A semana que antecede as eleições é de Joaquim Barbosa, o menino negro do
interior, filho de pedreiro, que se formou em direito, fez mestrado e doutorado
nas melhores universidades, estudou línguas e está bagunçando o coreto do
Supremo Tribunal Federal justamente no chamado "julgamento do
século". Ao nomeá-lo, Lula escreveu certo por linhas tortas. Dizem que
está arrependidíssimo.
Joaquim é ministro de amor e ódio, de ame-o ou deixe-o. Adorado pela opinião
pública -sobretudo em Brasília, onde continua sendo o "Joca" dos
tempos de UnB-, é odiado por petistas de cúpula e de base, mexendo com a
solenidade fria do STF e com as emoções quentes dos colegas. Especialmente dos
mercuriais.
Respaldado pela toga, justificado pelas dores de coluna, perdoado pelas
origens e exposto pelas transmissões ao vivo, ele bateu boca e trocou adjetivos
nada polidos com Gilmar Mendes (em outros julgamentos), com o revisor
Lewandowski (virou uma guerra) e com o polemista Marco Aurélio (que ultrapassou
limites, ao ver perigo na ascensão de Joaquim à presidência, em novembro).
Algodão entre cristais, o presidente Ayres Britto faz o que pode, como vetar
no site do tribunal uma nota do relator desancando Marco Aurélio em termos
pouco usuais entre Excelências, ainda mais em público.
Veja que a escolha de "adversários" por Joaquim não é ideológica
nem partidária -é improvável que, na cabine indevassável, Gilmar e Lewandowski
depositem o mesmo voto. Talvez seja mais por excesso de convicções e seu
desdobramento quase natural: o voluntarismo.
Pois será justamente Joaquim quem estará dissecando as entranhas do governo
Lula e do PT nesta semana. Enquanto Lula e Dilma estiverem nos palanques e no
horário nobre falando maravilhas de Haddad, Joaquim gastará tardes inteiras
para contar os podres de José Dirceu e do partido do candidato. Guerra de
audiências como nunca se viu.
Fonte: Folha de S. Paulo
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