Nesta última semana de campanha, o quadro pintado pelas pesquisas não sugere
a repetição de 2008, no que toca à reeleição dos prefeitos, pelo menos nas
capitais
Na reta final da campanha eleitoral começam a surgir sinais de que o bloco
político hoje dominante (PT-PSDB-PCdoB) não sofrerá o revés eleitoral anunciado
e que o desempenho da oposição não será tão eloquente como projetado, no
pressuposto de que o julgamento do chamado mensalão, em curso no STF,
devastaria as candidaturas do campo governista. Mas, segundo pesquisa do
Instituto Datafolha, 81% dos eleitores paulistas afirmaram não ter mudado o
voto, até agora, por causa do julgamento. Entre os 19% que mudaram de candidato
por esta razão, 52% desistiram do candidato petista Fernando Haddad. A pesquisa
restringiu-se à cidade de São Paulo, cujo eleitorado, por razões diversas,
deveria ser o mais afetado pelas sessões do Supremo que, há dois meses, põem o
PT e seus aliados conservadores no pelourinho moral. Se em São Paulo o impacto
foi tão reduzido, no resto do país são mais fortes as razões locais, a favor da
oposição ou dos partidos governistas.
O que as pesquisas estão indicando é que os candidatos do bloco liderado
pelo PT começaram a reagir na reta final, num sinal de que continuam fortes as
identificações do eleitorado com seus candidatos, mensalão e razões locais à
parte, bem como a elevada possibilidade de Haddad, um candidato bancado pelo
ex-presidente Lula e que ontem teve a própria presidente Dilma em seu palanque,
ficar fora do segundo turno. Estes sinais estão surgindo principalmente no
Norte-Nordeste, região muito impactada pelos programas sociais do governo,
começando por Salvador, onde o candidato petista Nelson Pelegrino superou ACM
Neto, do DEM. A oposição ganhou uma chance em Recife, com a subida do tucano
Daniel Coelho, mas perdeu o fôlego ou a liderança em Fortaleza, João Pessoa,
Manaus e Palmas. Embora o PT tenha superado a situação de 30 dias atrás, quando
liderava em apenas duas capitais, é o seu (ainda) aliado PSB que deve colher
resultados mais vistosos, nas capitais, comparativamente com os resultados de
2008.
Não ao continuísmo
Em 2008, 67% de prefeitos do país foram reeleitos e a taxa, entre os prefeitos
de capitais, foi de 95%. Esta força continuísta deve arrefecer na eleição deste
ano, segundo o cientista político especializado em eleições, Antonio Lavareda.
Nesta última semana de campanha, o quadro pintado pelas pesquisas de fato não
sugere a repetição de 2008, no que toca à reeleição dos prefeitos, pelo menos
nas capitais. Os três prefeitos de capital melhor avaliados do país são, pela
ordem, o de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), o do Rio, Eduardo Paes (PMDB)
e o de Porto Alegre, José Fortunati (PDT). Os três lideram a disputa em suas
capitais. Mas outros cinco enfrentam dificuldades. Entre eles, o quarto melhor
avaliado, que é Luciano Ducci (PSB), de Curitiba, onde a liderança é do
candidato Ratinho, do PSC.
Buraco negro
Em seu voto proferido ontem, o ministro Celso de Mello fez um discurso candente
contra a corrupção de natureza política, terminando com uma especulação da mais
alta gravidade. Disse ele: "Vale pensar sobre a validade ou não do ato
legislativo decorrente de corrupção parlamentar (...) Essa é uma situação que
se aplica, claramente, às sentenças quando proferidas por juízes corruptos. O
eminente ministro Fux aí está para confirmar este aspecto que é muito delicado.
Alguns autores sustentam que haveria inconstitucionalidade no ato legislativo
decorrente de corrupção parlamentar".
Em outras palavras, ele pergunta se não devem ser anuladas todas as leis e,
especialmente, emendas constitucionais, que foram aprovadas com o voto dos
deputados que o Supremo está condenando por corrupção passiva. Isso
significaria anular as reformas previdenciária e tributária de 2003 e o vasto
elenco de leis complementares e ordinárias aprovadas entre 2003 e o início de
2005 quando foram suspensos os repasses de Marcos Valério para os partidos
aliados, segundo ele porque já teriam sido liquidadas as dívidas das campanhas
de 2002 e 2004 contraídas pelo PT. Logo depois, Roberto Jefferson ligou seu
ventilador. Se isso viesse a acontecer, o país seria jogado num insondável
buraco negro legislativo e institucional. Mas, se a maioria do Supremo tem
certeza de que houve compra de voto, deve refletir sobre o que disse Mello.
Próxima estação
Na terça-feira depois da eleição de domingo, 7, o deputado Henrique Eduardo
Alves, pré-candidato do PMDB a presidente da Câmara, montará sua barraca na
Casa para dar início às conversações com os demais partidos com representação
na Casa. Um dos deputados mais antigos da Casa, ele sabe como é: candidatos
avulsos brotam do nada. Ainda que não tenham chance, ganham seus 15 minutos de
glória e exposição.
Fonte: Correio Braziliense
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