O Estado de S. Paulo
Críticas a Moraes no Supremo não tiram dele maioria nas votações sobre trama golpista
Não foi boa a reação de ministros do Supremo
Tribunal Federal à decisão de Alexandre de Moraes de prender Jair Bolsonaro.
Nos bastidores, a medida foi considerada desnecessária neste momento, com potencial
para escalar duas crises: a do tribunal com o Congresso e a do Brasil com os
Estados Unidos.
A expectativa no STF é de que os EUA apliquem
sanções com base na Lei Magnitsky a outros ministros e também a autoridades
brasileiras. A partir da prisão de Bolsonaro, ministros aguardam punições que
atinjam o bolso deles, com restrições financeiras ainda maiores que as impostas
a Moraes.
Outro impacto da prisão de Bolsonaro é o aumento da pressão política sobre a Corte às vésperas do julgamento do ex-presidente. Na visão de alguns ministros, o ideal teria sido Moraes ignorar a isca jogada pelo réu e deixá-lo em liberdade até o veredicto, previsto para setembro.
Para piorar o clima no Supremo, Moraes não
avisou aos colegas que mandaria prender Bolsonaro na segunda-feira. Certo de
que não precisaria do aval da Primeira Turma, usou a prerrogativa de relator
para determinar a prisão domiciliar por descumprimento de medidas cautelares.
Em tempo: nem todo ministro do STF concorda com a imposição da medida cautelar que proíbe Bolsonaro de usar redes sociais. A avaliação é a de que a regra não está prevista em lei e configura censura prévia.
Mesmo que o burburinho ecoe nos bastidores,
Moraes não perdeu a maioria em julgamentos no STF. A aposta é que, diante de
recurso da defesa, o placar seja novamente de quatro votos a um na Primeira
Turma – o mesmo registrado em julho, quando ele impôs as medidas cautelares ao
ex-presidente.
No plenário, Moraes diminuiu de tamanho, mas
também não perdeu maioria. Após a sanção de Trump, seis ministros declararam
apoio ao colega, embora alguns do grupo tenham ressalvas aos métodos do
relator. Em contrapartida, quatro ficaram em silêncio. Neste grupo estão Kassio
Nunes Marques, André Mendonça e Luiz Fux, que já votaram contra o relator em
julgamentos sobre a trama golpista. Soma-se ao trio Dias Toffoli.
Não há no STF, porém, espaço para retrocesso.
Moraes não deve reavaliar a prisão de Bolsonaro, contrariando a torcida de ala
do tribunal. A avaliação interna é a de que, mesmo com ressalvas à conduta de
Moraes, o melhor agora é votar a favor das decisões tomadas por ele. Um movimento
contrário ao relator enfraqueceria o STF como um todo na relação com a política
brasileira e na crise com os EUA.
Ao mesmo tempo, Donald Trump também não vai
retroceder. No tribunal, ministros não conseguem vislumbrar como termina o cabo
de guerra. Mas sabem que não acaba bem. •
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