• Pesquisa do IBGE que o próprio governo tentou suspender mostra forte elevação no total de trabalhadores sem ocupação no país no primeiro trimestre de 2014 ante os últimos três meses de 2013. Na comparação anual, houve queda
Bárbara Nascimento – Correio Braziliense
Após a polêmica de que ficaria suspensa até 2015, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) voltou a ser divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desocupação no país ficou em 7,1% no primeiro trimestre, ante os 6,2% registrados nos últimos três meses de 2013. Em relação a igual período de 2013, quando marcou 8%, o indicador apresentou, contudo, uma melhora.
A possibilidade de suspensão da Pnad Contínua gerou uma crise institucional no IBGE e levou à paralisação de boa parte dos servidores. À época, uma das suspeitas era de que o governo estaria receoso de um resultado negativo, tendo em vista a desaceleração da economia. O resultado da pesquisa vai na contramão dos indicadores macroeconômicos — o consumo das famílias recuou no primeiro trimestre, e setores da indústria estão dando férias coletivas — e das expectativas de especialistas.
A própria Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também divulgada pelo IBGE e que leva em conta apenas seis regiões metropolitanas, sinalizava desaceleração. As taxas mensais de desemprego para janeiro, fevereiro e março foram de 4,8%, 5,1% e 5%, respectivamente. "A atividade econômica tem desacelerado e não seria anormal se as taxas de desemprego piorassem. Se as expectativas continuarem iguais, a tendência é de que esse indicador piore. E isso pode pesar nas eleições", observou Newton Marques, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal.
Para o ministro Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, os dados são positivos e representam uma surpresa diante das estimativas. "Acho que 2014, olhando para o espelho retrovisor, foi uma cena melhor do que as contas nacionais e a própria PME sugeriam. Para frente, temos grandes desafios, mas esses dados da Pnad mostram que os desequilíbrios do mercado de trabalho foram relativizados", afirmou. "Vejo um menor gargalo do que as informações anteriores sugeriam: empregos e formalidade crescendo, estamos gerando mais e melhores empregos."
Nos três primeiros meses deste ano, 91,2 milhões de pessoas tinham alguma ocupação. De janeiro a março de 2013, esse dado foi de 89,4 milhões. O resultado piorou em relação ao último trimestre do ano passado, quando a população ocupada foi de 91,8 milhões. O total de trabalhadores com carteira assinada cresceu 1,6 ponto percentual sobre igual trimestre do ano passado, de 76,1% para 77,7%.
Excluídos
Fora desse grupo, está a estudante Amanda Assis de Andrade, 18 anos. Há dois meses, ela distribui currículo e comparece duas vezes por semana a uma agência de empregos, à espera de uma vaga. "Trabalhei com atendimento numa lanchonete no ano passado e imaginei que a experiência fosse ajudar, mas está demorando mais a aparecer outro trabalho que no ano passado", revelou.
O mesmo ocorre com Marcos Antônio Sousa e Silva, 23, que costumava trabalhar com vendas. "Está muito difícil conseguir algo, já tem três meses que não trabalho. Das outras vezes em que fiquei sem emprego, as oportunidades surgiram mais rapidamente. Deixei meu currículo em muitos lugares e nem cheguei a ser entrevistado. Não vou desistir", relatou.
Na opinião do especialista em mercado de trabalho Jorge Pinho, da Universidade de Brasília (UnB), a expectativa é de que o indicador desacelere nos próximos meses. "Se a Copa elevar a ocupação, será algo conjuntural e não estrutural. A situação não está boa. Estamos perdendo em competitividade. E o governo fica preocupado em tapar buracos, encontrar atalhos", sublinhou.
Os problemas enfrentados são de vários tipos. A piauiense Adriana de Melo Gusmão, 37, por exemplo, veio de Teresina para Brasília há quatro meses, na tentativa de encontrar emprego. "Lá, a situação está muito ruim, mas aqui também não é das melhores", avaliou. O índice de desempregados no Nordeste é o maior do país, 9,3%, enquanto no Centro-Oeste é de 5,8%. Adriana, que quer trabalhar como assistente de cozinha, até conseguir emprego no Plano Piloto, teve que recusar porque não havia ônibus que a trouxesse todo dia do Jardim ABC, na Cidade Ocidental, para o serviço.
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