DEU EM O GLOBO
Numa demonstração de desconhecimento de geografia, geologia, ecologia, política economia e história, o presidente Lula chamou ontem de “vergonhosa” a manchete do GLOBO com a notícia de que a Europa suspendeu a exploração de petróleo em águas profundas no momento em que o Brasil vai em sentido oposto. Segundo Lula a Europa “não tem” petróleo no mar, desconhecendo que Noruega e Reino Unido estão entre os grandes produtores mundiais, extraindo-o do Mar do Norte. Em outro equivoco, Lula disse que o Mar Morto, que banha Jordânia e Israel, fica na... Europa.
Lula: EUA foram incompetentes
Presidente ataca O GLOBO. Para analistas, Brasil não está preparado para vazamento de óleo
Numa demonstração de desconhecimento de geografia, geologia, ecologia, política economia e história, o presidente Lula chamou ontem de “vergonhosa” a manchete do GLOBO com a notícia de que a Europa suspendeu a exploração de petróleo em águas profundas no momento em que o Brasil vai em sentido oposto. Segundo Lula a Europa “não tem” petróleo no mar, desconhecendo que Noruega e Reino Unido estão entre os grandes produtores mundiais, extraindo-o do Mar do Norte. Em outro equivoco, Lula disse que o Mar Morto, que banha Jordânia e Israel, fica na... Europa.
Lula: EUA foram incompetentes
Presidente ataca O GLOBO. Para analistas, Brasil não está preparado para vazamento de óleo
Bruno Dalvi*, Ramona Ordoñez e Danielle Nogueira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Vitória, que os Estados Unidos são incompetentes por não terem conseguido conter o vazamento de petróleo no poço do Golfo do México operado pela BP. E, pouco antes de inaugurar oficialmente a primeira produção contínua do pré-sal brasileiro, no litoral capixaba, Lula afirmou que a União Europeia (UE) só recomendou aos países do bloco suspender novos projetos de exploração em águas profundas porque lá não teria petróleo no mar. O presidente criticou reportagem publicada ontem no GLOBO mostrando que o Brasil está aumentando a produção de petróleo em águas profundas, caso do pré-sal, enquanto EUA e Europa estão revendo essa atividade por causa do acidente no Golfo do México, o maior desastre ambiental da história da indústria petrolífera.
- Quando li a manchete do jornal O GLOBO, eu não gosto de citar manchete, mas dizer que a Europa está parando de tirar petróleo do fundo do mar... eles não têm (petróleo). Essa manchete é vergonhosa. O que eles deveriam estar fazendo era criticar a incompetência dos Estados Unidos em não terem terminado o vazamento de óleo que já dura mais de 60 dias. Significa dizer que eles não conhecem nem a Petrobras. Se conhecessem, não fariam uma manchete dessas - disse Lula em entrevista à Rádio Litoral FM.
Especialista cobra transparência
Mais tarde, em discurso no navio plataforma FPSO Capixaba, no Campo de Baleia Franca, onde teve início a primeira produção contínua do pré-sal brasileiro, Lula disse que um acidente como o do Golfo do México não ocorreria com a Petrobras.
- Primeiro, é preciso saber qual país da Europa tem petróleo no fundo do mar. O pouco que tem no Mar Morto (sic) está acabando, no Mar do Norte está acabando. Ou seja, na verdade, talvez esteja por detrás disso a ideia de dizer: "Ô Brasil, não tira o seu petróleo do pré-sal, não! Deixa aí para alguém um dia vir tirar". E nós temos tecnologia. A empresa (que provocou o acidente no Golfo) que estava fazendo aquilo (nos EUA), para fazer mais barato, colocou menos do que precisava colocar e quando explodiu aconteceu o que aconteceu. Não é o caso que vai acontecer com a Petrobras, que 190 milhões de brasileiros estarão ajudando a Petrobras a tirar, da forma mais carinhosa possível, o nosso tão cheiroso e admirado petróleo do pré-sal.
Apesar de Lula afirmar que o petróleo no Mar do Norte está acabando, a Noruega produz hoje 2,3 milhões de barris de petróleo por dia e o Reino Unido, 1,4 milhão. O Mar Morto, citado pelo presidente, fica na verdade no Oriente Médio.
Especialistas, porém, temem que, com o avanço da produção em águas profundas no pré-sal, o Brasil se torne vulnerável a acidentes como o ocorrido nos EUA. Eles também cobram mais transparência dos órgãos reguladores e ambientais.
- Está havendo uma omissão por parte da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e do Ibama em dar transparência ao que planejam em termos de normas de segurança e fiscalização para o pré-sal. É injustificável - criticou o ex-diretor da ANP David Zylbersztajn, que, contudo, não acha necessário o Brasil adiar projetos em águas profundas como fizeram EUA e Noruega, e como recomendou a UE.
No Brasil, os maiores campos de petróleo situam-se em águas profundas e, no caso do pré-sal, que ainda será explorado, a profundidade é muito maior, de até sete mil metros. Nas primeiras áreas já pesquisadas do pré-sal, há reservas estimadas de 15 bilhões de barris, o que dobraria a capacidade de produção brasileira.
Zylbersztajn também critica a falta de transparência da Petrobras em relação à atuação no pré-sal. Para o advogado especialista em petróleo Alexandre Aragão, Petrobras e ANP precisam mostrar como são os sistemas de segurança no país e, se em função do acidente no Golfo do México, é preciso mudar alguns procedimentos. A estatal alega estar em período de silêncio devido à capitalização e não quis se manifestar.
Em nota, a ANP afirmou ontem que, "até o momento, não há indicações de que seja necessário alterar a atual regulamentação sobre segurança operacional das plataformas que operam em águas brasileiras". Segundo a agência, apenas com informações mais detalhadas sobre o acidente da BP, será possível determinar se será necessário tornar mais rigorosos os sistemas de segurança operacional no Brasil.
Para o oceanógrafo da Uerj Ricardo Carreira, que trabalha com monitoramento de poluição por petróleo, o país não está preparado para um acidente como o do Golfo do México:
- O que me preocupa é que não há um plano de ação integrada para contenção de vazamentos. A capacidade de resposta brasileira não está clara.
País concentra poços profundos
Edmar de Almeida, do Grupo de Economia de Energia da UFRJ, lembra que a produção petrolífera está em declínio nos países europeus e que, por isso, é mais fácil para eles tomar a decisão de suspender as perfurações de novos poços em alto mar. A Noruega, por exemplo, viu sua produção cair de 3,1 milhões de barris/dia de petróleo em 1999 para 2,3 milhões de barris diários no ano passado.
- Seria uma inconsequência o Brasil suspender seu programa. O maior potencial de aumento de produção em águas profundas no mundo está aqui.
Segundo Almeida, mais de 30% dos poços com 2 mil metros de profundidade ou mais já perfurados no mundo estão em costas brasileiras, e a Petrobras detém expertise para exercer a atividade.
* Especial para O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário