domingo, 21 de outubro de 2012

Segundo turno: quando o erro é irreversível - Tereza Cruvinel


"No segundo turno, não há tempo para alterar uma estratégia equivocada ou arquivar um discurso mal recebido pelo eleitorado"

Entramos na última semana da curtíssima campanha de segundo turno. Por ser tão rápida e fugaz, ela não permite que o candidato ou o partido corrija erros cometidos na largada, ao contrário do que ocorre no primeiro turno. Não há tempo para alterar uma estratégia equivocada ou arquivar um discurso mal recebido pelo eleitorado. Por isso mesmo, embora numa eleição tudo possa acontecer antes da votação, é muito mais difícil uma reversão de tendência na semana final. Especialmente, diz o cientista político e analista eleitoral Antonio Lavareda, quando um dos candidatos amplia consideravelmente sua vantagem, como ocorreu em São Paulo e em Curitiba.

Nos idos de 2005, quando a CPI dos Correios bombardeava um PT desnorneado pelas denúncias de Roberto Jefferson, era impensável uma fotografia como a do comício de terça-feira do candidato hoje pedetista Gustavo Fruet à prefeitura de Curitiba. No palanque, ele aparece festivamente ladeado pelos ministros petistas Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann e Eliseu Padilha. Fruet era do PSDB e um dos falcões da CPI. Gleisi e Bernardo fizeram uma aposta ousada ao apoiá-lo e foram cobrados pela aliança com o ex-adversário mas devem sair vitoriosos. Fruet saiu do terceiro lugar nas pesquisas, na retal final do primeiro turno e atropelou o candidato Luciano Ducci, apoiado pelo governador tucano Beto Richa. O mais votado foi Ratinho Jr., do PSC, mas agora, segundo pesquisa do Ibope divulgada na sexta-feira, Fruet já tem 10 pontos de vantagem. Qual foi o erro de Ratinho, que no primeiro turno arrebatou os votos dos mais pobres de Curitiba? Foi a incoerência. Quando seu alvo era Ducci, dizia ser também da base governista e até se apresentava como amigo da presidente. Mas o adversário no segundo turno acabou sendo Fruet e ele passou a bater pesado no PT e no governo federal. Parece ser tarde para corrigir o discurso, como ele tentou fazer, dizendo que suas críticas são apenas ao PT do Paraná.

Mas é a disputa de São Paulo que terá consequências para a política nacional. Segundo o Ibope, o petista Fernando Haddad saiu do primeiro turno com cinco pontos de vantagem sobre Serra, ampliou para 11 pontos na primeira semana. Na última pesquisa do Ibope, divulgada na quarta-feira, a vantagem havia subido para 16 pontos. O Datafolha apontou vantagem de 17 pontos. Tecnicamente, uma reversão não é impossível, até porque houve um aumento, de 6% para 13%, dos eleitores dispostos a votarem nulo ou em branco. Mas, como analisou a diretora do Ibope, Marcia Cavallari, a perda de votos por parte de Serra tem sido até maior que o crescimento de Haddad. A “campanha negativa” contra o petista, tentando vinculá-lo ao mensalão, não funcionou. As críticas de um pastor conservador que apoia Serra à uma publicação anti-homofobia, o tal kit gay, editado pelo MEC durante a gestão do petista, completaram o estrago.

Se as urnas confirmarem as pesquisas e Haddad for o eleito, o ex-presidente Lula e o PT terão levado o troféu mais importante da competição, com tudo o que isso significa para as próximas disputas de poder, nos planos nacional e estadual. Virão também as consequências internas para o PSDB, onde já são feitas abertamente críticas ao viés obscurantista adotado pela campanha de Serra, facilitando a vitória do PT. Um misto de irritação e perplexidade com os rumos da campanha perpassa todas as alas do partido e teriam pontuado o encontro de sexta-feira entre o ex-presidente Fernando Henrique e o senador mineiro Aécio Neves, que vem pavimentando sua candidatura a presidente em 2014. 

Negócio gorado
Para ingressar na base de apoio ao Governo Dilma com um cacife ainda maior, depois do segundo turno, o prefeito Gilberto Kassab andou tratando com o deputado Paulo Maluf de uma fusão entre o seu PSD e o PP. Na prática, seria uma incorporação, e ela poderia fazer do partido de Kassab o terceiro da Cãmara, maior que o PSDB , menor apenas que o PMDB e o PT. Mas o prefeito falou com a pessoa errada. O presidente nacional do PP, com ascendência sobre os diretórios estaduais, é o senador Francisco Dornelles. À coluna, ele disse: “Não fui procurado e não me fizeram qualquer proposta neste sentido. Mas o PP, sendo o quarto maior partido em número de vereadores e o quinto em número de prefeituras, não está no mercado de fusões e incorporações”. 

Setor elétrico
Além de Minas, que resiste à renovação antecipada das concessões de três usinas da Cemig pelas novas regras tarifárias da MP 579, São Paulo também está na briga. Esta semana o secretário estadual de energia, José Aníbal, apresentará ao relator da medida, Senador Renan Calheiros, as divergências da CESP. “Nós também queremos tarifas menores mas não vamos aceitar confisco do investimento realizado ”, diz ele. Renan, candidato à presidência do Senado, sabe o quanto esta MP é cara à presidente Dilma. Não está disposto a negociar mudanças no texto. A aprovação da MP que já é campeã no recebimento de emendas, será um cabo de guerra entre oposição e governo, inflada pelos ressentimentos eleitorais.

Fonte: Correio Braziliense

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