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após o relator do mensalão, Joaquim Barbosa, ter finalizado seu voto no
capítulo 6 condenando 12 réus, o ministro revisor, Ricardo Lewandowski, começou
a votar discordando do colega ao absolver o deputado Pedro Henry (PP-MT). Eles
divergiram também no caso do ex-deputado Pedro Corrêa. Lewandowski o condenou
por corrupção passiva, mas não por lavagem de dinheiro, como fizera Barbosa
Novo
round entre relator e revisor
Barbosa condena 12
réus acusados de receber propina; Lewandowski absolve Pedro Henry
André de Souza, Carolina
Brígido
UM JULGAMENTO PARA A
HISTÓRIA
BRASÍLIA O relator do
processo do mensalão, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski,
voltaram a divergir ontem, desta vez sobre a culpa dos políticos acusados de
receber propina em troca de apoio ao governo Lula no Congresso. O relator
concluiu seu voto sobre o capítulo 6 com a condenação de 12 réus por terem se
beneficiado do esquema. Já o revisor começou a votar condenando o ex-deputado
Pedro Corrêa por corrupção passiva, mas absolvendo-o do crime de lavagem de
dinheiro. Lewandowski ainda absolveu o deputado Pedro Henry (PP-MT) de todos os
crimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Barbosa declarou que
líderes de quatro partidos - PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB - venderam a lealdade
ao governo Lula por milhões de reais. Para ele, o governo montou sua base de
apoio no Congresso às custas do valerioduto.
- A lealdade foi
concedida em troca de suntuosas remunerações - afirmou o relator.
Mesmo tendo
considerado Pedro Corrêa culpado por formação de quadrilha, Lewandowski fez
questão de destacar que não há prova de ato de ofício cometido pelo então
parlamentar. O revisor só teve tempo de julgar Corrêa e Henry ontem. Ele vai
retomar o assunto na segunda-feira, na próxima sessão no STF.
Ao condenar os réus,
Barbosa ressaltou a responsabilidade dos parlamentares na República e rebateu o
argumento da defesa de que a Constituição confere aos deputados imunidade
relativa a seus votos e opiniões:
- A inviolabilidade
de que gozam os parlamentares por suas opiniões, palavras e votos não significa
que o titular do mandato possa comercializar ou rentabilizar o exercício da
função pública que exerce.
Ao longo da semana,
Barbosa condenou cinco réus ligados ao PP por corrupção passiva, lavagem de
dinheiro e formação de quadrilha. Em seguida, foram condenados três integrantes
do PL. Depois, Barbosa condenou por corrupção passiva e lavagem de dinheiro o
presidente do PTB, Roberto Jefferson, e outros dois integrantes da legenda.
Ontem, foi a vez do ex-deputado José Borba (PMDB-PR), por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro. O relator absolveu apenas o assessor parlamentar Antonio
Lamas, por falta de provas.
- José Borba, que
integrava a ala do partido que apoiava o governo na Câmara, recebeu R$ 2,1
milhões em repasses concentrados em datas próximas às reformas da Previdência e
tributária. Eu não vejo como divorciar os pagamentos realizados da atividade do
parlamentar na Câmara, razão pela qual eu considero materializado o delito de
corrupção passiva - disse Barbosa.
Lewandowski deixou
clara sua posição sobre a corrupção passiva: para ele, é preciso comprovar que
o agente público recebeu vantagem indevida e cometeu um ato de ofício. Mas ele
sustentou que o plenário entendeu de forma diferente e por isso ele seguiria a
nova orientação: não haver necessidade de confirmação de que o ato de ofício
ocorreu.
O revisor citou votos
de colegas em outros capítulos do processo do mensalão para comprovar sua tese.
E condenou Corrêa por corrupção passiva. Depois, absolveu o réu do crime de
lavagem de dinheiro e deixou para examinar depois a acusação de formação de
quadrilha.
Lewandowski ainda
absolveu Pedro Henry das acusações de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
formação de quadrilha. Disse que não há prova de que ele integrou o esquema:
- O parquet
(Ministério Público) não demonstrou, nem no curso da instrução criminal e em
qualquer outro momento, de que forma ele teria concorrido para o cometimento da
figura típica da quadrilha. Baseou-se apenas e tão somente na sua condição de
líder do PP na Câmara à época dos fatos.
Mas Barbosa disse
estar convencido de que os parlamentares acusados de receber dinheiro do
mensalão agiram para garantir a continuidade dos repasses, ou seja, colaborando
em votações importantes para o governo:
- Se os parlamentares
divergissem da orientação do governo e assim contrariassem os interesses de
quem os estava a corromper, deixariam de receber os milhares de reais em
espécie com que vinham sendo agraciados.
FONTE: O GLOBO
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