final. O incremento do apoio de Lula a Boulos ficou bem abaixo do proporcionado a Fernando Haddad (PT) em 2012, quando o atual ministro da Fazenda saltou de 7% em julho para 24% um dia antes do primeiro turno, segundo levantamento do mesmo Datafolha.

Ricardo Nunes, apesar das dificuldades em conduzir uma aliança tão heterogênea e se mostrar apático e sem carisma nos debates, avançou ao segundo turno com 29,5% aproveitando as vantagens de concorrer à reeleição ficando no cargo. Certamente o calendário de obras que se espalhou pela metrópole em pleno ano eleitoral, além do apoio ostensivo de líderes religiosos e de vereadores com grande inserção na periferia, inclusive de partidos comprometidos com outras candidaturas, o alavancou. Com baixa rejeição comparada à de Boulos, Nunes desponta como favorito, sobretudo por ter mais perfil para herdar eleitores de Pablo Marçal.

Ampliar a aliança eleitoral para o turno final será mais desafiador para Boulos do que para Nunes. O psolista não tem muito para onde se movimentar para além do PSB de Tabata Amaral. Partidos da base de Lula, como o União Brasil e o PSD, já estão com Ricardo Nunes, além do Republicanos, do PP, do Podemos, do PL, do Solidariedade e de outras legendas. O prefeito teve o apoio de 12 partidos no primeiro turno e ainda deverá ampliar essa grande aliança com a adesão do Novo.

Portanto, resta a Guilherme Boulos, além de angariar o apoio do PSB, apenas enfrentar os debates públicos e contar com a fragilidade de Ricardo Nunes nesse quesito. Uma esperança de Boulos, também, é que o prestígio pessoal do presidente Lula possa trazer bem mais votos do que os que já vieram no primeiro turno.

Pleitos eleitorais produzem derrotados e vencedores. O PSDB despareceu do jogo político da cidade. Pablo Marçal ganhou mais rejeição do que adeptos, apesar de ter se projetado nacionalmente para 2026. É possível que o laudo falso que ele espalhou nas redes sociais atacando Boulos, um dia antes da eleição, tenha feito com que votos dele migrassem para Nunes. Jair Bolsonaro também perde e muito —a principal razão é ter titubeado o tempo todo sobre como se posicionar em São Paulo, reduzindo a sua capacidade de influenciar seus adeptos.

Por outro lado, o maior vitorioso foi o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Este apostou todas as suas fichas em Nunes, empenhou seu prestígio político, enfrentou Marçal e tentou trazer Bolsonaro, que não veio na mesma medida. Assim poderá contar com um importante trunfo para os planos políticos dele em 2026: o apoio do hoje prefeito de São Paulo.

Por fim, Tarcísio sai dessa eleição menos dependente de Bolsonaro ao atuar de forma mais veemente pela reeleição de Nunes do que a desejada pelo seu padrinho político. Talvez não se veja mais obrigado a se filiar ao PL, e assim não ficará mais exposto ao comando do ex-presidente da República lá abrigado.

 

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