sábado, 28 de março de 2009

As mil casas da candidata

Coisas da Política :: Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Com o lançamento do programa sua casa, meu voto, o governo acaba de fechar o mais competente plano eleitoral da história deste país. Emudece a oposição com a zoeira da construção de 1 milhão de casas populares, com o início das primeiras obras previsto para o primeiro trimestre de 2010, quando começa oficialmente a campanha eleitoral, e retoca o esquema com a clara superação das etapas de uma tática que tem muito de improviso e o molho da esperteza.

Ao longo das três eleições, com duas derrotas e a eleição e a reeleição, Lula tirou partido das lições de derrotas e vitórias. No primeiro mandato, a decepção com o PT enrolado nos escândalos que se transformaram em rotina do Legislativo, cimentou o desencanto com o partido que ele fundara como o maior líder sindicalista do país. E o Congresso passou a ser cultivado no varejo do toma-lá-dá-cá com os partidos disponíveis na praça, de que o PMDB é o melhor e didático exemplo.

Desde a reeleição, em 2006, Lula toca o governo com um olho nos programas sociais de resultados imediatos, como o Bolsa Família e o Bolsa Escola e o outro na montagem da sua sucessão, prioridade desde a evidente inviabilidade do terceiro mandato. Sem uma oposição que o ameace e apenas aborrece, como picadas de mosquito, Lula fechou a estratégia para a eleição do seu sucessor. E acabou achando a sucessora. No Norte e no Nordeste, como comprovam todas as pesquisas de intenção de voto, com os agrados dos programas sociais, os seus índices de aprovação passam além da maioria absoluta. E crescem a cada nova rodada de consulta aos eleitores. Mas, e o resto? De São Paulo e Minas, com governadores populares como José Serra e Aécio Neves, até o Rio Grande do Sul, a popularidade de Lula oscila ao sabor das circunstâncias. Mas sem a garantia da maioria que sustente a vantagem do Norte e do Nordeste.

O Programa Minha Casa, Minha Vida, para a construção de 1 milhão de residências, sem prazo para conclusão, é o tiro de misericórdia na oposição. O governo pode perder no debate no Congresso. Mas, e daí? Quem leva o mais democrático dos poderes a sério se ele não se dá ao respeito? Os últimos vexames na cascata de falcatruas dos mais de 300 diretores para cuidar das mordomias e da burocracia de 81 senadores e 513 deputados liquidaram com as sobras da credibilidade do Legislativo. Tático intuitivo, com a dura experiência da liderança sindical, Lula foi aperfeiçoando o esquema para a eleição da sua substituta, com uma série de medidas práticas, de discutível ética mas de imediatos resultados, que podem ser conferidos a olho nu. Não se faz campanha sem candidato, como a oposição está custando a aprender. Ora, para o jogo maroto do fingimento, Lula jura que não está em campanha, mas não nega que a ministra Dilma Rousseff é a sua candidata, que o PT engole fazendo careta e com o esgar do riso forçado.

Para correr o país em campanha eleitoral, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi uma mão na roda. A oposição protesta pela meia dúzia de senadores e um ou outro deputado, nos discursos da tribuna do Congresso. Mas, noves fora os registros na mídia, o Congresso é um sino sem badalo.

A campanha entra na sua última fase, em duas etapas distintas. A primeira, na mascarada das viagens nas asas do Aerolula para fiscalizar as obras do PAC, com a infalível presença da ministra-candidata, com lugar cativo ao lado de Lula no palanque e o improviso do treinamento para o segundo tempo. Mas, já e já, o cenário muda da água morna para o vinho. Nas próximas viagens para "fiscalizar as obras do PAC", o tema central dos discursos da candidata será o Programa Minha Casa, Minha Vida, ou sua casa, meu voto do apelido que rasga a fantasia para expor a evidência. A oposição resmunga, mas não tem artilharia para denunciar o escancarado e mortal objetivo eleitoral de um projeto que se apresenta com o traje adequado de um programa social, de indiscutível necessidade. E que apenas se propõe resolver a sétima parte do déficit habitacional de 7 milhões dos sem-teto.

Desde o lançamento, quebrou as mãos e pernas da oposição: nenhum ou muito poucos governadores e prefeitos terão condições políticas e respaldo eleitoral para criticar ou condenar um projeto que promete construir residências para os que vivem na rua ou em bibocas. A campanha, com a ministra-candidata no palanque, desfilará entre alas de aplausos por todo o país, tão logo a campanha chegue à rua e aos programas eleitorais em rede nacional.

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