Todos os dias, as
estatísticas oficiais vão repassando sinais de que alguma coisa está errada na
política econômica. Mas o governo Dilma não parece disposto a dar-lhes a devida
importância.
Nesta quinta-feira,
por exemplo, o IBGE revelou que o desemprego caiu, em agosto, para o nível mais
baixo para o mês desde 2002, para 5,3% da força de trabalho. E, no entanto, o
setor produtivo continua devagar demais, quase parando.
Os números de julho
(desocupação de 5,4%) não estavam disponíveis devido à greve dos funcionários
do IBGE. Mas foram mais baixos do que os 5,9% registrados em junho.
O problema está em
que a economia brasileira apresenta hoje um quadro de pleno emprego numa
conjuntura de baixo crescimento. E isso está acontecendo, em grande parte,
porque o governo federal fez o diagnóstico equivocado de que o mal a atacar é a
ausência de demanda (baixo nível de consumo), não a falta de oferta (baixo
nível de produção).
E, com base nessa
visão equivocada, o governo vai repassando estímulos e mais estímulos ao
consumo (mais crédito, mais recursos à disposição dos bancos e mais generosas
reduções de impostos), sem contrapartida de empurrão equivalente nos
investimentos.
Uma das indicações de
que a análise do governo está errada são as reiteradas afirmações do ministro
da Fazenda, Guido Mantega, para quem a elevação de custos da mão de obra não é
incompatível com os eventuais ganhos de produtividade do trabalho. Ele parece
se apegar mais aos dados sobre contratação de mão de obra com carteira assinada
do que aos do desemprego. A propósito, ata após ata do Copom, o Banco Central
vem dizendo o contrário do que diz o ministro. Apesar disso, o governo Dilma dá
indicações de que começou a entender o que se passa e já deu os primeiros
passos para mudar a rota. É pouco, porque as distorções vão se avolumando.
Uma delas é que os
custos da mão de obra estão subindo – somando-se ao já excessivo custo Brasil –
e, assim, retiram competitividade do setor produtivo. À medida que se acentuam
as pressões sobre o mercado de trabalho, cresce também o caldo de cultura que
impulsiona as greves.
Outra distorção é a
que se dá no comércio exterior. As importações têm de se expandir mais do que
as exportações, porque o setor produtivo não está dando conta de suprir o
mercado interno. Isso implica perspectiva de aumento do déficit nas contas
externas.
Em todo o caso, fica
aí para ser respondida uma pergunta intrigante: se a economia tem vivido
situação de pleno emprego a um ritmo de crescimento de somente 1,5% ao ano,
como serão as pressões sobre o mercado de trabalho, caso sejam confirmadas as
projeções do ministro Mantega, de que, já no último trimestre, a economia
estará rodando na velocidade de 4,0% a 5,0% ao ano?
Só por conta desses
desvios, parece inevitável que, nos próximos meses, boa parte dos subsídios ao
consumo acabe sendo retirada.
Mais devagar. O
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apresentou em agosto
números aparentemente conflitantes com os do desemprego: avanço de somente
0,26% da contratação de mão de obra com carteira assinada, em relação a julho.
Uma explicação é o crescimento da camada de autônomos (trabalho por conta
própria). Não são desempregados, mas também não aparecem nas estatísticas do
Caged.
FONTE: O ESTADO DE S.
PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário