À exceção do comício do qual participou ontem à noite em São Paulo, o
Palácio do Planalto avalia que o planejamento feito para a participação da
presidente Dilma Rousseff nas eleições foi um sucesso. Com raras exceções, como
a presença no comício do PT em São Paulo. Entrou porque é real a possibilidade
de tirar o PSDB da disputa já no primeiro turno.
O plano foi mudando de acordo com as circunstâncias. O projeto inicial
previa que a presidente, no primeiro turno, faria apenas "intervenções
cirúrgicas". A escolha de palanques em uma coalizão com tantos partidos
poderia rachar a base aliada do governo.
A participação da presidente, no primeiro turno que será disputado neste
domingo, fatalmente afetaria as relações do governo com o Congresso. A oposição
poderia tirar proveito de qualquer incidente. Ontem o governo avaliava que a
presidente passou incólume pela eleição. Pelo menos até agora.
Dilma faz exceções e entra na disputa para varrer oposição
No plano de voo original a presidente somente subiria em palanques, no
primeiro turno, onde a base aliada estivesse unida. Isso de imediato a retirou
da eleição de Porto Alegre, onde PT, PCdoB e o PDT se dividiram, apesar do
esforço de Dilma de juntar todos com o PDT.
As exceções seriam quatro capitais, mas acabaram com uma quinta: Salvador
(BA), onde o carlismo ameaçava e ainda ameaça voltar ao comando da cidade. A
decisão de gravar um programa pedido votos para Nelson Pelegrino teve o dedo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governador da Bahia, Jaques Wagner.
Dilma não queria
As outras quatro exceções eram São Paulo (SP), Rio de Janeiro RJ), Belo
Horizonte (BH) e Manaus, a capital do Amazonas. Cada cidade tem uma explicação.
Em Manaus, por exemplo, o favorito até recentemente era o antigo líder do PSDB
no Senado, o aguerrido Artur Virgílio, que fez oposição cerrada aos governos de
Lula. Isso pesou, é claro, mas a presidente também precisava fazer um
"afago" no PCdoB, partido que sempre se julga preterido pelo PT. Fica
com as sobras.
Aliás, Manaus é um bom exemplo. O PCdoB queria o apoio do PT, em Porto
Alegre, para a deputada federal Manuela D"Àvila, sempre bem posicionada
nas pesquisas de opinião. O PT, no entanto, não abriu mãos de ter candidato
próprio numa cidade que já governou por mais de uma década. Encarou a própria
Dilma, que na realidade gostaria de editar uma aliança de esquerda para
governar a cidade. O episódio também deixou sequelas nas relações entre a
presidente e o governador Tarso Genro, que, aliás, nunca chegaram a ser
exatamente cordiais.
O Rio de Janeiro está pacificado para este ano, PMDB e PT apoiam a reeleição
do prefeito Eduardo Paes. Mas poderá haver problemas em 2014, por que o senador
Lindberg Farias (PT) diz que, desta vez, não poderá atender um pedido de
"meu padrinho Lula" e sairá candidato. O PT também quer lançar
Lindberg. O candidato acertado entre o governador Sérgio Cabral e Lula e o
atual vice, Pezão.
Em Belo Horizonte, Dilma se envolveu pessoalmente. Mas grande parte das
negociações que permitiram a candidatura de Patrus Ananias foi conduzida por
Rui Falcão, presidente do PT. Com o aval da presidente, foi possível juntar até
o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio),
reconhecido adversário de Patrus e que, há cerca de dois anos, chegou a propor
uma aproximação do PT com o PSDB, para o horror da maioria dos líderes
petistas. Especialmente José Dirceu, que à época ainda era o todo poderoso
manda-chuva do partido.
O caso de São Paulo é especial. Estava programado que Dilma entraria na
eleição paulistana apenas no segundo turno, e mesmo assim se fosse para ganhar.
Mas com o fenômeno Celso Russomano, abriu-se uma janela para a tentativa de
tirar Serra do jogo no primeiro turno, um duro golpe na oposição no Brasil,
pois deixaria o PT também mais próximo do governo de São Paulo, em 2014 - a
queda de ACM Neto nas pesquisas, em Salvador, é outro sinal ruim para a
oposição a uma semana da eleição.
Dilma acha que passou bem ao largo da eleição. O governo federal
"apanhou muito", mas a presidente manteve a popularidade em níveis
que considera "adequados". Se tudo ocorrer como se avalia no Palácio,
Dilma certamente não terá problemas no Congresso para concluir o mandato com
boas perspectivas de reeleição. Resta saber se a derrota do PSDB e do DEM será
bom para o país, porque o PT se tornará quase que um "partido único",
o que não tem se mostrado uma boa prática para a democracia.
Essa é o receio, por exemplo, do presidente do PSD. A eventual vitória de
Fernando Haddad (PT), em São Paulo, na opinião exposta por Kassab a
interlocutores cria um ambiente de partido único. "O país ficaria
politicamente desequilibrado". Em geral, os prefeitos paulistanos são de
partido diferente daquele da presidente da República. A falha nesse raciocínio
da oposição é que já são claros os sinais que o governo vai rachar por dentro.
Prova disso é o avanço do PSB na região Nordeste, um território do lulismo:
o partido tem chances concretas no Recife, Fortaleza e Belo Horizonte. O
problema é que eles já estiveram mais bem situados nas pesquisas de opinião
pública. E o beneficiado tem sido o PT. Russomano, em São Paulo, não pode ser
considerado oposição. Aliás, o próprio prefeito das cidade e principal aliado
de Serra, Gilberto Kassab, tem elogiado o tratamento que a prefeitura de São
Paulo vem recebendo da presidente, em sua gestão. Sobre o futuro, é cauteloso.
Apesar das informações que circulam no Congresso, Kassab assegura que o PSD
não estará na base de apoio da presidente Dilma Rousseff no dia seguinte ao da
eleição de oito de outubro. Nenhuma decisão nesse sentido será tomada pelo PSD,
segundo disse Kassab a amigos, enquanto o partido não definir o caminho que
tomará nas eleições presidenciais de 2014.
Fonte: Valor Econômico
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