Paulo de Tarso Lyra
Os movimentos sociais e os sindicatos vão divulgar uma nota defendendo o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo do documento divulgado na semana passada
pelos partidos da base aliada, a intenção é contrapor-se às acusações de que o
ex-presidente seria o verdadeiro chefe do esquema do mensalão. Para não
contaminar o debate eleitoral — e evitar que a oposição diga que o protesto
está ligado ao pífio desempenho dos candidatos governistas nas eleições
municipais —, o manifesto só será divulgado após o primeiro turno das eleições
de outubro.
Outro cuidado para não dar brechas às reclamações é evitar a pressa na
redação do documento. Segundo apurou o Correio, os articuladores do protesto
pretendem procurar o maior número possível de representantes dos movimentos
sociais e sindicais, para não repetir as falhas do texto dos partidos, que
deixou PR, PP e PTB de fora e ainda foi alvo de críticas por não ter sido
amplamente debatido no meio político.
A organização está sendo feita pelo ala do PT ligada aos movimentos sociais
e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 2005, quando o escândalo do
mensalão estourou e o ex-presidente Lula decidiu viajar pelo país para
defender-se das acusações que assolavam seu governo, a CUT foi a primeira
entidade a defender abertamente o petista. Criou um botom com a frase:
"Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo", gerando uma dívida
de gratidão que o ex-presidente já disse que levará pelo resto de sua vida.
A ação complementar dos movimentos sociais e dos partidos tem como objetivo
suprir o silêncio que Lula se impôs após a matéria da revista Veja na qual é
apontado, com base em supostos desabafos do empresário Marcos Valério a
familiares e amigos, como o principal responsável pelo mensalão. O manifesto
conjunto também foi pensado para não deixar o PT isolado na defesa do governo
anterior e mostrar a coesão da aliança governista.
Manifesto
Além disso, os aliados do PT pretendem contrapor-se aos partidos de oposição,
que defendem a reabertura do caso em primeira instância, incluindo Lula como um
dos possíveis investigados. "É um absurdo. Estão fazendo acusações sem
base na tentativa de destruir todo o legado social deixado pelo ex-presidente
Lula", disse ao Correio o presidente da União da Juventude Socialista
(UJS), André Tokarski.
Ontem foi divulgado um manifesto de intelectuais e artistas criticando o tom
de euforia da sociedade diante das recentes condenações de réus do mensalão
pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Eles esperam que o julgamento não
se torne um espetáculo. A maior parte dos signatários tem relação de amizade com
o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que deverá começar a ser julgado na
próxima semana por corrupção ativa — ele também é acusado de formação de
quadrilha, mas esse capítulo do processo deverá ser analisado em outro momento.
O texto dos intelectuais afirma que "parte da cobertura na mídia e até
mesmo reações públicas que atribuem aos ministros (do STF) o papel de heróis
nos causam preocupação". O documento prossegue explicitando que
"somos contra a transformação do julgamento em espetáculo, sob o risco de
se exigir — e alcançar — condenações por uma falsa e forçada exemplaridade.
Repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção da inocência".
Os signatários — 267 ao todo — afirmam que "a defesa da legalidade é
primordial". E completam, apesar do desconforto inicial, que confiam no
"senhores ministros, membros do Supremo Tribunal Federal, que saberão
conduzir esse julgamento até o fim sob o crivo do contraditório e à luz suprema
da Constituição".
Fonte: Correio Braziliense
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