sexta-feira, 11 de julho de 2008

DEU NA FOLHA DE S. PAULO


QUANTO VALE UM BARRIL?
Clóvis Rossi

OSAKA - Diz o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser "inconcebível" que o preço do petróleo ande aí pelas alturas de US$ 140 o barril.


Sempre haverá quem ache que o presidente teve uma recaída e incorporou o caboclo sindicalista azedo e resmungão de tempos que não voltam mais.


Nada disso. Basta ler o que escreveu ontem Junichi Abe, redator-sênior do jornal "Yomiuri Shimbun", que não é órgão oficial de algum partido comunista: "A indústria do petróleo acredita que o preço do petróleo tecnicamente deveria estar entre US$ 70 e US$ 80 por barril, segundo cálculos baseados nos custos de produção e gerenciamento. A indústria acredita que fundos especulativos são responsáveis pelo fato de as forças de mercado terem puxado o petróleo muito além desse nível".


Muito bem. Se o presidente George Walker Bush acha mesmo que a culpa pela disparada de preços dos alimentos é do petróleo caro, se o petróleo está caro, ao menos em parte, pela especulação nos mercados futuros, o lógico seria tentar pôr algum tipo de limite à especulação, certo? Certo apenas para a sabedoria convencional. Para Bush, é errado mexer com as tais forças de mercado. De fato, não é uma ação fácil nem indolor, como diz Anatole Kaletsky, colunista do britânico "The Times": "A questão já não é se os preços do petróleo devem ser deixados a cargo do mercado, mas se intervenções políticas que atropelem as forças de mercado melhorarão ou piorarão a situação".


É uma dúvida relevante, para a qual a resposta só virá na eventualidade de ocorrerem as "intervenções políticas". Por ora, o que se sabe é que a alta combinada do petróleo e dos alimentos levou mais 100 milhões de pessoas à fome, nos cálculos de Robert Zoellick, o presidente do Banco Mundial, que está longe de ser um fanático do intervencionismo estatal.

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