DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Vera Magalhães
Vera Magalhães
Editora de Brasil
Existe uma brincadeira recorrente entre jornalistas em Brasília segundo a qual, sempre que há falta de assuntos quentes em política, pode-se recorrer a uma discussão sobre reforma política.
Da mesma forma, sempre que são confrontados com um novo escândalo de corrupção, congressistas e presidentes de partido se apressam em dizer que a panaceia para todas as mazelas é a dita reforma política.
Ao recorrer ao velho expediente, o PT mostra que está preocupado com a resposta que dará, em 2010, às cobranças diante de um inventário de dois mandatos de Lula que começa com o caso Waldomiro Diniz, passa pelo mensalão em 2005 e pelos "aloprados" em 2006 e chega à proteção a José Sarney em 2009.
Fazer Dilma Rousseff puxar o cordão da defesa por uma Constituinte exclusiva para aprovar a reforma política blindaria a candidata da responsabilidade de responder pelo passivo de Lula no campo da ética. Com a presidenciável à frente e os demais candidatos fazendo coro à ideia, estaria criada a cortina de fumaça para dizer que interessa discutir o "futuro", palavra mágica que já povoa as propagandas do PT.
Pouco importa, para essa estratégia, que seja praticamente impossível mobilizar o Congresso, em pleno ano eleitoral, para abraçar uma causa que só interessa ao PT. Também deve-se ignorar o fato de que os sucessivos fracassos em tentativas de votar uma reforma política -qualquer arremedo de reforma política, vale dizer- se deveram, em grande parte, a obstruções da própria base aliada, com o PT à frente.
A importância da nova jabuticaba que a campanha petista tentará introduzir no debate de 2010 -um plebiscito para uma questão que o próprio Congresso já discutiu e descartou mais de uma vez - se dá, portanto, só no terreno da retórica e do marketing político, tanto de Dilma quanto do próprio Lula.
Afinal, quando se fizer o balanço de seu governo bem avaliado nas áreas social e econômica, o presidente poderá dizer que, mais de uma vez, tentou pautar uma reforma importante para o avanço institucional do país, mas que o Legislativo, sempre ele, não quis responder à tarefa.
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