O
governo Dilma Rousseff indicou o deputado Odair Cunha (PT-MG) como relator da
CPI que investigará a relação do empresário Carlinhos Cachoeira com políticos,
sinalizando a intenção de mantê-la sob controle. O Planalto quer evitar que a
investigação constranja o governo. Também tenta impedir o fortalecimento de
setores do PT ligados a Lula e José Dirceu, que pregam o confronto com a
oposição e queriam outro relator
CACHOEIRAGATE/INVESTIGAÇÃO
Planalto
emplaca relator e tenta obter controle sobre CPI
Odair Cunha (PT-MG) foi escolhido com o apoio
da ministra Ideli Salvatti e do líder do governo na Câmara
Petista diz que não fará "caça às
bruxas" e rejeita ideia de investigar jornalistas, juízes e procuradores
BRASÍLIA - O governo Dilma Rousseff indicou
ontem um aliado como relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que vai
investigar os negócios do empresário Carlos Cachoeira, sinalizando a intenção
de manter as atividades da comissão sob seu controle.
Como relator, o deputado Odair Cunha (PT-MG)
terá amplos poderes para conduzir as investigações e será responsável pelo relatório
em que serão expostas as conclusões da CPI, que foi instalada formalmente ontem
à noite.
O Palácio do Planalto quer evitar que a
comissão crie constrangimentos para o governo federal e trabalha para conter os
setores do PT que desejam transformá-la em instrumento para um confronto com os
partidos que fazem oposição à presidente.
Investigações feitas pela Polícia Federal nos
últimos três anos levaram Cachoeira à prisão em fevereiro e expuseram seu
relacionamento com vários negócios no setor público e políticos de seis
partidos diferentes, incluindo o PT de Dilma e o PSDB, o maior partido da
oposição.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi
um dos principais incentivadores da criação da comissão há duas semanas, quando
ela começou a ser negociada por líderes partidários no Congresso.
Lula viu na CPI um instrumento para
enfraquecer a oposição e assim reduzir os danos que o julgamento do mensalão
poderá criar para ele e os petistas neste ano.
Mas Dilma teme que as investigações também
provoquem prejuízos para a sua imagem, por causa das ligações de Cachoeira com
políticos do PT e a construtora Delta, que tem vários contratos com o governo
federal.
Aval
A indicação de Odair Cunha como relator da
CPI recebeu o aval da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e
do líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Outro aliado do Planalto, o senador Vital do
Rêgo (PMDB-PB), será o presidente da CPI. Dos 32 membros da comissão, 25 foram
indicados pelo PT, pelo PMDB e por outros partidos governistas.
Uma das ideias em discussão no governo é
deixar para o fim das investigações a convocação de Cachoeira para depor, o que
poderia atenuar o efeito explosivo que seu depoimento provavelmente teria se
fosse tomado agora.
Antes, a CPI vai pedir os documentos da
investigação da PF e ouvir o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e
os delegados que investigaram Cachoeira.
Cunha pregou moderação em suas primeiras
declarações. "Não vou fazer caça às bruxas", disse à Folha, ao ser
perguntado sobre a possibilidade de incluir entre os focos das investigações as
relações de Cachoeira com jornalistas, juízes e procuradores.
O primeiro indicado pelo PT para a relatoria
da CPI foi o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), que tinha o apoio de Lula mas
foi vetado por Dilma, que em março afastou-o da liderança do governo na Câmara
e substituiu-o por Arlindo Chinaglia.
A escolha de Cunha foi a maneira encontrada
por Dilma para se contrapor à ala paulista do PT, que tem forte influência de
Lula e do ex-ministro José Dirceu, um dos 38 réus do processo do mensalão, que
o Supremo Tribunal Federal se prepara para julgar nos próximos meses.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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