Deputado anunciou renúncia aos cargos de parlamentar e secretário de Estado e disse que o socialista é o mais preparado para assumir a PCR.
Rands aprofunda crise no PT
Em protesto contra direção petista, deputado anuncia saída do partido e da vida pública e elogia socialista Geraldo Júlio
Paulo Augusto
Um dos trechos da famosa Lei de Murphy diz, sem perdão: “Nada é tão ruim que não possa ser piorado”. A crise interna do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, que parecia ter se acalmado nos últimos dias, voltou a sofrer um duro golpe, ontem, com uma carta divulgada pelo secretário estadual de Governo e ex-pré-candidato petista à Prefeitura do Recife, Maurício Rands. No texto, intitulado Carta ao povo pernambucano, o também deputado federal faz críticas à direção nacional do PT – que “autoritariamente (impôs) a retirada à minha candidatura e à do atual prefeito” –, tece elogios ao candidato da nova Frente Popular, Geraldo Júlio (PSB) – “é o quadro mais preparado para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal do Recife” –, e, surpreendentemente, anuncia sua desfiliação à legenda, devolvendo seu mandato ao partido – “saio da vida pública e da política partidária para exercer ainda mais plenamente a cidadania”.
Em síntese: a inesperada decisão de Maurício Rands, anunciada um dia após sua chegada de uma viagem que durou cerca de um mês aos Estados Unidos, é mais um capítulo na interminável saga de autofagia que o Partido dos Trabalhadores vem promovendo – em especial, a partir de dezembro passado, quando o prefeito João da Costa foi alvo de um ultimato interno, por parte do grupo do qual fazia parte o próprio Rands. Desse ultimato, surgiram vários episódios conturbados, desde o lançamento da pré-candidatura a prefeito do secretário estadual de Governo, passando por um mal-sucedido e fratricida processo de prévia, culminando com a exclusão – forçada ou não – dos dois petistas que tentaram, pela via da chamada “democracia interna” do PT, ser candidatos.
“Depois da decisão da direção nacional do PT, impondo autoritariamente a retirada à minha candidatura e à do atual prefeito, recolhi-me à reflexão. Ponderei sobre o processo das prévias e sobre o momento político mais geral. Concluí que esgotei por inteiro minha motivação e a razão para continuar lutando por uma renovação no PT”, desabafou Maurício Rands, em sua carta.
Ao mesmo tempo, em que foi duro com o seu agora ex-partido, o deputado federal explicitou sua nova preferência eleitoral, repetindo os argumentos que o governador Eduardo Campos (PSB) utilizou para justificar o rompimento com os petistas. “Minha candidatura buscou construir uma legítima renovação por dentro do PT e da Frente Popular. (...) Porém, setores dominantes da direção nacional do PT já tinham outro roteiro que não o debate democrático. Ou seja, cometeram o grave equívoco de ter a pretensão de impor, a partir de São Paulo, um candidato à Frente Popular e ao povo do Recife”, avaliou.
Trocando em miúdos, a Carta ao povo pernambucano de Rands não significa “apenas” uma reviravolta completa na história daquele que, até bem pouco tempo, era um dos principais mosqueteiros do exército petista no Estado. Mais que isto, simboliza a desordenação atual em que vive o Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, pondo cada vez mais em risco seu prêmio maior, a Prefeitura do Recife. Tal qual D’Artagnan, Humberto Costa vai ter que ser um hábil espadachim para reverter essa história.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
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