Integrantes do próprio PSD suspeitam que a Executiva Nacional, comandada por Gilberto Kassab, tramou o fim da aliança com o PSB e a migração para o PT nas eleições para prefeito de BH. É que o prefeito de São Paulo é aliado de José Serra, adversário de Aécio Neves na corrida presidencial.
2014 motiva intervenção
Descontentes com a interferência de Gilberto Kassab no PSD de BH para apoiar o PT garantem que o alvo foi a candidatura presidencial do senador mineiro, numa manobra de José Serra
Alessandra Mello e Juliana Cipriani
A migração do PSD da coligação do prefeito Marcio Lacerda (PSB), que tenta a reeleição, para a do ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias (PT) pode ter um dedo tucano. Essa é a avaliação de alguns integrantes do partido, revoltados com a interferência do comando nacional da legenda, presidida pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, nas eleições da capital mineira. É que o prefeito paulistano é aliado de José Serra (PSDB), um dos maiores adversários da candidatura presidencial do senador Aécio Neves (PSDB), principal cabo eleitoral de Lacerda. Tanto empenho em ficar com o PSD pode ser explicado pela força da legenda, que tem o quarto maior tempo entre os partidos no programa eleitoral gratuito.
Nos bastidores, há informações de que Serra pode abandonar o ninho tucano para se candidatar novamente a presidente da República – cargo que disputou por duas vezes, sem sucesso – dessa vez pelo partido de Kassab, em 2014. Anteontem pela manhã, os pessedistas do grupo de Aécio protocolaram no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) apoio à candidatura de Lacerda, na aliança que reúne todas as legendas em Minas alinhadas ao projeto presidencial do senador. No início da noite, pouco antes do encerramento do prazo para o registro das chapas, o presidente do PSD mineiro, Paulo Safady Simão, dissolveu , por determinação do comando nacional do PSD, o diretório municipal e registrou o apoio ao candidato do PT.
A decisão agora vai ser tomada pela Justiça Eleitoral e pode , em última instância, chegar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O TRE-MG tem até amanhã para publicar a ata com os registros de todas as chapas. Depois disso, será aberto um prazo de cinco dias para a apresentação de documentos e pedidos de impugnação de registros. Findo esse período, a Justiça vai decidir se o PSD segue com Lacerda ou Patrus. Dependendo da decisão, pode haver recurso, de ambos os grupos do PSD, e a novela se arrastar. Em Minas, são dois minutos que podem ser tirados de Lacerda e acrescentados a Patrus, caso a Direção Nacional consiga fazer valer seu desejo.
O secretário extraordinário de Gestão Metropolitana, Alexandre Silveira (PSD), divulgou carta aberta de repúdio a Kassab pela interferência e disse estar convicto de que a aliança com o PSB de Marcio Lacerda é um "ato jurídico perfeito". Segundo ele, consta na ata do partido entregue ao TRE-MG a decisão de 23 de junho, tomada pela convenção municipal, de se coligar com o PSB. De acordo com ele, a mudança foi pedida pela Executiva Nacional no dia 4, portanto depois do prazo legal para as decisões. "O que o presidente estadual está tentando fazer, junto com a nacional, é uma tentativa abrupta de tolher a decisão que nós mineiros tomamos democraticamente para dar uma satisfação pública do que prometeram e não puderam entregar", disse.
A estratégia da direção nacional atenderia não só à interferência da presidente Dilma – a quem foi atribuída a intervenção para que o PSD migrasse seu apoio do PSB para o PT – mas também a Serra, para minar seu companheiro de partido, Aécio Neves. Um integrante do partido, que não quis se identificar, não tem dúvida: a manobra foi feita para "enfraquecer o projeto dos mineiros". Alexandre Silveira rechaça qualquer interferência externa. "Quando entregou o partido para o Serra em São Paulo, o Kassab não consultou os mineiros. Gostaríamos que as decisões de Minas fossem preservadas, autônomas e restritas aos mineiros e que não precisássemos consultá-lo", defendeu.
Paulo Simão nega que haja interferência de Kassab a favor de Serra na disputa de Belo Horizonte. "Estão vendo cabelo em ovo". Segundo ele, a decisão de apoio a Patrus foi tomada em Brasília por toda a bancada federal com o apoio de Kassab. "Mas não tem nada a ver com o Serra nem com 2014", garantiu.
Bigamia Outros três partidos foram registrados duas vezes no TRE-MG na disputa majoritária, constando tanto da chapa de Lacerda como na de Patrus. Estão nesta situação PCdoB, PRB e PDT. Os dirigentes das legendas atribuem o problema a um erro técnico e dizem estar tranquilos de que a decisão dos partidos vai prevalecer. Segundo o presidente do PDT, Mário Heringer, na ata do partido o que prevalece é a coligação com Lacerda. Apesar de ter sido cotado para vice na chapa de Patrus Ananias, decisão que acabou mudada por pressão do PMDB, ele afirma que o PT nunca constou da ata. "Ninguém pode nos colocar em uma ata sem que concordemos. Erros aparecem como oportunidade de contestar, mas estamos com o PSB", afirmou.
A presidente do PCdoB, deputada federal Jô Moraes, considerou um erro a inclusão do partido na coligação de Lacerda. "A ata do PSB deve ter sido registrada antes da nossa constando o PT. A convenção indicou o apoio a Lacerda mas autorizou a Executiva Municipal a fazer alterações e nós fizemos. Na nossa ata estamos com Patrus e é o que vale", avisou.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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