Procurando minimizar o clima beligerante instaurado com o Planalto, o governador Eduardo Campos (PSB) se disse ontem "confortado" com declarações dadas pelo ex-presidente Lula, que garantiu que a relação de amizade entre os dois será mantida. Quem ouve o governador falando é levado a crer que ele já se comporta como candidato a presidente. Para Campos, Lula, com as declarações, demonstrou capacidade de distinguir as questões políticas e pessoais.
"A fala do presidente Lula nos deixa confortado e, de certa forma, nos emociona, a mim, a minha família e aos meus amigos, pela forma larga como ele coloca as questões e como sabe distinguir o que é o processo político e o que devem ser as relações pessoais nessa dimensão", apontou o governador.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em São Paulo, Lula afirmou que "não mistura sua relação de amizade com as divergências políticas". "Acho muito cedo pra falar da candidatura Eduardo. Ele é um jovem de 40 e poucos anos. Termina seu mandato no governo de Pernambuco muito bem avaliado. Me parece que não tem vontade de ser senador da República nem deputado. O que é que ele vai ser? Possivelmente esteja pensando em ser candidato para ocupar espaço na política brasileira, tão necessitada de novas lideranças", disse.
Se o governador destacou a fala do ex-presidente, no mundo socialista a versão que circula não é tão afetuosa. Campos tem dito a auxiliares próximos que não deve lealdade a Lula. Uma demonstração pública desse entendimento veio na segunda (25), data da visita da presidente Dilma Rousseff (PT) a Serra Talhada. Terminado o evento, o governador escalou dois de seus mais frequentes porta vozes - o presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa, e o líder do governo, Waldemar Borges - para afirmar que os R$ 3,1 bilhões anunciados por Dilma só haviam sido liberados graças à capacidade de planejamento do Estado.
O governo federal vem testando a estratégia de constranger o governador usando a figura de Lula. E foi nesse contexto que a presidente Dilma citou 11 vezes o nome do antecessor durante o evento em Serra Talhada. O próximo encontro entre os dois presidenciáveis deve ocorrer na terça (2), quando Dilma reunirá todos os governadores do Nordeste para debater a seca, em Fortaleza. Na ocasião, Eduardo defenderá a desburocratização dos auxílios e financiamentos e a anistia da dívida dos trabalhadores da agricultura familiar.
"O olhar na reconstrução passa por reabilitar a agricultura familiar do Nordeste e não tem como reabilitar com a rolagem da dívida. Temos que ter a coragem de enfrentar e anistiar a agricultura familiar", insistiu Campos. Instado a se posicionar sobre a Medida Provisória 595/2012, conhecida como MP dos Portos, que tramita no Congresso e pode afetar o Porto de Suape, Eduardo apelou para o bom senso dos deputados e senadores e destacou que "nem sempre" o Congresso segue a compreensão do Planalto. "A impressão que trago do que ouvi dos deputados e senadores é exatamente um esforço no sentido de fazer um relatório consensual e abrir a possibilidade de mudanças", destacou.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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