O Estado de S. Paulo
Hipótese 1. Davi Alcolumbre é um governista. Foi assim com Bolsonaro; e com Lula, até aqui. Um governista de oportunidades. Governista condicional, aquele tipo bem-disposto, que pende à facilitação, desde que contemplado a cada votação de interesse do Planalto. Contemplado com lotes de influência na superfície do Estado. Aquele Alcolumbre que, negociando, fez os vales dos rios São Francisco e Parnaíba se estenderem até o Amapá.
Esse mágico, tendo agendado a sabatina de Jorge Messias para o próximo dia 10 como forma de garantir a sua incontornabilidade no processo, estaria agora à espera Lula. Pronto para conversar. Em política, ponto de não retorno é temperatura difícil de alcançar. Alcolumbre, talvez esticando a corda com mais tensão que o habitual, teria estreitado a margem de negociação. Margem estreita não deixa de ser margem. Haveria um caminho.
Para esse Davi, um prático, a não escolha de
Rodrigo Pacheco ao STF – por dolorosa que seja – converter-se-ia em moeda para
comerciar. Unidade monetária mesmo. Um pacheco. Dois pachecos. Cinco. Dez. Cem.
Quantos pachecos valeria o comando da CVM? Da ANA? Do Banco do Brasil?
“Divergências” são parte da democracia.
Esse Davi compreenderia a partilha de “cargos
e emendas” como gesto de um governo de conciliação – e não como “ajuste de
interesse fisiológico”.
Hipótese 2. Um Davi Alcolumbre de repente
oposicionista, ofendido com a “tentativa” governista de “criar a falsa
impressão” de que “divergências entre Poderes” poderiam ser “resolvidas por
ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”.
Seria, pois, um caso em que o novo Davi se
ofenderia com o velho Davi, aquele que tem dois ministérios. Teria de devolver
os terrenos. Talvez nem conversasse com Lula. Movimento rompedor que –
originário em “divergências entre Poderes” – não se basearia (não poderia se
basear) no preterimento de Pacheco. A constituição desse Davi oposicionista
exigiria mais fundamentos; mais razões.
Por exemplo: o STF julgará em breve os
primeiros parlamentares acusados de corrupções a partir do orçamento secreto.
Alcolumbre é um dos senhores das emendas parlamentares. Há também as
investigações relativas ao Master, especialmente aos investimentos de fundos de
servidores estaduais em letras de crédito do banco – fundos comandados por
gente apadrinhada, inclusive no Amapá.
(Nada disso compõe a matéria do que definiria
“divergências entre Poderes”. O cronista adverte: fala-se aqui de um Davi que
teria virado oposicionista. Não de um milagre criador de republicanos.)
Ponto de não retorno, em política, é
temperatura difícil de alcançar. Esse Alcolumbre inédito – comerciante de
súbito agastado com a exposição das mercadorias na vitrine – esticou a corda a
grau de tensão sem precedentes para sua atividade pública até aqui. Não estaria
muito longe da condição excepcional de ter de bancar mesmo a queda de Messias.
Vai? •

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