sexta-feira, 16 de julho de 2010

'Vemos uma partidarização frenética do Estado'

DEU EM O GLOBO

A artistas, Serra diz que, no governo Lula, país se transformou em uma "República sindical"

Natanael Damasceno e Alessandra Duarte

A uma plateia de artistas e intelectuais de música, cinema, teatro e literatura, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou o governo Lula de "partidarizar" o Estado brasileiro, que, hoje, seria uma "República sindical". A declaração foi dada durante um jantar na noite de anteontem, no restaurante Fiorentina, conhecido reduto da classe artística no Leme, na orla do Rio.

Segundo José Serra, "a partidarização (do Estado) é evidente":

- Você tem uma empresa boa, a de Correios e Telégrafos, hoje no chão justamente por loteamento político. Isso prejudica a empresa, que tem bons funcionários, que tem que permanecer estatal. Isso porque foi entregue a um grupo que não tem nada a ver com a finalidade da empresa. Isso é geral, no Estado inteiro. Tudo loteado, dividido, privatizado. E privatizar aqui não é vender para área privada, é ver um órgão estatal ser apropriado por interesses privados, partidários.

Dizendo que, caso eleito, vai "estatizar o Estado" para ajudar no combate à corrupção, o tucano comparou o aparelhamento atual a críticas feitas ao antigo governo João Goulart:

- Vemos uma partidarização frenética do Estado. Está tudo aparelhado. Em 1964, falavam da República sindicalista do Jango. Brincadeira. Conheci todos no exílio. Eram anjinhos. Não tem nada a ver com o que acontece agora. Agora tem uma República sindicalista. É uma elite sindical alinhada ao governo pelo dinheiro para fazer trabalho político partidário - disse, acrescentando que o governo usa estatais para fins políticos na cultura, e que a Petrobras lidera a estratégia.

Serra chegou ao encontro - onde estavam ainda o candidato a vice de Serra, Indio da Costa, do DEM, e o candidato do PV ao governo, Fernando Gabeira - por volta das 23h, com uma hora de atraso. Foram convidados mais de 300 nomes; cerca de 150 foram, entre eles os atores Carlos Vereza, Maitê Proença e Rosamaria Murtinho; os músicos Fausto Fawcett, Charles Gavin e Sandra de Sá; e o humorista Marcelo Madureira. O candidato não especificou suas propostas para a área. Disse apenas que a Lei Rouanet não basta para fomentar o setor.

Para o cineasta Zelito Viana, um dos participantes, "a cara do Serra melhorou":

- Ele está animado, disse que está tendo uma resposta boa das pessoas nas ruas -- disse Zelito, que, tucano declarado, fez uma análise deste início de campanha. - O Serra é competente e se preparou a vida toda para isso. Mas tem uns problemas. Ele tem ar de quem sabe mais do que todo mundo, e isso é ruim. Ele de fato sabe mais, o problema é o ar. Ele tem consciência disso, mas precisa se policiar mais.

Zelito ficou sabendo do encontro por meio do poeta Ferreira Gullar. Que também estava lá:

- Ele passou a ideia de que são os artistas que dizem o que é cultura. O Estado só ajuda: dá dinheiro, cria estrutura - disse Gullar, que conheceu o tucano quando Serra era do movimento estudantil. - Não é como o pensamento do (assessor da Presidência para Assuntos Internacionais) Marco Aurelio Garcia, que andou dizendo que filme americano é a Quarta Frota (divisão da Marinha americana que cuida do Atlântico Sul). Isso é coisa anterior a CPC da UNE.

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