terça-feira, 9 de junho de 2009

Enquanto isso, no interior do país

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

IBGE mostra que a indústria ainda cortava emprego, horas de trabalho e salários em abril, em particular no interior

MUITO DEVAGAR , quase parando, a indústria brasileira se recupera do naufrágio do trimestre final de 2008, período em que a produção caiu 20%. De janeiro a abril, a recuperação foi de modestos 6,2%, com o que a indústria voltou a um nível de atividade semelhante ao de outubro de 2005.

Mas, no que diz respeito ao emprego, a indústria ainda caminha de volta para o passado, segundo números divulgados ontem pelo IBGE. O nível de emprego (pessoas ocupadas) na indústria cai mês a mês, desde outubro de 2008 -em agosto e setembro, ficara estagnado. No Norte, no Centro-Oeste e no Sul, a situação é ainda pior que a da média nacional.

Os dados são menos animadores que a pesquisa geral de emprego do mesmo IBGE, limitada a seis regiões metropolitanas. As informações não podem obviamente ser comparadas. Mas colocam um grão de sal nas demais estatísticas sobre trabalho, mostram que a deterioração continua nos setores com melhores salários e indica ameaças graves a certas partes da indústria.

A folha de pagamento da indústria caiu em abril (desde agosto, mês a mês, só cresceu em setembro e fevereiro). Em um ano, o nível de emprego caiu 5,6% na média nacional (ante abril de 2008). No conjunto das regiões Norte e Centro-Oeste, caiu 8,8%. No Rio Grande do Sul e no Paraná, idênticos 7,8%. Em Minas Gerais, 7,2%. Em Pernambuco, 7,1%.

No que diz respeito ao total de horas de trabalho pagas, a queda foi de 6,2% no Brasil (em relação a abril de 2008). No conjunto do Norte-Centro-Oeste, a queda foi de horríveis 10,2%. No Sul, de 7,5%.

Em Minas, apanham as indústrias de vestuário e veículos. No Norte-Centro-Oeste, a de madeira e a da Zona Franca (eletroeletrônicos, com queda de 20,4% no pessoal ocupado ante abril de 2008). Por quase todo o país, a indústria de máquinas apresenta declínio no número de horas pagas: em São Paulo (-11,7% ante abril de 2008), Rio Grande do Sul (-10,8%), em Minas (-17,6%).

A indústria espalhou-se mais pelo país depois da abertura econômica, na primeira metade dos anos 1990, e também devido à guerra fiscal (reduções de impostos e outros benefícios oferecidos por Estados menos industrializados) e ao progresso do agronegócio. Tal espraiamento, se reduziu salários, por outro lado elevou salários no interior. É óbvio, faz tempo, que não se pode pensar a indústria com base em dados de meia dúzia de aglomerações urbanas.

Dadas as limitações das nossas estatísticas nacionais de emprego e de renda (faltam recursos ao IBGE), tal mudança dificulta um tanto o acompanhamento das andanças dos indicadores macroeconômicos, das condições sociais e dos infortúnios de setores industriais inteiros.

De mais pontual, os números do IBGE, embora um tanto velhuscos, indicam que o emprego ainda encolhia depois de abril. Antes de contratar, as empresas aumentam o número de horas extras -mas as horas pagas ainda estavam caindo em abril.

O aumento da renda bancado pelo governo talvez compense parte da lerdeza industrial, mas, caso o crédito dos bancos não volte a crescer mais rápido, a recuperação tão cantada como certa tende a ser menos animada que a efusividade vista nos mercados financeiros e no governo.

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