Folha de S. Paulo
O eleitor da extrema direita está mesmo
votando para liquidar a democracia?
Na semana passada, caiu enfim a ficha sobre o
verdadeiro significado de 2016, ano em que um maluco de cabelo laranja,
desbocado, politicamente incorreto e radical de direita venceu a eleição
presidencial na maior democracia das Américas.
Esse evento foi crucial para que, dois anos depois, outro candidato igualmente esquisito, desbocado e direitista radical triunfasse na segunda maior democracia do continente. Foi um choque que, por anos, alimentou a convicção otimista de que, dado que esse fenômeno parecia incompatível com o nível de civilidade e cultura democrática progressista arduamente conquistado após tantos desafios no século 20, só poderia ser uma exceção trágica —um desvario do qual os eleitores se recuperariam, assim que caíssem em si.
Agora, porém, surge a prova incontestável de
que estávamos enganados. Em três eleições presidenciais consecutivas, os
americanos votaram divididos, com metade dos eleitores escolhendo
reiteradamente essa proposta política que nos causa perplexidade. Alguém duvida
de que o mesmo padrão se repetirá no Brasil pela terceira vez, embora ainda não
saibamos qual lado conseguirá os 3% a mais que definirão a vitória? Já havia
cantado essa pedra diante da eleição de Milei,
agora temos as certidões: a extrema direita veio para ficar.
Diante disso, vale examinar o que tanto nos
incomoda na posição política que está se tornando hegemônica em nossos países.
É fácil recorrermos à ideia de que a democracia está em risco quando o governo
cai nas mãos de pessoas que parecem ignorar direitos e liberdades fundamentais
para os progressistas —direitos humanos e civis, liberdades sexuais e
artísticas, proteções para minorias e para o meio ambiente, além do valor da
tolerância — enquanto priorizam outras liberdades e outros direitos.
Quando o poder é exercido por líderes que
demonstram pouco ou nenhum escrúpulo republicano ao tentar passar por cima de
instituições ou até mesmo dos resultados eleitorais, quando estes lhes parecem
obstáculos aos próprios apetites. Certo, mas esse é apenas um aspecto a
considerar. Aparentemente, a maioria dos eleitores não tem votado nesses
candidatos para destruir a democracia, eliminar minorias, fechar o Congresso e
o Judiciário ou violar direitos e liberdades.
Será que alguém realmente acredita que metade
dos americanos e dos brasileiros é efetivamente fascista, embora em quase dez
anos desse ciclo de poder não tenhamos um único movimento fascista nas ruas?
Pensando friamente, dá para crer na teoria de que os eleitores dessa nova
direita sejam irrecuperáveis para a democracia, um "cesto de
deploráveis", republicanamente imprestáveis?
A questão é mais complexa: é verdade que há
apoiadores de ditaduras nesse grupo, mas há também muitos que não veem a
democracia ameaçada, não a consideram prioridade ou nem sequer entendem o que
significa dizer que a democracia está à beira do abismo por causa do seu voto.
Na última pesquisa CNN antes da eleição
americana, perguntou-se quais eram os temas que eleitores consideravam mais
importantes e influiriam na sua decisão de voto. Os eleitores de Harris estavam
preocupados com a democracia (80%) e o aborto (74%). Os eleitores de Trump estavam
preocupados com imigração (90%), com a economia (80%) e com política externa
(57%), enquanto apenas 18% mencionaram a democracia.
Ora, se uma pessoa não considera a democracia
o principal dos seus problemas e nem sequer acha que a democracia está ameaçada
pelo sujeito em quem pretende votar, gritar "por favor, salvem a
democracia" não terá o menor efeito. Tampouco se pode alegar que alguém
tenha votado para liquidar com ela.
Ah, mas Trump é um extremista, e o que dizer
das pessoas que votam em radicais? Na mesma pesquisa, 98% dos eleitores de
Trump consideravam Harris a verdadeira extremista, enquanto 97% dos democratas
viam Trump da mesma forma. Ou seja, se gritarmos "fujam dos
extremistas", o resultado será que ninguém ficará no recinto, nem mesmo os
trumpistas.
O que podemos concluir? Primeiro, que o voto
na nova direita não foi acidental, mas é uma tendência consolidada no
eleitorado. O imperativo de "não normalizar" essas candidaturas soa
ingênuo, diante do fato de que metade do eleitorado prefere essas opções a
qualquer alternativa. Segundo, se deixarmos de enfocar os candidatos e olharmos
para os eleitores, perceberemos que a maioria não acredita estar votando contra
a democracia, mas na melhor proposta disponível para o assunto que lhe
interessa. É nisso que precisamos prestar atenção.
4 comentários:
Perfeito!
A esquerda está em maus lençóis, daqui pra frente vai ficar cada vez mais claro o seu papel de desestabilizar e lutar contra os valores ocidentais democráticos cristãos
E aí que eles vão cair do galho , quando o povo notar que eles são os traidores da pátria a serviço de potências autoritárias do eixo Rússia China Irã
O nosso condenado presidente Está todo animado com os aliados dos Bricks
Já falava em alto e bom som e retirar o dólar das negociações da organização E no poder do Sul global
Após a eleição do Trump rapidamente Putim falou que não era nada disso , e que o dólar continuará como moeda internacional , a China preocupada com a super taxação de 60% dos seus produtos , o que vai causar Uma queda muito grande do seu Pib , já está querendo conversar e negociar
Invasão de Taiwan já era , inclusive internamente no Partido Comunista chinês já está havendo um movimento pra substituir o Xi Juauping do comando do partido e acabar de vez essa ideia de invadir da ilha de Taiwan
O nosso presidente alcoólatra ainda não entendeu que o mundo mudou , os aliados ganharam a guerra , e Trump está vindo com tudo pra cima do eixo do mal Inclusive o Brasil
O secretário de Estado Americano é inimigo pessoal do Alexandre de Moraes
O seu visto , E da turma do Supremo , será cassado rapidamente, bem como suas casas apartamentos e ativos financeiros serão congelados
A mídia depois do Chororó está fingindo que a eleição nem aconteceu , mudou de assunto Mas a bomba vai vir de qualquer maneira , a tsunami está formada e está vindo com força
Excelente!
Os eleitores têm interesses e preocupações diferentes!
"Os eleitores de Harris estavam preocupados com a democracia (80%) e o aborto (74%). Os eleitores de Trump estavam preocupados com imigração (90%), com a economia (80%) e com política externa (57%), enquanto apenas 18% mencionaram a democracia."
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