Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Tem razão o governador José Serra quando cobra mais organização e efetividade do PSDB para a campanha presidencial. O partido, em geral, vai às cordas a cada golpe de Lula e do PT. Basta lembrar de 2006, quando os tucanos ficaram paralisados ao serem denunciados de querer vender a Caixa e o Banco do Brasil. Agora o partido estremece ao verificar que a popularidade do presidente continua em ascensão e que a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) teve extraordinário crescimento nas pesquisas de opinião pública.
Os tucanos parecem aturdidos e querem que Serra assuma a frente da oposição a Lula, algo que a prudência política e o respeito ao eleitorado de São Paulo não recomendam ao governador do Estado, neste momento. É papel de candidato, o que Serra ainda não é. A tarefa cabe ao PSDB.
Talvez o que os tucanos precisem mesmo é de "paciência e ironia", a receita bolchevique ministrada por Serra aos desalentados companheiros.
A história recente mostra que a paciência é boa conselheira; e que ninguém mais que o PT exerceu a ironia, quando esteve na oposição. Basta comparar as posições que o partido tinha nos governos de FHC e agora, em torno dos mesmos assuntos.
Lula antecipou a campanha a fim de catapultar uma desconhecida nas pesquisas. Teve êxito. Mas a cerca de um ano e meio da eleição, é difícil saber como estarão os principais atores da sucessão no início de 2010. Em política, um ano é bastante tempo.
Basta pensar no primeiro semestre de 1988: o que se sabia sobre a eleição de 1989? Era impossível imaginar, então, que a eleição iria para o segundo turno com os dois candidatos mais improváveis da cédula eleitoral: Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. As expectativas giravam em torno de Ulysses Guimarães e Mário Covas.
O mesmo pode se dizer de junho de 1993 em relação à eleição de 1994, na qual Lula entrou como favorito. À época, Fernando Henrique Cardoso já havia trocado O ministério das Relações Exteriores pelo da Ministério da Fazenda. Mas o Plano Real, que iria pulverizar o favoritismo eleitoral de Lula, não passava de uma pedra bruta na cabeça de alguns economistas.
Em meados de 2001, Serra era um pré-candidato questionado, mas com a expectativa de contar com o poderio do governo de retaguarda - quase não vai ao segundo turno. Mesmo em 2005 a sucessão de 2006 esteve à margem, até por conta da crise política (o mensalão) que tomou conta do governo.
O PT é forte, mas tem vulnerabilidades, como demonstra pesquisa encomendada pelo partido mês passado. Apesar das mega-operações da Polícia Federal, o sentimento de que o governo não combateu devidamente a corrupção continua presente na população, embora com menos intensidade que no ano passado.
Traço na pesquisa de 2008, a falta de investimento na educação e nas estradas, a escolha de pessoas sem qualificação para o governo e falar sem pensar (Lula dizer que a crise não passava de uma marola) são aspectos que começam a tomar forma no imaginário da população pesquisada.
Outros números indicam que a oposição ou adotou a estratégia errada ou, se acertou, Lula é que faturou: em maio de 2008, 2% das pessoas incluíam o "aumento de impostos" entre as piores coisas que Lula fez; em 2009, a mesma pergunta nem sequer teve traço de resposta. No meio do caminho, o PSDB talvez tenha abusado na dose de ironia: prometeu aprovar mas ajudou a rejeitar a CPMF, o imposto do cheque.
À pergunta "qual foi a melhor coisa que Lula fez", o que seria o carro-chefe da campanha de Dilma continua patinando: o PAC teve 3% ano passado e 2% este ano. É pouco para muita propaganda. Em compensação, subiu de 1% para 7% a resposta à pergunta sobre investimento em habitação, indicando que o programa "Minha Casa, Minha Vida" pode ter sido um tiro certeiro de Lula.
A ser observado: o índice de rejeição de Dilma, detectado também por outras sondagens (11%, empatada com Serra, que tem 12%). Heloisa Helena (17%) e Aécio Neves (13%) ocupam as duas primeiras posições. Na sequência o PT vai investigar o quadro recebido da Vox Populi por meio de pesquisas qualitativas.
O PT é o partido preferido do eleitorado, com 29% contra 7% do PSDB, tendo o PMDB no meio com 8% (os números conferem com outras pesquisas já realizadas). Impressiona o recall da sigla PMDB, que desde 1994 não disputa uma eleição presidencial mas teve 24% das citações.
Atrás do PT, com 35%, mas à frente dos tucanos (14%), que polarizaram com os petistas as quatro últimas eleições presidenciais.
Definitivamente, os tucanos precisam acertar na dose de paciência e ironia.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Tem razão o governador José Serra quando cobra mais organização e efetividade do PSDB para a campanha presidencial. O partido, em geral, vai às cordas a cada golpe de Lula e do PT. Basta lembrar de 2006, quando os tucanos ficaram paralisados ao serem denunciados de querer vender a Caixa e o Banco do Brasil. Agora o partido estremece ao verificar que a popularidade do presidente continua em ascensão e que a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) teve extraordinário crescimento nas pesquisas de opinião pública.
Os tucanos parecem aturdidos e querem que Serra assuma a frente da oposição a Lula, algo que a prudência política e o respeito ao eleitorado de São Paulo não recomendam ao governador do Estado, neste momento. É papel de candidato, o que Serra ainda não é. A tarefa cabe ao PSDB.
Talvez o que os tucanos precisem mesmo é de "paciência e ironia", a receita bolchevique ministrada por Serra aos desalentados companheiros.
A história recente mostra que a paciência é boa conselheira; e que ninguém mais que o PT exerceu a ironia, quando esteve na oposição. Basta comparar as posições que o partido tinha nos governos de FHC e agora, em torno dos mesmos assuntos.
Lula antecipou a campanha a fim de catapultar uma desconhecida nas pesquisas. Teve êxito. Mas a cerca de um ano e meio da eleição, é difícil saber como estarão os principais atores da sucessão no início de 2010. Em política, um ano é bastante tempo.
Basta pensar no primeiro semestre de 1988: o que se sabia sobre a eleição de 1989? Era impossível imaginar, então, que a eleição iria para o segundo turno com os dois candidatos mais improváveis da cédula eleitoral: Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. As expectativas giravam em torno de Ulysses Guimarães e Mário Covas.
O mesmo pode se dizer de junho de 1993 em relação à eleição de 1994, na qual Lula entrou como favorito. À época, Fernando Henrique Cardoso já havia trocado O ministério das Relações Exteriores pelo da Ministério da Fazenda. Mas o Plano Real, que iria pulverizar o favoritismo eleitoral de Lula, não passava de uma pedra bruta na cabeça de alguns economistas.
Em meados de 2001, Serra era um pré-candidato questionado, mas com a expectativa de contar com o poderio do governo de retaguarda - quase não vai ao segundo turno. Mesmo em 2005 a sucessão de 2006 esteve à margem, até por conta da crise política (o mensalão) que tomou conta do governo.
O PT é forte, mas tem vulnerabilidades, como demonstra pesquisa encomendada pelo partido mês passado. Apesar das mega-operações da Polícia Federal, o sentimento de que o governo não combateu devidamente a corrupção continua presente na população, embora com menos intensidade que no ano passado.
Traço na pesquisa de 2008, a falta de investimento na educação e nas estradas, a escolha de pessoas sem qualificação para o governo e falar sem pensar (Lula dizer que a crise não passava de uma marola) são aspectos que começam a tomar forma no imaginário da população pesquisada.
Outros números indicam que a oposição ou adotou a estratégia errada ou, se acertou, Lula é que faturou: em maio de 2008, 2% das pessoas incluíam o "aumento de impostos" entre as piores coisas que Lula fez; em 2009, a mesma pergunta nem sequer teve traço de resposta. No meio do caminho, o PSDB talvez tenha abusado na dose de ironia: prometeu aprovar mas ajudou a rejeitar a CPMF, o imposto do cheque.
À pergunta "qual foi a melhor coisa que Lula fez", o que seria o carro-chefe da campanha de Dilma continua patinando: o PAC teve 3% ano passado e 2% este ano. É pouco para muita propaganda. Em compensação, subiu de 1% para 7% a resposta à pergunta sobre investimento em habitação, indicando que o programa "Minha Casa, Minha Vida" pode ter sido um tiro certeiro de Lula.
A ser observado: o índice de rejeição de Dilma, detectado também por outras sondagens (11%, empatada com Serra, que tem 12%). Heloisa Helena (17%) e Aécio Neves (13%) ocupam as duas primeiras posições. Na sequência o PT vai investigar o quadro recebido da Vox Populi por meio de pesquisas qualitativas.
O PT é o partido preferido do eleitorado, com 29% contra 7% do PSDB, tendo o PMDB no meio com 8% (os números conferem com outras pesquisas já realizadas). Impressiona o recall da sigla PMDB, que desde 1994 não disputa uma eleição presidencial mas teve 24% das citações.
Atrás do PT, com 35%, mas à frente dos tucanos (14%), que polarizaram com os petistas as quatro últimas eleições presidenciais.
Definitivamente, os tucanos precisam acertar na dose de paciência e ironia.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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