José Serra afirmou que entra na disputa pela prefeitura paulistana para conter o avanço do projeto político do PT e que o "futuro do país" depende dessa eleição. Ao oficializar sua inscrição nas prévias, se disse preocupado com a possibilidade de isolamento do PSDB
Serra diz que futuro do país depende da eleição em SP
Tucano afirma que entrou na corrida à prefeitura para conter avanço do PT
Daniela Lima
SÃO PAULO - O ex-governador José Serra (PSDB) afirmou ontem que entrou na corrida à Prefeitura de São Paulo para deter o avanço do PT como força hegemônica na política nacional e disse que o futuro do país depende do resultado da eleição deste ano na capital.
Numa carta em que formalizou para o PSDB seu desejo de concorrer à prefeitura, Serra disse que decidiu se candidatar depois de refletir sobre o "avanço da hegemonia de uma força política" e definiu a eleição em São Paulo como um embate entre "duas visões distintas de Brasil".
"Duas visões distintas de administração dos bens coletivos, duas visões distintas de democracia, duas visões distintas de respeito aos valores republicanos", escreveu.
Serra e os tucanos estão preocupados com a possibilidade de isolamento do PSDB se o PT vencer a eleição municipal em São Paulo.
Por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT lançou o ex-ministro da Educação Fernando Haddad como candidato a prefeito. De perfil moderado, Haddad é a aposta dos petistas para conquistar o eleitorado paulistano e tirar a prefeitura da órbita do PSDB.
A vitória na capital, onde eleitores mais conservadores sempre rejeitaram candidatos petistas, seria um passo importante para o PT, que há 18 anos tenta tirar os tucanos do governo do Estado.
Para fortalecer a campanha de Haddad, Lula tentou replicar a estratégia que levou à eleição de sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, em 2010, construindo um amplo arco de alianças em torno de seu candidato, e procurando o prefeito Gilberto Kassab para negociar a adesão de seu partido, o PSD.
O namoro de Kassab com o PT contribuiu para a decisão de Serra de entrar na disputa municipal. O ex-governador avaliou a aproximação entre o prefeito -seu afilhado político- e Lula como "um desastre" para o futuro da oposição em São Paulo.
A aproximação de Lula e Kassab poderia resultar numa aliança entre o PT e o PSD no plano nacional, o que liquidaria as chance de manter o prefeito no alcance da oposição e do próprio Serra.
A partir daí, o tucano passou a reconsiderar sua candidatura a prefeito. Kassab abandonou as negociações com o PT e declarou apoio à candidatura de Serra.
Em visita a obras em Pernambuco, a presidente Dilma Rousseff indicou que prefere se manter distante da disputa eleitoral. "Sou presidente da República, não sou prefeita de São Paulo nem tenho nenhum pronunciamento a fazer a esse respeito", afirmou, questionada sobre o cenário em São Paulo. "Essa é uma questão que tem que ser tratada a nível municipal".
Com a carta entregue ontem, Serra oficializou sua inscrição nas prévias convocadas pelo PSDB para definir seu candidato. Ele disputará a preferência dos militantes do partido com o secretário José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Trípoli.
Após receber a carta de Serra, a executiva municipal do PSDB se reuniu para adiar as prévias para o dia 25 de março. Elas estavam marcadas para o dia 4, mas, com suporte do governador Geraldo Alckmin, o grupo serrista conseguiu mudar a data para que Serra tenha tempo de se incorporar ao processo.
A reunião foi tensa e dirigentes do PSDB ligados Aníbal e Trípoli acusaram Serra de "rachar" o partido. Após o embate, o presidente da executiva, Júlio Semeghini, admitiu que será preciso "reconstruir a unidade" da sigla.
Colaboraram Fabio Guibu, de Recife, e Uirá Machado, de São Paulo
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário