quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O ajuste fiscal e uma briga pelo futuro - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

PT vai recolher as armas depois que Lula carimbar o pacote, mas escolhas ainda dirão algo sobre os rumos do partido e do governo

PT vai recolher as armas depois que Lula carimbar o pacote de corte de gastos do governo. Enquanto as ideias ainda estão na mesa do presidente, setores do partido trabalham para puxar o ajuste para a esquerda. Quando as propostas ganharem a assinatura do chefe, ninguém vai deixá-lo sozinho, nas palavras de dirigentes da legenda.

O impasse na elaboração das medidas, a oposição de ministros e a divisão interna no PT fazem parte de uma briga pelo futuro. Ninguém sabe ao certo qual será o tamanho do ajuste, mas seu processo político dá pistas do que poderão ser os dois anos finais do terceiro mandato de Lula, suas chances de reeleição e os caminhos que a esquerda vai tomar.

Uma parte considerável do PT classifica o pacote como uma traição. Na primeira metade do mandato, a volta de Lula ao poder esteve ancorada em medidas como a ampliação de benefícios sociais e a recuperação de uma política para o salário mínimo. As propostas de Fernando Haddad, mesmo que façam sentido do ponto de vista fiscal, mexem com esses dois pilares.

A discussão é um lembrete de alguns dilemas que Lula ainda enfrentará. Primeiro, terá que decidir se dobra a aposta na fórmula atual, ainda que seus impactos tenham se mostrado mais modestos do que em mandatos anteriores. A segunda dúvida é se o ajuste deixará espaço nos cofres para seguir esse caminho e, ainda, procurar novas marcas que ajudem o governo a chegar a 2026.

As queixas do PT deram impulso à ideia de buscar cortes também nas aposentadorias dos militares e nas emendas parlamentares, para reduzir o inevitável prejuízo eleitoral de qualquer revisão de despesas sociais. Tudo indica, no entanto, que o presidente se convenceu da necessidade de um ajuste pensando também em evitar um risco de inflação que pesaria ainda mais na próxima campanha.

As escolhas feitas nesse campo devem influenciar os rumos do lulismo, do PT e da esquerda. Mostrarão as armas que o partido pretende usar para se reconectar com suas bases e, de maneira mais específica, dirá se a legenda considera Haddad um obstáculo ou um personagem capaz de liderar um próximo ciclo.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

BB sabe das coisas.