Helena Mader
Diante de críticas de partidos da base aliada ao julgamento do mensalão, o
ministro Gilmar Mendes saiu ontem em defesa da Corte e rebateu os argumentos de
que o Supremo estaria sendo pressionado a condenar políticos sem provas. Ele
também comentou a nota divulgada pela presidente Dilma Rousseff, em que ela
demonstrou insatisfação por ter sido citada pelo relator do caso, ministro
Joaquim Barbosa. Para Gilmar Mendes, não há politização no julgamento e as
votações seguem o trâmite normal do STF, com base em provas colhidas na
instrução.
A nota dos partidos, divulgada na última quinta-feira, foi assinada pelos
presidentes do PT, PSB, PMDB, PCdoB, PDT e PRB. No documento, eles repudiam uma
suposta tentativa de dirigentes do PSDB, DEM e PPS de "comprometer a honra
e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". No fim da nota,
os representantes da base aliada comentam sobre o julgamento. "Quando
pressionam a mais alta Corte do país, o STF, estão preocupados em fazer da Ação
Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as
conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula."
Para o ministro Gilmar Mendes, "as pessoas que firmaram essa nota estão
distantes da realidade". Ele não gostou da insinuação de que o julgamento
conduzido pelos integrantes do STF foi politizado. "Vocês viram alguma
politização nesse julgamento? Vocês viram alguma partidarização?",
questionou Gilmar Mendes, em conversa com jornalistas na tarde de ontem. Para
ele, "basta ver as referências que fizeram a dados históricos, a 1954, a
1964" para constatar que os autores da nota estão equivocados.
O documento diz que a oposição "não hesita em golpear sempre que seus
interesses são contrariados". "Assim foi em 1954, quando inventaram
um mar de lama para afastar Getúlio Vargas. Assim foi em 1964, quando
derrubaram Jango para levar o país a 21 anos de ditadura", diz um trecho
da nota, questionado pelo ministro Gilmar Mendes.
Sobre a carta divulgada na última sexta-feira pela presidente Dilma, Gilmar
afirmou que o depoimento prestado por ela, quando ainda era ministra da Casa
Civil, não tem nenhum valor especial no processo. Depois que o ministro Joaquim
Barbosa citou o depoimento judicial de Dilma, a presidente veio a público para
explicar o contexto em que prestou as declarações. "Imagina se cada vez
que o tribunal se debruçar sobre depoimentos tiver que buscar a interpretação
autêntica do depoente? O que isso representaria?", questionou Gilmar
Mendes. Para ele, o depoimento prestado por Dilma como testemunha de defesa e
mencionado por Barbosa "é apenas um acidente nesse processo, não tem o
menor significado no contexto geral".
O ministro reconheceu que o caso do mensalão é extremamente difícil, mas
lembrou que existe uma vastidão de provas. "O depoimento dela (Dilma) vale
tanto quanto todos os outros", acrescentou Gilmar Mendes. "Agora isso
vai anular o julgamento? Diante da vastidão de provas existentes? É um caso
extremamente difícil, o que gera esse tipo de anomalia."
Fonte: Correio Braziliense
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