segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Uma semana para provar que assunto nunca falta, por Bruno Carazza

Valor Econômico

Banco Master, COP30, Messias no STF, reação de Alcolumbre, recuo de Trump no tarifaço e prisão de Bolsonaro: de tédio a gente não morre

Há sete anos recebi o convite improvável de Maria Cristina Fernandes para ser colunista do Valor. Depois do impensado impulso de aceitar (“a hora do ‘sim’ é o descuido do ‘não’”, já cantava Vinicius de Moraes), dois pensamentos passaram a me aterrorizar.

Acima de tudo estava a responsabilidade de escrever num espaço que, desde o lançamento do jornal, havia sido ocupado por grandes analistas políticos como Fernando Limongi, Marcos Nobre, Renato Janine Ribeiro, Luiz Werneck Vianna, Fábio Wanderley Reis e Fernando Abrucio. Como se isso não bastasse, ainda havia a pressão da periodicidade: será que eu teria repertório para um texto semanal, numa publicação com um público tão qualificado e exigente?

Desde então já se vão 342 colunas e o respeito à tradição do Valor e aos seus leitores é o que me move a buscar uma perspectiva diferente para analisar os temas da ordem do dia. Quanto ao medo da falta de assunto, ele logo se dissipou. O Brasil nunca decepciona em proporcionar crises, reformas e episódios surpreendentes para serem examinados.

Nesse aspecto, a semana passada foi tão pródiga de tópicos que poderia render material para várias colunas.

Começando pela implosão do banco Master, além da responsabilização cível e criminal de Daniel Vorcaro e demais executivos da instituição e do BRB, precisamos refletir sobre os aprimoramentos necessários para diminuir a probabilidade de ocorrência de novos comportamentos oportunistas no futuro.

Do fortalecimento das garantias para que o Banco Central seja mais proativo na intervenção diante de evidências de gestão temerária à responsabilidade das auditorias (KPMG, no caso), das agências de classificação de risco e das plataformas de investimento (XP e BTG à frente), passando por ajustes na governança e nos limites do Fundo Garantidor de Créditos, temos uma ampla agenda de reforma do sistema financeiro adiante.

Da Faria Lima para Belém, o relativo fracasso da COP30 expõe como a busca de consensos multilaterais se tornou praticamente impossível nos tempos atuais. A solução encontrada - uma promessa de maior aporte de recursos para a adaptação nos países pobres e o silêncio quanto à rota da descarbonização - sinaliza para um maior protagonismo de saídas de negócios para o desafio da transição energética. Iniciativas do governo brasileiro, como o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre e a implementação do mercado de crédito de carbono, podem ganhar impulso diante do impasse entre as nações.

Em Brasília, a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal já abalou as relações do governo com o Centrão. Estigmatizado pelo famoso episódio da ligação telefônica entre Dilma e Lula no auge do impeachment, tornada pública pelo então juiz Sergio Moro, o nome de “Bessias” desperta críticas sobre o caráter político das indicações para o Supremo.

Com requisitos vagos para a nomeação (“notório saber jurídico e reputação ilibada”), é difícil evitar que advogados pessoais ou candidatos “terrivelmente evangélicos” ocupem o cargo, a não ser que o Senado exerça seu papel constitucional de sabatinar e rejeitar a indicação - algo que nunca aconteceu na história recente.

Outro ponto, porém, merece reflexão. Temos visto recentemente uma redução expressiva na idade média dos indicados para o STF - de 53 anos na década de 1990, 54,3 anos (década de 2000), 57,3 anos (década de 2010) para apenas 48,6 anos desde 2020 (já incluindo na conta Jorge Messias, que tem 45 anos). Como a idade para a aposentadoria compulsória subiu de 70 para 75 anos, isso significa que o futuro ministro passará três décadas ditando o destino do país. Taí um ponto que merece reflexão, seja sobre a necessidade de imposição de um mandato ou mesmo um limite de idade mínimo mais alto.

Ainda neste capítulo sobre Messias para o Supremo, foi totalmente exagerada e infantil a reação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A prerrogativa da indicação é do Presidente da República, e caso Alcolumbre não concorde com a escolha, cabe a ele organizar politicamente a rejeição do seu nome no voto. Pior do que o chilique público foi a decisão de colocar na ordem do dia uma pauta bomba da aposentadoria especial dos agentes comunitários de saúde - o que só confirma o quanto nossos congressistas colocam seus interesses políticos acima da responsabilidade fiscal.

Direto de Washington, houve ainda a revogação das sobretaxas de Trump sobre diversos produtos de nossa pauta de exportações. O recuo improvável - pois unilateral, sem exigência de contrapartidas brasileiras, pelo menos a princípio - mostra que os efeitos inflacionários do tarifaço já bateram na popularidade do presidente americano.

Para concluir, a semana terminou com a prisão de Jair Bolsonaro. Sobre o episódio, é dispensável gastar este espaço comentando o episódio bizarro do ferro de solda na tornozeleira eletrônica. Sobre as consequências do fim do bolsonarismo, haverá oportunidades para discutir sobre isso com mais profundidade no futuro. Assunto nunca falta.

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