Ocorreu sob muita expectativa, esta semana em São Paulo, o tão aguardado encontro programático entre o PSB e o Partido da irmã Marina Silva, Rede-Solidariedade, , para um acerto de discursos entre as duas legendas. Imagina-se que deve ser inadiável esse encontro, em função das enormes diferenças de princípios, prioridades e idéias entre a líder pentecostal. da Assembléia de Deus e a raposa pernambucana. Desde a reação dos confrades de Marina à sua entrada no PSB às discordâncias de altos próceres da base aliada do governador, em relação à sua candidatura à presidência da República, aguardava-se um momento de explicitação das bases desse acordo que surpreendeu a muitos. Além de terem em comum sua oposição ao governo petista, e de terem se promovido publicamente às custas do petismo, o que podem trocar entre si um e outro?
Com certeza, a contribuição do PSB a esse debate terá sido a agenda gerencial de governo, a chamada administração por metas, também conhecida pelo nome "neo-taylorismo social", fazer mais com menos, choque de gestão ou de modernidade administrativa, como queiram chamar. Vai ser gozado ver o governador ensinar a Marina como transformar a natureza, as reservas ambientais, unidades de conservação, zeis e prezeis em trunfos para a instalação desregulada de empresas montadoras internacionais ou como autorizar a instalação de grandes empreendimentos comerciais em área de mangue sem o relatório de impacto ambiental ou ainda como decapitar partido e Ongs ambientalistas, cooptando seus chefes para o governo estadual.
Certamente a ex-presidenciável tem muito a aprender com o chefe do PSB em matéria de "raposismo" ou "metaformose" política. Logo ela vai saber que o "verde" só entra, apenas, no port-fólio das empreiteiras e agências de turismo de Pernambuco. E Marina, o que apresentou ao PSB como contribuição programática? - Certamente falou de desenvolvimento sustentável, socialmente justo, economicamente equilibrado.
Que o governo do PSB transforme os chamados "Polos de desenvolvimento" em ilhas de irradiação de riqueza e emprego, beneficiando às áreas contiguas, em vez de serem meros ninchos de competitividade integrados na globalização dos mercados. Vai dizer que a preservação da natureza é um dever da nossa geração com as seguintes e que ninguém pode dispor dela como se fosse alguma coisa que estivesse "aí, grátis". Que a valorização capitalista do meio-ambiente é sinônimo de entropia e destruição. Que nenhuma modelo de crescimento econômico apoiado em mera renúncia fiscal, grandes empréstimos subsidiados e favores governamentais a empresas e negócios pode redistribuir renda. E que o pacto federativo não é uma mera figura de retórica, para ser usada em épocas de campanha eleitoral.
Na verdade, esse esperado encontro de agendas teve tudo para ser uma "embromação" de parte a parte. O lema: fazer mais e melhor deve ser traduzido como não misturar água com vinho ou como vender fumaça a eleitores incautos e desavisados.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco
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