Cristian Klein – Valor Econômico
SÃO PAULO - A menos de uma semana para o início da temporada de convenções, que vão sacramentar as alianças partidárias até o dia 30, os grandes movimentos dos quatro maiores partidos com vocação executiva nacional e estadual - PT, PSDB, PMDB e PSB - já estão, na prática, definidos no tabuleiro para as eleições de outubro. Todos - à exceção dos tucanos - terão mais candidatos a governador do que em 2010. Apesar da relação conturbada, PT e PMDB, sócios majoritários da coalizão no governo federal, vão reproduzir a parceria com ainda mais intensidade no plano regional, de acordo com levantamento do Valor. O apoio mútuo - que há quatro anos ocorreu em nove Estados - pode chegar a 12.
Em compensação, o projeto presidencial de Eduardo Campos levou à quase completa separação de corpos entre PSB e PT. Em 2010, as duas legendas apoiaram seus candidatos a governador em 14 unidades da Federação. A união agora ficará restrita a um ou, no máximo, dois Estados, ambos de eleitorado reduzido: o Acre e o Amapá.
O mapa das alianças mostra as prioridades dos partidos nesta eleição e, quando associada às escolhas nas últimas quatro disputas (1998, 2002, 2006, 2010), dá um panorama mais amplo, que pode surpreender. O Norte e o Nordeste - onde o PT obteve as votações mais expressivas ao eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora Dilma Rousseff - são as regiões em que a sigla mais abdica de lançar nome próprio e cede apoio a outras legendas.
Mesmo com o aumento no número de candidaturas - de dez para pelo menos 13 - o PT só terá dois candidatos no Nordeste, como em 2010. Dos nove Estados da região, em seis o PT terá cedido mais do que ocupado a cabeça de chapa nas cinco eleições desde 1998. As exceções são Sergipe - onde agora o partido apoiará o PMDB -, Piauí (terceira candidatura em cinco disputas) e Bahia, que faz parte do grupo de oito unidades da Federação há tempos priorizadas pelos petistas.
Desde 1998, além da Bahia, a legenda sempre lançou candidatos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Acre. Esse núcleo duro reúne quase 42% do eleitorado do país. Desta vez, a sigla pode abdicar de concorrer no oitavo Estado, Rondônia, com apenas 0,79% dos eleitores brasileiros.
Caso isso ocorra, reforça a mesma tendência na região Norte, onde o PT cedeu mais do que lançou nome próprio em quatro dos sete Estados. As exceções, além de Rondônia, são o Acre - bastião petista conquistado em 1998 e comandado desde então pelos irmãos Viana -, e o Pará, que agora o partido abrirá mão em favor de Helder Barbalho (PMDB), filho do senador pemedebista Jader Barbalho. Além de tentar reeleger Tião Viana, a única candidatura confirmada na região é a de Ângela Portela, em Roraima. O petistas, no entanto, ainda cogitam lançar um concorrente em Rondônia (o deputado federal Padre Ton) e Tocantins (o ex-prefeito de Porto Nacional Paulo Mourão).
O "desprezo" do PT pelas regiões onde as votações presidenciais do partido são proporcionalmente maiores reflete uma estratégia racional. Nestes Estados, a legenda concede espaço a líderes, oligarquias e partidos de perfil regional, em troca de apoio parlamentar no Congresso, ao mesmo tempo em que preserva sua influência ao projeto prioritário: a eleição ao Planalto. Nestas regiões, dependentes dos recursos da União, o presidente da República é capaz de fazer uma "ligação direta" e receber o crédito por boa parte das políticas públicas mais importantes para o cidadão.
O PSDB, o outro polo na disputa presidencial, também apresenta padrão de candidaturas semelhante nas duas regiões, sem comprometer o seu desempenho ao Planalto. No Nordeste, os tucanos têm - como o PT - dois candidatos: o senador Cássio Cunha Lima, na Paraíba, e Eduardo Tavares, em Alagoas. Há menos probabilidade de um terceiro nome, o deputado estadual Daniel Coelho, em Pernambuco. Isso ocorreria em reação a Campos, que quebrou acordo com Aécio Neves pelo qual o PSB não lançaria candidato em Minas Gerais, reduto do adversário à Presidência. O senador mineiro, no entanto, tende a relevar a decisão, de olho no apoio de Campos caso chegue ao segundo turno. Em 2010, o PSDB concorreu em apenas três Estados nordestinos: Alagoas, Ceará e Piauí.
Na região Norte, os tucanos deverão ter três candidatos (Pará, Rondônia e Acre) menos do que os cinco de quatro anos atrás.
A concessão que PT e PSDB fazem a legendas aliadas no Norte e no Nordeste reflete também o reduzido peso eleitoral da maioria dos Estados destas regiões. O PT, por exemplo, pode bater o recorde de apoios a um só partido neste ano, ao ceder em mais de sete Estados ao PMDB. No entanto, não abrirá mão de ter concorrente próprio nos seis maiores colégios eleitorais, que reúnem 60% do total de votantes do país. São Estados essenciais - as principais bases para que candidatos a governador do partido ajudem a puxar a votação para presidente.
A partir do nono maior Estado, o Pará, é que o PT cederá à constelação de caciques regionais pemedebistas. Neste ano, o PMDB poderá lançar até 20 nomes a governador, 50% a mais que em 2010. Até metade deles pode ser apoiada pelos petistas. Em contrapartida, o PMDB apoiará o PT em apenas dois Estados - Minas Gerais e Distrito Federal e, talvez, em Mato Grosso - e na reeleição de Dilma à Presidência.
Assim, apesar de tantas divergências, a união dos dois partidos parece demonstrar um casamento simbiótico: o PT atende o PMDB em sua avidez pelo poder local e os pemedebistas entendem a prioridade dos petistas ao Planalto e a necessidade de competir nos grandes colégios eleitorais.
A aproximação com o PT nos Estados, por sua vez, vem afastando o PMDB do PSDB. Embora os tucanos tendam a aderir à reeleição de Luiz Fernando Pezão, no Rio, terceiro maior Estado, os apoios mútuos entre as siglas, que foram sete em 2010, podem se reduzir a até três neste ano.
Alinhamentos estratégicos à parte, os duelos entre as quatro grandes legendas ocorrerão em até um terço dos Estados. Os mais frequentes serão entre PT e PSDB e PMDB contra PSDB. Em três unidades da Federação - São Paulo, Goiás e Rondônia - a previsão é de embate entre candidatos de todos os quatro partidos.
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