Folha de S. Paulo
Eleições mostraram eleitores dispostos a
comprar produtos diferentes do mesmo grupo
As eleições municipais nos grandes centros
deram à direita uma demonstração de vigor num momento em que esse campo parecia
ameaçado por uma fratura. A divisão ocorreu, mas havia eleitores suficientes
dispostos a comprar mais de um produto do mesmo grupo.
A disputa em São Paulo, em alguma medida, foi a amostra mais vistosa de um fenômeno que marcou corridas em outras capitais e grandes municípios. Em determinadas praças, o bolsonarismo oficial foi às urnas com personagens radicais e foi desafiado por candidatos de direita com embalagens moderadas. Em outros casos, o contrário ocorreu.
A capital paulista deu espaço para só uma
dessas opções no segundo turno, não sem deixar claro que personagens com o
embrulho da direita poderiam ser a escolha de quase 60% dos eleitores.
O quadro da disputa exibiu uma consolidação
da direita como preferência majoritária ou prioritária do eleitorado em
importantes centros urbanos, que concentram populações expressivas e, em muitos
casos, servem de motores regionais para grupos políticos.
Em cidades com DNA claramente conservador, o
desenho apareceu de forma ainda mais nítida. Goiânia e Curitiba, por exemplo,
terão segundos turnos formados exclusivamente por candidatos de direita.
Bolsonaro estará com os mais radicais.
A experiência da divisão interna oferece à
direita algumas vantagens e um punhado de dilemas. A diversificação de
candidaturas deu ao grupo, por exemplo, a oportunidade de renovar algumas
lideranças –como no caso
de Fortaleza, onde o bolsonarista de primeira geração Capitão Wagner
(União Brasil) foi substituído por André Fernandes (PL).As fraturas ficaram
expostas, e o comportamento dos líderes políticos ainda vai determinar como se
dará a calcificação desse esqueleto.
O susto provocado por Pablo Marçal
(PRTB) e o sucesso de candidatos mais estridentes tendem a dar
um incentivo adicional a Bolsonaro e outros personagens para replicar dessas
técnicas. A fabricação de personagens moderados e a aliança com produtos do
centrão, como Ricardo Nunes (MDB), se tornam mais arriscadas.
O contrapeso pode ser apresentado pelo
governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que bancou a candidatura de
Nunes e tem uma chance de acompanhá-lo até a vitória.
A multiplicação da direita reduziu ainda mais
os espaços de uma esquerda que entrou na eleição desacreditada e saiu
enfraquecida.As vitórias de João Campos
(PSB) e de outros não petistas mostram que há caminhos
alternativos. A ida de Guilherme
Boulos (PSOL)
ao segundo turno evitou um fracasso completo e manteve uma porta aberta, ainda
que pareça estreita a esta altura, para uma redenção.
A vitória de Lula (PT) em 2022, com um
impulso importante de cidades como São Paulo e Porto Alegre, acabou se tornando
um ponto de contraste para o mau desempenho de candidatos de esquerda mesmo em
capitais do Nordeste e para uma derrota amarga em Teresina, onde a vitória era
dada como certa.
A relativa dificuldade de penetração desses
partidos nas grandes cidades, especialmente nas periferias, reforça a
fragilidade de suas marcas, as dificuldades de renovação e uma desconexão com
um eleitorado que parece cada vez mais confortável em sair às ruas com um
figurino conservador.
Um comentário:
O povão vota porque vai ou não com a cara do candidato,o metro do jornalista é outro.
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