Valor Econômico
Resultado revela um eleitor de perfil moderado e adepto da continuidade, em face da reeleição da maioria dos prefeitos
Sem surpresas, a eleição municipal deste ano
foi, mais uma vez, uma vitória dos partidos do Centrão, detentores das maiores
fatias dos fundos partidário e eleitoral, bem como das emendas parlamentares, e
uma derrota generalizada da esquerda.
Não houve, salvo exceções pontuais, a
reedição da polarização entre bolsonarismo e lulismo do pleito presidencial,
revelando um eleitor de perfil conservador, moderado e adepto da continuidade,
ante a reeleição da maioria dos prefeitos.
O PSD do secretário de Governo de São Paulo,
Gilberto Kassab, foi o grande vitorioso entre as siglas do Centrão, retirando
do MDB a histórica posição de campeão em número de prefeituras, reconhecido
pela força municipalista.
O MDB acabou em segundo lugar em número de
prefeitos eleitos neste primeiro turno, seguido de Progressistas (PP), União
Brasil, PL e Republicanos. Representando o campo da esquerda, vem o PSB em 7º
lugar, o PT em 9º e o PDT em 10º. O Psol não elegeu prefeitos, e perdeu a
prefeitura de Belém.
Esse resultado manteve a tendência registrada nas últimas eleições municipais. Em 2020, o MDB manteve o primeiro lugar com mais prefeitos eleitos, mas já em curva descendente, perdendo mais de 200 prefeituras naquele pleito. O PP ficou em segundo lugar naquela eleição, e o PSD em terceiro, enquanto a esquerda vinha em processo de contração.
Nessa conjuntura, é simbólico que o prefeito
de capital, proporcionalmente mais votado, com 85% dos votos, seja Dr. Furlan,
do MDB, reeleito em Macapá (AP). Relembre-se, todavia, que Furlan elegeu-se em
2020 pelo Cidadania, sigla de viés de centro-esquerda, que hoje forma federação
com o PSDB - um dos que mais encolheu nesta eleição.
O desfecho da eleição em São Paulo foi uma
vitória de Pirro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aos solavancos,
conseguiu garantir uma vaga para Guilherme Boulos (Psol) no segundo turno, e do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não se engajou na campanha do prefeito
Ricardo Nunes (MDB), mas tinha seu nome atrelado a ela.
Lula e Bolsonaro enfrentaram a campanha
agressiva e recheada de mentiras conduzida pelo empresário Pablo Marçal (PRTB),
com lances inacreditáveis, como o falso laudo médico contra Boulos publicado a
menos de 48 horas da votação, desafiando os adversários e a própria Justiça
Eleitoral.
Tarcísio de Freitas surge como uma das
principais lideranças da direita para 2026
Não se pode ignorar a força do governador de
São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que abraçou e colocou Nunes
debaixo do braço, consolidando-se como uma das principais lideranças da direita
rumo a 2026. De outro lado, o ex-presidente assistiu, escondido e espantado, à
divisão de seu eleitorado, que migrou em grande parte para Marçal.
Boulos por pouco não ficou de fora do segundo
turno, uma eventual derrota que recairia diretamente sobre o colo de Lula.
Marçal bateu na trave: sua diferença para o adversário do Psol foi de pouco
mais de 55 mil votos, ou 0,9%. Além disso, Nunes avançou sobre feudos
eleitorais da esquerda, como a zona sul paulista, com a máquina municipal
operando a todo vapor.
Algumas capitais expuseram a força motriz do
bolsonarismo na reta final, característica também observada nas últimas
eleições. Em Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO) e João Pessoa (PB), os
candidatos do PL - Bruno Engler, Fred Rodrigues e o ex-ministro da Saúde
Marcelo Queiroga - patinaram a maior parte das campanhas, e ainda apareciam em
terceiro ou quarto lugar na penúltima semana. Nos últimos dias, após investidas
de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle, eles reagiram e garantiram vagas
no segundo turno.
Da mesma forma, o PT reagiu nos estertores em
capitais importantes para a sigla. Conseguiu uma vaga no segundo turno em
Fortaleza (CE) e Natal (RN), em demonstração de força das máquinas operadas por
governadores da sigla. Avançou em Porto Alegre, onde o prefeito Sebastião Melo
(MDB) quase se reelegeu no primeiro turno. Ainda assim, amargou derrotas
inesperadas, como a exclusão do segundo turno em Goiânia e Teresina (PI).
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