Bancos privados querem "discutir a
relação" cara a cara com o governo e "diálogo mais produtivo"
Os maiores bancos privados querem um
"canal de conversação direta" com o governo a fim de tratar de taxas
de juros e outros estresses que fermentaram neste mês de abril.
Difícil imaginar que Bradesco ou Itaú não
disponham de algo como um telefone vermelho ou ao menos rosadinho para falar
com Brasília.
Que os bancos, porém, queiram "discutir
a relação" cara a cara com o Planalto dá uma medida da tensão no ambiente
formado depois do início da campanha oficial contra as taxas dos bancos.
Os bancos pretendem retomar a "discussão
racional" com o governo. Querem em primeiro lugar baixar a bola, pois faz
duas semanas que o jogo entre banca e Brasília tem sido dominado por chutões.
Segundo, pretendem mesmo mostrar ao governo
que certas medidas de baixíssimo custo político (ou qualquer outro) podem
ajudar a reduzir os juros. Os bancos querem garantias melhores e mais variadas
(para receber de volta o dinheiro) e menos riscos para usar o cadastro positivo
de crédito dos clientes.
Um dirigente de grande banco privado
brasileiro reconhece que "pisamos na bola". Isto é, o clima político
ficou ruim para os bancos depois do início da campanha do governo e da reação
da Febraban.
O diretor diz que, "desde sempre",
os bancos (ou ao menos o banco dele) têm um bom diálogo com a equipe econômica,
mas que houve um "erro de comunicação" e mal-entendidos que acabaram
sendo "explorados politicamente em demasia".
Recorde-se que o caldo entornou na sequência
da missão nada diplomática da Febraban, a associação dos bancos, que foi a
Brasília dar sua versão sobre o motivo dos juros altos e reivindicar
providências regulatórias do governo que criariam as condições para reduzi-los.
O presidente da Febraban, Murilo Portugal,
entregou os pleitos da federação para o ministério da Fazenda e, em seguida e
na prática, lavou as mãos dos bancos ao dizer então (no dia 10) "não se
trata de quem vai ceder primeiro, mas sim de todos trabalharmos na mesma
direção. Agora, a bola está com a Fazenda". Não pegou nada bem.
A Fazenda a princípio e a contragosto engoliu
a bola chutada pela Febraban. Depois de um reunião com Dilma Rousseff, que
ficou enfurecida com a história da bola, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
rebateu com chutões seguidos, de resto apoiado por discursos quase diários da
presidente.
O ministro disse na ocasião que queriam
"jogar a conta [da redução dos juros] nas costas do governo", mas que
os bancos tinham gordura nos lucros para queimar.
Lembre-se que Portugal já não contava com a
simpatia de Mantega, para usar um eufemismo diplomático. Além do histórico
tucano, o presidente da Febraban era praticamente o vice de Antonio Palocci na
Fazenda, demitindo-se logo que Mantega foi nomeado para o posto. Não pegou nada
bem.
O governo está feliz com a querela, com a
popularidade da presidente e com a "retomada iminente do
crescimento". Diz-se por lá que Dilma tirou os bancos da sua "zona de
conforto" (para os mais animados, que "dobrou a banca"), embora
gente mais ponderada reconheça que ainda pouquíssimo se sabe sobre o resultado
da campanha contra os juros em termos efetivos: em aumento do crédito a taxas
mais baixas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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