Renato Pereira deverá ter novo embate com marqueteiro de Dilma, a quem enfrentou, sem sucesso, na Venezuela
Maria Lima
BRASÍLIA - Filho de diplomatas e nascido na Suíça, virou carioca aos 6 anos de idade e, já adulto, viveu um bom tempo com mulher e filhas em uma aldeia Caiapó, no Xingu. Agora, o antropólogo e publicitário Renato Pereira é o homem escolhido pelo senador tucano Aécio Neves (MG) para construir sua imagem, num eventual duelo com a presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem. Dono de um portfólio que inclui quatro campanhas vitoriosas do PMDB à prefeitura e ao governo do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes e Sérgio Cabral respectivamente, ele já fechou contrato com o PSDB até meados do ano.
Nesta primeira fase do contrato vai fazer a campanha de Aécio à presidência do partido, que tem eleições no final de maio, e programas de TV com inserções nacionais, que vão ao ar a partir de 21 de maio. Mas já começou a fazer pesquisas e diagnóstico para, se tudo der certo, estender o trabalho para uma eventual candidatura presidencial.
O publicitário, que não gosta de ser chamado de "marqueteiro", tem passagens também pelo cinema e fama de saber contar uma boa história, com linguagem moderna e acessível. Pelos últimos embates, vem se firmando como o anti-João Santana, o marqueteiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma.
Como responsável pela campanha de Henrique Caprilles, oposição ao ex-presidente Hugo Chávez na Venezuela, Renato Pereira não conseguiu vencer o chavismo.
Diz, porém, que seu embate não foi com Santana, e sim com o poder absoluto de Chávez na Venezuela. Na campanha presidencial de 2014, deve voltar a disputar com Santana, que estará ao lado de Dilma.
No Rio, deverá fazer a campanha do vice-governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB, também contra Santana, que cuidará do senador Lindbergh Farias (PT).
Renato Pereira é o estrategista de comunicação da agência Prole Gestão de Imagem, que tem parceria com a americana AKPD Global, divisão internacional da AKPD Message & Media, empresa de David Axelrod, o marqueteiro de Barack Obama.
'Intenção de votos agora nada significa'
Antropólogo e publicitário relativiza importância da TV e aposta em mobilização digital e contato pessoal para impulsionar Aécio
Lulismo tem menos força que o chavismo, avalia marqueteiro de tucano
O senhor teve um embate duro com João Santana na Venezuela, o que pode acontecer de novo, se fizer a campanha de Aécio.
Meu embate na Venezuela não foi com João Santana. Fiz uma campanha contra Chávez, que tinha o poder absoluto na Venezuela.
A Prole, sua agência, tem parceria com a agência que fez as duas campanhas de Barack Obama. É possível adaptar algo às campanhas presidenciais no Brasil?
Não tem uma receita que dê para copiar. Lá, eles estão acostumados com eleições de resultados muito apertados. Têm experiências e tecnologias muito próprias.
O que difere daqui?
No Brasil, acredita-se que a TV resolve tudo. A TV faz muita diferença, mas a gente acredita muito na comunicação individualizada, porta a porta, com uso de voluntários e uma grande mobilização digital. O Aécio tem esse perfil de ótimo desempenho nas ruas, com tom mais coloquial. O ideal é a combinação das duas coisas: comunicação mais individualizada com o eleitor e mídia de massas. O tom emocional é importante. Se o candidato tem essa força pessoal e uma boa história, facilita bastante. Aécio tem as duas coisas.
O que o antropólogo pode ajudar numa campanha presidencial?
Pode ajudar emprestando esse olhar mais voltado para o aspecto cultural do povo. Nas campanhas do Rio, ao invés de usar só jingles, usamos música popular, que mostra a realidade do que acontece na cidade, os valores culturais. E há o interesse específico sobre o que move o comportamento humano do eleitor, não olhando só o lado político. As pessoas se interessam por alguma coisa ou alguém quando a história é boa, se a narrativa é interessante. Talvez o fato de ser antropólogo tenha resultado nesses olhares diferentes.
Como foi a experiência como antropólogo?
Morei quase sete anos no Xingu, numa aldeia Caiapó, do Raoni. Minhas filhas tinham 6 e 7 anos. Voltaram pintadinhas para a cidade e fizeram o maior sucesso. Também trabalhei com os Tikuna, a maior etnia brasileira, que vive na tríplice fronteira de Brasil, Colômbia e Peru.
Quais os pontos fortes e fracos de uma eventual candidatura de Aécio Neves?
Eu e o Aécio ainda estamos nos conhecendo, mas há fatores conhecidos. Ele fez uma belíssima gestão em Minas, tem espírito jovem e capacidade enorme de se comunicar, simpatia e carisma muito grandes. Bom humor é fundamental.
Os adversários vão bater na imagem de bom vivant e homem das baladas...
Temos que identificar de quem partem acusações difamatórias e tratá-las com o rigor da lei. Outros temas da vida pessoal devem ser abordados com sinceridade. O Aécio é um ser humano como qualquer um. E o que o credencia a ser um líder nacional é a excepcional gestão que fez em Minas e a visão que tem do país.
A um ano e oito meses da eleição, Aécio aparece em terceiro lugar nas pesquisas, com 10%. É um bom ponto de partida?
É ótimo! Se bem que isso não quer dizer muita coisa agora. A presidente Dilma começou a campanha com 4% quando José Serra estava num patamar de 40%. O importante é o nível de conhecimento dos candidatos. Por mais que os governistas tentem transformar isso num fato relevante, intenção de votos agora não significa nada.
Qual será o maior desafio de Aécio: enfrentar o lulismo ou Dilma no cargo?
A base do lulismo foi construída no auge do governo Lula, quando o Brasil viveu um momento muito positivo. Embora persista uma relação de muita admiração pessoal de setores da população com Lula, não há uma veneração pessoal a ele. Isso é mais forte na militância do PT. O lulismo não tem a força do chavismo. Não há aqui uma veneração como há com Chávez, na Venezuela. E isso terá mais ou menos peso, numa disputa presidencial, dependendo de Dilma manter a avaliação positiva de sua gestão.
Fonte: O Globo
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