A crise econômica nas
economias capitalistas cria um ambiente sócio-político favorável para as forças
políticas de esquerda assumirem o poder, como agora na Europa. A estagnação da
economia, o desemprego e a inflação, sintomas de desorganização do capitalismo,
abrem o caminho para propostas de transformação no sistema, seja através de uma
ressurreição revolucionária, no passado longínquo, seja pelo voto no sistema
democrático, as massas são atraídas por alternativas que recuperem a dinâmica e
a estabilidade da economia, o emprego e a renda.
O problema vem
depois: o que fazer para enfrentar a crise econômica? Depende da natureza e dos
determinantes da crise. Numa recessão econômica, a ampliação dos gastos
públicos em obras tem resultados na recuperação e na criação de emprego,
combinando reanimação da economia com melhoria social. Foi assim no New Deal,
programa econômico de Roosevelt na crise econômica dos Estados Unidos no início
da década de 20 do século passado, antecipando a fórmula anticíclica de Keynes.
Embora não se possa
dizer que o governo Roosevelt tenha sido de esquerda, era uma alternativa
diferente dos esquemas tradicionais do liberalismo econômico dominante na
época, combinava recuperação econômica com redução da pobreza. No entanto,
quando a desorganização da economia capitalista está associada também a uma
dramática crise fiscal com elevado endividamento público e déficits fiscais
elevados, as políticas de esquerda são inadequadas. A generosidade social da
esquerda combina apenas com a ampliação dos gastos públicos, nunca com ajuste
fiscal, mas este aumento de gastos tende a acelerar a crise com falência dos
sistemas fiscais e monetários e com pressões inflacionárias, ambos fenômenos econômicos
de impacto social negativo.
Nas últimas décadas
do século passado, alguns governos social-democratas, beneficiados
eleitoralmente pela crise, tiveram que executar políticas de ajuste fiscal e
controle de gastos públicos, medidas consideradas conservadoras e de direita. A
Espanha de Filipe Gonzales fez isso e deu um excelente resultado no médio
prazo, depois da superação da crise, governo de esquerda com política
macroeconômica, digamos, de direita. No Brasil, recentemente, o ex-presidente
Lula seguiu este modelo, embora o Brasil já não tivesse a desorganização
inflacionária. O governo francês do socialista François Hollande vai enfrentar
esta dificuldade para lidar com uma crise fiscal mas ele parece não se dar
conta da dramática situação das finanças públicas da França como de quase toda
a Europa. Pensar que a esquerda europeia possa correr da austeridade fiscal
para se diferenciar da direita é uma grande ingenuidade, um populismo de alto
risco no futuro.
Para se provar de
esquerda, o governo francês decidiu baixar a idade mínima de aposentadoria de
62, aprovado antes com muita confusão, para 60 anos, além de não ter nada de
esquerda, a decisão é demagógica e ridícula num país com uma expectativa de
vida de 80 anos, o déficit vai aumentar e as gerações futuras vão pagar a
conta. Socialismo (e socialdemocracia) é outra coisa e requer medidas
estruturais de reorganização da sociedade não estas maquiagens irresponsáveis e
eleitoreiras.
Sérgio
C. Buarque é economista e consultor
Fonte:
Jornal do Commercio (PE)
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