Ministros
entendem que partidos da base do governo Lula se uniram para se beneficiar do
valerioduto
Ao
condenar 12 réus, quatro por formação de quadrilha, no julgamento do mensalão,
o Supremo Tribunal Federal concluiu ontem que o PT usou o esquema operado por
Marcos Valério para comprar apoio político no governo Lula. Para o STF, grupos
no PP e no PL (atual PR) se uniram para receber dinheiro do valerioduto.
Políticos do PTB e José Borba, ex-líder do PMDB, também foram corrompidos.
Amanhã, passam a ser julgados os acusados de corrupção ativa, como o
ex-ministro José Dirceu.
Políticos
em quadrilha
Supremo conclui que
PT comprou apoio e condena doze réus ligados a PP, PL, PTB e PMDB
Carolina Brígido, André
de Souza
UM JULGAMENTO PARA A
HISTÓRIA
BRASÍLIA - O Supremo
Tribunal Federal (STF) condenou ontem as primeiras quadrilhas do mensalão e
confirmou que o esquema operado por Marcos Valério foi usado pelo PT para
comprar apoio político para o governo Lula. Segundo os ministros, havia um
grupo no PP e outro no PL (atual PR) unidos para receber dinheiro do
valerioduto. A Corte também atestou que políticos do PTB e o ex-líder do PMDB
José Borba foram corrompidos. Na fatia do processo que teve o julgamento
concluído ontem, foram condenados 12 réus ligados aos partidos. Entre eles, o
delator do esquema e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e os deputados
Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT). Os três foram enquadrados em
corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Valdemar também foi condenado por
formação de quadrilha.
O julgamento do
processo começou em 2 de agosto. Desde então, foram condenados 22 dos 37 réus.
Quatro foram absolvidos. A partir de amanhã, o relator, Joaquim Barbosa,
começará a analisar a conduta de dez réus acusados de corrupção ativa (os
pagadores da propina). Entre eles, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Na conclusão desta
parte do julgamento, ministros descartaram a tese da defesa de que o dinheiro
foi usado para alimentar o caixa dois dos partidos. Segundo os advogados, os
recursos serviram para quitar dívidas da campanha de 2002 e programar os gastos
com as eleições de 2004. No entanto, para o STF, o PT comprou apoio político de
parlamentares para o governo Lula em votações importantes. O presidente da
Corte, Carlos Ayres Britto, afirmou que não se pode falar de caixa dois, pois o
dinheiro do mensalão era de origem pública, não privada.
- Não se pode sequer
alegar formação de caixa dois com dinheiro público. Ao tipificar como delito
eleitoral a prática do caixa eleitoral paralelo, (o legislador) somente
trabalhou com a hipótese da natureza privada de recursos financeiros repassados
informalmente a candidatos. Dinheiro privado que pode, desde que devidamente
registrado, bancar campanhas, pré-excluído desse financiamento o dinheiro de
natureza pública. Dinheiro público não pode circular, se não formalmente, sob
rígido controle de órgãos igualmente públicos - afirmou.
Ministros afastam a
tese do caixa dois
Marco Aurélio Mello
também afastou o argumento da defesa:
- Essa corrupção não
visou a cobrir deficiência de caixa dos diversos partidos envolvidos na
espécie, mas sim a base de sustentação para aprovar-se determinadas reformas,
sofrendo, com isso, a própria sociedade brasileira.
O ministro argumentou
que os partidos têm "postura antagônica em relação uns aos outros".
Por isso, não comprou a versão da defesa de que o PT repassara quantias
milionárias para outras legendas sem pedir nada em troca. Marco Aurélio
acrescentou que o dinheiro foi mal aplicado:
- A meu ver, aqui se
utilizou muito mal a prata, talvez por se tratar de um dinheiro fácil. Houve,
sem dúvida alguma, a partir da entrega dos numerários, atos de ofício nas
diversas votações procedidas na Câmara dos Deputados.
Entre os condenados,
estão assessores parlamentares, donos de empresas usadas para escamotear a
origem e a finalidade das cifras e cinco ex-deputados: Jefferson, Pedro Corrêa
(PP-PE), Bispo Rodrigues (PL-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG) e José Borba (ex-PMDB-PR).
Com exceção de Henry, os deputados e ex-deputados foram condenados por
unanimidade por corrupção passiva. Também por unanimidade, foi absolvido o
ex-assessor do PL Antônio Lamas por falta de provas, como pedira o Ministério
Público.
Ontem votaram os
ministros Dias Toffoli, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ayres Britto. Os dois
últimos, como Luiz Fux, na semana passada, e o relator, Joaquim Barbosa,
condenaram todos os réus, menos Antônio Lamas, por todos os crimes dos quais
eram acusados. O presidente do STF deu especial atenção a Marcos Valério, que
não estava sendo julgado ontem.
- Um protagonista em
especial confirma esse quase consenso de acusação e defesa quanto à
materialidade dos fatos. Esse protagonista se chama Marcos Valério. Ele parece
ter o dom da ubiquidade e o mais agudo faro desencavador de dinheiro. É
praticamente impossível deixar de vinculá-lo a quase todos os réus desta ação
penal - disse ele. - Era praticamente impossível não saber que lidar com Marcos
Valério seria participar de um sofisticado esquema de corrupção, lavagem de
capitais e formação de quadrilha, para dizer o mínimo.
No intervalo da
sessão alguns ministros participaram do plantio de árvores no Bosque dos
Ministros, uma tradição no STF desde 2000. O procurador-geral, Roberto Gurgel,
também compareceu.
Fonte: O Globo
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