“Lendo Gramsci, dávamo-nos conta de que era muito mais importante aquilo que ele dizia do que como o dizia (isto é, com qual método), como também sob qual “etiqueta ” dever-se-ia colocá-lo. Em segundo lugar, era um marxismo não escolástico, não dogmático e não exegético: não-escolástico porque não repetia fórmulas, mas estudava problemas reais, ainda que à luz daquilo que havia apreendido de Marx de Engels e de Lênin; não dogmático porque não acreditava a que pudesse resolver os problemas reais citando Marx, mas estudando a história e levando em grande conta aquilo que haviam dito autores diferentes de Marx, e não-marxistas (como de resto havia feito Marx, com a diferença de que Marx, para fazer a crítica da economia política, havia estudado os clássicos da economia, e Gramsci, para fazer a crítica da política estudou o clássico da política por excelência, Maquiavel); não exegético porque nas raras vezes em que introduz no seu discurso uma citação de Marx ou de Lênin, não está torturado pelo falso problema da interpretação genuína de Marx, que atormenta tantos marxólogos de hoje, como se o marxismo fosse uma idéia platônica e não um produto histórico, como se somente aquele que correspondesse à idéia fosse o” verdadeiro” Marx que apenas alguns poucos videntes estão em condições de ver.”
Norberto Bobbio (18/10/1909-9/01/2004), filósofo italiano. “Ensaios sobre Gramsci”, págs. 112-3. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 2002.
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