O papa Francisco traz não apenas um exemplo de humildade, fraternidade e igualdade, mas também de senso estratégico.
Ele se dispensou de dar recados políticos na curta homilia na basílica de Aparecida e dispensou as autoridades brasileiras de lições morais em seu igualmente rápido discurso aos poderosos no Palácio da Guanabara. Limitou-se à pregação religiosa em ambas, leve, sorridente, defendendo a alegria e a esperança.
O teor político foi reservado ao ambiente laico do hospital São Francisco de Assis, no Rio, em que ratificou sua conhecida posição contrária à descriminalização das drogas e condenou os "mercadores da morte". Mas ele vinha relevando, pelo menos até ontem, eventuais pressões da ala conservadora da própria igreja e adiando outras questões espinhosas e desagregadoras.
Sua prioridade não é aprofundar divisões, é evitar evasão. Segundo o Datafolha, os brasileiros que se declaravam católicos eram 75% da população em 1994, caíram para 64% em 2007 e são 57% hoje, prenunciando que, muito em breve, serão menos da metade das pessoas no "maior país católico do mundo".
Nesse contexto, destaca-se um fato político. Quem mais se beneficiou das manifestações de junho e da implosão da popularidade de Dilma foi uma candidata evangélica: Marina Silva, um exemplo concreto a confirmar as estatísticas.
Criada no catolicismo, sua porta de entrada na militância social e na política, ela se converteu às igrejas evangélicas, das quais incorporou a linguagem, a imagem, até o gestual.
Não se sabe até que ponto a religião conta a favor ou contra a eleição de Marina, mas não deixa de ser um curioso dado de análise que, justo no tal maior país católico, a candidata que está em segundo lugar seja uma ex-católica, atual evangélica.
A grande missão do papa Francisco no Brasil é estancar a sangria. Ou seja: somar, não ajudar a subtrair.
Fonte: Folha de S. Paulo
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