"No segundo turno, não há tempo para alterar
uma estratégia equivocada ou arquivar um discurso mal recebido pelo
eleitorado"
Entramos na última semana da curtíssima campanha de segundo turno. Por ser tão
rápida e fugaz, ela não permite que o candidato ou o partido corrija erros
cometidos na largada, ao contrário do que ocorre no primeiro turno. Não há
tempo para alterar uma estratégia equivocada ou arquivar um discurso mal
recebido pelo eleitorado. Por isso mesmo, embora numa eleição tudo possa
acontecer antes da votação, é muito mais difícil uma reversão de tendência na
semana final. Especialmente, diz o cientista político e analista eleitoral
Antonio Lavareda, quando um dos candidatos amplia consideravelmente sua
vantagem, como ocorreu em São Paulo e em Curitiba.
Nos idos de 2005, quando a CPI dos Correios bombardeava um PT desnorneado pelas
denúncias de Roberto Jefferson, era impensável uma fotografia como a do comício
de terça-feira do candidato hoje pedetista Gustavo Fruet à prefeitura de
Curitiba. No palanque, ele aparece festivamente ladeado pelos ministros
petistas Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann e Eliseu Padilha. Fruet era do PSDB e um
dos falcões da CPI. Gleisi e Bernardo fizeram uma aposta ousada ao apoiá-lo e
foram cobrados pela aliança com o ex-adversário mas devem sair vitoriosos.
Fruet saiu do terceiro lugar nas pesquisas, na retal final do primeiro turno e
atropelou o candidato Luciano Ducci, apoiado pelo governador tucano Beto Richa.
O mais votado foi Ratinho Jr., do PSC, mas agora, segundo pesquisa do Ibope
divulgada na sexta-feira, Fruet já tem 10 pontos de vantagem. Qual foi o erro
de Ratinho, que no primeiro turno arrebatou os votos dos mais pobres de
Curitiba? Foi a incoerência. Quando seu alvo era Ducci, dizia ser também da
base governista e até se apresentava como amigo da presidente. Mas o adversário
no segundo turno acabou sendo Fruet e ele passou a bater pesado no PT e no
governo federal. Parece ser tarde para corrigir o discurso, como ele tentou
fazer, dizendo que suas críticas são apenas ao PT do Paraná.
Mas é a disputa de São Paulo que terá consequências para a política nacional.
Segundo o Ibope, o petista Fernando Haddad saiu do primeiro turno com cinco
pontos de vantagem sobre Serra, ampliou para 11 pontos na primeira semana. Na
última pesquisa do Ibope, divulgada na quarta-feira, a vantagem havia subido
para 16 pontos. O Datafolha apontou vantagem de 17 pontos. Tecnicamente, uma
reversão não é impossível, até porque houve um aumento, de 6% para 13%, dos
eleitores dispostos a votarem nulo ou em branco. Mas, como analisou a diretora
do Ibope, Marcia Cavallari, a perda de votos por parte de Serra tem sido até
maior que o crescimento de Haddad. A “campanha negativa” contra o petista,
tentando vinculá-lo ao mensalão, não funcionou. As críticas de um pastor
conservador que apoia Serra à uma publicação anti-homofobia, o tal kit gay,
editado pelo MEC durante a gestão do petista, completaram o estrago.
Se as urnas confirmarem as pesquisas e Haddad for o eleito, o ex-presidente
Lula e o PT terão levado o troféu mais importante da competição, com tudo o que
isso significa para as próximas disputas de poder, nos planos nacional e
estadual. Virão também as consequências internas para o PSDB, onde já são
feitas abertamente críticas ao viés obscurantista adotado pela campanha de
Serra, facilitando a vitória do PT. Um misto de irritação e perplexidade com os
rumos da campanha perpassa todas as alas do partido e teriam pontuado o
encontro de sexta-feira entre o ex-presidente Fernando Henrique e o senador
mineiro Aécio Neves, que vem pavimentando sua candidatura a presidente em 2014.
Negócio gorado
Para ingressar na base de apoio ao Governo Dilma com um cacife ainda maior,
depois do segundo turno, o prefeito Gilberto Kassab andou tratando com o
deputado Paulo Maluf de uma fusão entre o seu PSD e o PP. Na prática, seria uma
incorporação, e ela poderia fazer do partido de Kassab o terceiro da Cãmara,
maior que o PSDB , menor apenas que o PMDB e o PT. Mas o prefeito falou com a
pessoa errada. O presidente nacional do PP, com ascendência sobre os diretórios
estaduais, é o senador Francisco Dornelles. À coluna, ele disse: “Não fui
procurado e não me fizeram qualquer proposta neste sentido. Mas o PP, sendo o
quarto maior partido em número de vereadores e o quinto em número de
prefeituras, não está no mercado de fusões e incorporações”.
Setor elétrico
Além de Minas, que resiste à renovação antecipada das concessões de três usinas
da Cemig pelas novas regras tarifárias da MP 579, São Paulo também está na
briga. Esta semana o secretário estadual de energia, José Aníbal, apresentará
ao relator da medida, Senador Renan Calheiros, as divergências da CESP. “Nós
também queremos tarifas menores mas não vamos aceitar confisco do investimento
realizado ”, diz ele. Renan, candidato à presidência do Senado, sabe o quanto
esta MP é cara à presidente Dilma. Não está disposto a negociar mudanças no
texto. A aprovação da MP que já é campeã no recebimento de emendas, será um
cabo de guerra entre oposição e governo, inflada pelos ressentimentos
eleitorais.
Fonte: Correio Braziliense
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