No pior dia da crise com sua base parlamentar, a presidente Dilma Rousseff sofreu ontem uma série de derrotas na Câmara. A maior delas foi o adiamento da votação da Lei Geral da Copa, ação que foi encabeçada pelo PMDB, seu maior aliado. A insatisfação dos aliados ganhou força desde que a presidente trocou os líderes do governo no Congresso
Deputados rebelados impõem derrotas em série ao governo
Votação de lei da Copa é adiada, e projetos que contrariam o Planalto avançam
Comissões aprovam pedidos de depoimentos de dois ministros e do presidente da Comissão de Ética da Presidência
BRASÍLIA - No pior dia até agora da atual crise com sua base parlamentar, a presidente Dilma Rousseff sofreu ontem uma série de derrotas na Câmara, teve ministros chamados a se explicar no Congresso e autorizou ataques diretos a deputados aliados.
A relação de Dilma com o Congresso nunca foi tranquila, mas a insatisfação dos parlamentares com o Planalto tornou-se pública -e transformou-se em crise- com a rejeição, no início do mês, do indicado da presidente para uma agência reguladora.
O Planalto decidiu então trocar seus líderes no Congresso, o que acentuou a crise. A afirmação do novo líder no Senado, Eduardo Braga (PMDB), de que "chegou o momento de novas práticas", ajudou a piorar o clima.
O maior revés ontem foi o adiamento da votação da Lei Geral da Copa. Maior aliado, o PMDB liderou a rebelião.
A votação não ocorreu porque a bancada ruralista, que reúne 230 de 513 deputados de todos os partidos, exige que o Código Florestal entre em pauta antes da Lei Geral.
Deputados descontentes e parte das bancadas da saúde e dos evangélicos -que não querem álcool nos estádios- se aliaram aos ruralistas.
Diante da resistência, o Planalto instruiu seus líderes a atacar os dissidentes.
"Não vamos entrar nesse engodo, nessa chantagem que às vezes predadores da agricultura tentam impor ao governo", disse o líder do PT, Jilmar Tatto (SP). Foi vaiado.
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), ruralista, rebateu: "A chantagem é do governo! Essa declaração intensifica, incendeia a crise".
A Câmara chegou a iniciar a votação da Lei Geral da Copa, mas ela foi logo suspensa e adiada com o apoio da maioria dos partidos.
O novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT), disse que Dilma dificilmente aceitará votar o Código antes da lei da Copa.
O Planalto teme ser derrotado no Código Florestal, o que provocaria desgaste para o governo na conferência ambiental Rio+20, em junho.
Antes das derrotas, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) chegou a dizer que a crise estava superada. "Está tudo ótimo."
Logo depois, porém, veio o primeiro sinal contrário. Contrariando orientação do Planalto, a bancada ruralista aprovou na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara texto que transfere a competência sobre a demarcação de terras indígenas da União para o Congresso -o projeto ainda precisa passar por comissão especial e pelo plenário, em dois turnos.
Ao mesmo tempo, outra comissão, a de Trabalho, aprovava por 11 a 9 a convocação da ministra Miriam Belchior (Planejamento) para falar sobre concursos públicos.
Além dessa convocação, de caráter obrigatório, outra comissão, a de Fiscalização e Controle, marcou outros dois depoimentos com potencial para constranger o governo.
Mas nos casos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência, Sepúlveda Pertence, o governo fechou acordo para que fossem apenas convidados.
O ministro deve ser questionado sobre problemas na Casa da Moeda e no Banco do Brasil. Pertence deverá falar sobre suspeitas relativas a consultorias de Fernando Pimentel (Desenvolvimento).
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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