Júnia Gama
BRASÍLIA - Na conversa que teve com
Teori Zavascki para convidá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF), a presidente
Dilma Rousseff acertou com o ministro que ele não votaria na parte principal do
julgamento do mensalão e tampouco participaria do cálculo das penas. De acordo
com assessores do Palácio do Planalto, a pressa da presidente foi para indicar
logo o ministro e esvaziar pressões políticas, principalmente vindas do PT, que
pretendia emplacar um nome simpático aos réus do mensalão na vaga deixada por
Cezar Peluso.
Com a diminuição da pressão desde que Zavascki foi indicado, a avaliação no
governo é de que não há pressa para que ele assuma sua cadeira no STF. Por esse
motivo, o governo não se incomodou ontem com o adiamento do fim da sabatina
para depois das eleições.
Segundo pessoas próximas à presidente, Dilma e Zavascki concordaram que a
abstenção no julgamento seria necessária para blindá-la de acusações de que
teria colocado o ministro no Supremo com o objetivo de interferir no resultado.
O acordo não impediria, no entanto, que Zavascki participe de deliberações
sobre recursos ou embargos, na parte final do processo. Para isso, avalia o Planalto,
não há problema.
A fala do ministro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ontem, foi
interpretada por assessores do Planalto como uma maneira de deixar aberta a
possibilidade de participar no futuro, mas sinalizando que, sem ter acompanhado
o relatório e os debates, o correto seria não deliberar neste momento no
processo que analisa as acusações contra 37 réus.
Na base de apoio ao governo, prevaleceu o corpo mole para levar adiante a
sabatina de Zavascki. Desde a manhã de ontem, o clima era de pouca pressa, como
resumiu um cacique peemedebista:
- Realmente, a indicação de Zavascki foi muito rápida, diferentemente da de
outros ministros, que levaram alguns meses para serem escolhidos. Mas também
não vejo urgência dele ser nomeado já. Isso pode ficar para depois das eleições
municipais.
O próprio líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), mostrou pouca
disposição em brigar para que a sabatina fosse concluída ainda ontem.
- Se a CCJ não terminar a sabatina e votar até as 16h, não deve ir para
plenário hoje (ontem). Mas não creio que isso seja um problema - disse, pouco
antes das 14h.
Quem aproveitou para tentar ganhar pontos com o governo foi o senador Renan
Calheiros (PMDB-AL). Segundo pessoas próximas ao parlamentar, ele teria se
engajado pessoalmente para que, em tempos de recesso branco, fosse ao menos
iniciada a análise da indicação de Zavascki pelo Senado. O gesto do senador,
que também se comprometeu a aprovar a medida provisória da energia elétrica,
seria mais uma maneira de angariar o apoio do Planalto para sua candidatura
para a presidência do Senado, no ano que vem.
Fonte: O Globo
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